O conceito de liderança pode ser entendido como o gerenciamento da atuação de equipes em favor dos objetivos e valores organizacionais por meio da orientação e da influência sobre os indivíduos. Assim, no contexto do setor público, a atuação dos líderes é de fundamental relevância para a modernização da gestão, uma vez que ela depende sobretudo de uma mudança cultural e o corpo gerencial é em grande medida responsável inspirar padrões de comportamento e nortear prioridades.
Diante desse cenário, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE e outros organismos de diversos países, incluindo o Brasil por meio da Escola Nacional de Administração Pública - ENAP, têm concentrado esforços no estudo e no desenvolvimento de matrizes de competências essenciais para o alto desempenho de lideranças do setor público. Embora as competências listadas variem amplamente conforme o contexto de cada nação, em comum pode-se notar dois aspectos:
- Foco em soft skills: diante de avanços e mudanças recorrentes, conhecimentos e habilidades técnicas ficam rapidamente ultrapassados e não são suficientes para garantir a qualidade do trabalho desempenhado pelo líderes do setor público;
- Ênfase na inovação: tendo em vista um cenário global que apresenta desafios multifacetados e de maior complexidade, são exigidas altas doses de inovação para resolver os problemas públicos em atendimento às expectativas dos cidadãos.
Nesse sentido, a dimensão inovação recebeu especial destaque da OCDE, que publicou em 2017 o relatório denominado “Competências essenciais para a inovação no setor público”, o qual foi recentemente, em 2020, referenciado e utilizado como base para a elaboração da publicação intitulada “Liderança para um serviço público de alta performance”.
No referido documento, a OCDE definiu e explorou seis competências consideradas fundamentais para promoção da inovação no setor público, a qual deve ser capitaneada pelas altas lideranças. Vamos conhecê-las a seguir:
- Iteração: é a capacidade de desenvolver políticas, serviços e produtos de forma incremental e experimental, por meio da experimentação, de testes e da adoção de protótipos. Está relacionada com o fato de a inovação precisar ser ágil e permitir mudanças e adaptações constantes;
- Alfabetização em dados: é a capacidade de tomar decisões baseadas em dados e evidências. Para garantir maior assertividade das ações públicas, o estudo dos dados preliminar à formulação das políticas públicas e não apenas para a avaliação posterior é fundamental;
- Foco nos cidadãos: é a capacidade de compreender e considerar as reais necessidades do cidadãos para a resolução dos problemas públicos ou provisão de serviços. Na condição de agente público, o líder precisa ter em mente que a sociedade é sempre sua prioridade e seu cliente final;
- Curiosidade: é a capacidade de buscar e experimentar novas ideias ou formas de trabalhar. A inovação só se concretiza por meio do novo, portanto o líder público inovador precisa não apenas ser curioso, mas sobretudo estimular e inspirar a curiosidade em sua equipe;
- Storytelling: é a capacidade de estabelecer a comunicação e explicar mudanças de uma maneira que conquiste o apoio da organização e da equipe. O engajamento dos demais líderes e dos colaboradores em determinada inovação é fator determinante para o sucesso e institucionalização dela: é comum no setor público assistir a ideias incríveis que nunca foram para a frente por falta de apoio;
- Insurgência: é a capacidade de desafiar o status quo e trabalhar com padrões e parcerias incomuns. Para gerar inovação, o líder precisa quebrar as próprias crenças limitantes e sair da zona de conforto, estimulando as equipes a fazerem o mesmo.
Por fim, é preciso levar em consideração que tais competências, ainda que sejam fundamentais para a promulgação de ações inovadoras no setor público, não se sustentam sozinhas. Em outras palavras, para que sejam devidamente desempenhadas precisam estar acompanhas de outros atributos já amplamente abordados pelas diversas matrizes de competências elaboradas ao longo dos últimos tempos, tais como pensamento estratégico, colaboração e visão de futuro.
Ficou interessado no tema? Para saber mais, consulte a versão integral da publicação: https://www.oecd.org/media/oecdorg/satellitesites/opsi/contents/files/OECD_OPSI-core_skills_for_public_sector_innovation-201704.pdf