Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo
Fonte: https://repositorio.unb.br/handle/10482/40532
Localização da Intervenção: Brasil
Tamanho da Amostra: 17.254
Setor: Saúde
Variável de Interesse Principal: Isolamento
Tipo de Intervenção: Isolamento Social
Metodologia: Outros
Resumo
A pandemia da Covid-19 necessita da adoção de medidas de isolamento para conter a propagação do vírus. Entretanto, num país como o Brasil, com habitações precárias, tal medida pode encontrar um fator limitante para sua aplicação. Neste artigo é estudado quais elementos do bem-estar influenciam a prática do isolamento social por parte dos indivíduos brasileiros. Os resultados sugerem a presença de áreas verdes ou abertas e o conhecimento acerca da doença aumenta a probabilidade do indivíduo de praticar o isolamento social. Porém, os autores salientam que os respondentes do formulário são de um espectro da população com renda e escolaridade acima da média.
Até o surgimento das vacinas para o corona vírus, o distanciamento social era a ferramenta disponível para atenuar a propagação do vírus (Flaxman et al., 2020). Assim, dentro deste contexto diversos aspectos influenciam na adoção das medidas de isolamento, como escolaridade, renda, níveis de estresse, desinformação e até aspectos políticos (Bezerra et al., 2020; Machado et al., 2020; Ajzenman, Cavalcanti e Mata, 2020). No Brasil, as condições de habitação são precárias, o que parece ser um limitante às medidas de isolamento domiciliar. Assim, agravando os efeitos psicológicos que advém da necessidade do confinamento (Pires, 2020; Brooks et al., 2020).
Com isso, o objetivo do artigo foi testar a hipótese de quais elementos do bem-estar influenciam o comportamento dos indivíduos durante o isolamento social ocorrido na pandemia da Covid-19.
Conforme será explicado a seguir, o estudo foi elaborado através de um formulário online, assim, possui um formato de pesquisa de opinião o qual não se fez necessária a solicitação de identificação dos indivíduos respondentes ou avaliação por parte do Comitê de Ética. Ademais, os autores salientam que, em razão disso, não é possível fazer extrapolações para além dos dados coletados da população brasileira.
Para realização da pesquisa os autores elaboraram um formulário online pela plataforma Google, o qual obtiveram-se 17.254 respostas de todos os estados brasileiros. Como variável dependente, os autores utilizaram as respostas dadas pelos indivíduos para a pergunta acerca da adoção do nível de isolamento, sendo assim:
As variáveis de controle são: área verde ou aberta, atividade física, variação nas horas de sono, indivíduos idosos, sexo e se acredita que o isolamento reduz o número de vítimas. Tirando a variável de sono, que possui três opções de resposta (dorme menos horas, dorme mais horas e não houve alteração das horas de sono), as outras variáveis todas são variáveis binárias.
A maioria dos respondentes são mulheres com uma faixa de renda entre 2 e 5 salários-mínimos (31,16%). Dos que responderam, em torno da metade possuem pós-graduação, enquanto 9,32% só possuem o ensino fundamental. Em relação ao nível de isolamento, as respostas variaram em: 11,2% não estão realizando o isolamento, 57,2% estão realizando o isolamento parcial e 31,4$ estão praticando o isolamento total. Ademais, importante salientar que 56% dos idosos estão praticando o isolamento total.
Foi utilizado uma regressão logística multinominal para estimar os efeitos marginais visto que este modelo permite o uso de variáveis dependentes que assumam mais de duas categorias, que é o caso desta variável dependente, conforme explicitado anteriormente. Com este modelo, obtém-se a probabilidade de que um indivíduo esteja em determinada categoria “j”.
Os resultados demonstram que a variável “idoso” apresenta maior magnitude no aumento da probabilidade de o indivíduo estar em isolamento total, o que é justificado como consequência prévia de que há maior risco de morte em pessoas idosas que contraem o corona vírus. As estimações também sugerem que os homens têm menor probabilidade de estar isolado e que o fato de a pessoa acreditar que o isolamento social ajuda a reduzir o número de vítimas da Covid-19 aumenta em 0,15 pontos percentuais a probabilidade de o indivíduo praticar o isolamento total. Essa crença talvez esteja relacionada com o temor com sua própria saúde, assim como, o medo de infectar outras pessoas. No qual as decisões de isolamento social portanto possuem avaliações de custo e benefícios do ponto de vista individual e da sociedade (Brooks et al., 2020; Bavel et al., 2020).
Em relação à área verde, os resultados demonstram que a presença desse espaço em sua residência representa um aumento na probabilidade de o indivíduo praticar o isolamento total. E aqueles indivíduos que praticam atividade física também apresentaram uma maior probabilidade de isolamento total. Os indivíduos que têm dormido mais horas apresentaram 0,017 pontos percentuais a mais de probabilidade de praticarem isolamento total em comparação com aqueles que não tiveram nenhuma variação na quantidade de horas e sono.
A variável área verde corrobora a relação entre qualidade da habitação e bem-estar, em que as características do espaço de convivência (temperaturas, qualidade da água e ar, limpeza, por exemplo) influenciam o bem-estar durante o isolamento social. Assim, os resultados sugerem que o acesso às áreas verdes ou abertas nas residências pode ser um atenuante aos desconfortos do isolamento social.
Os resultados sugerem que as variáveis relacionadas ao bem-estar e conhecimento acerca dos riscos do covid-19 influenciam na prática de isolamento social. Entretanto, os autores salientam que esses dados se referem à uma parte da população com condições de renda e escolaridade mais elevados que a média nacional, o que, portanto, sugere a necessidade de uma análise complementar para conjuntos populacionais distintos. Porém, é o primeiro sinal de que se faz necessário levar em conta os fatores de bem-estar domiciliar ao desenvolver estratégias para enfrentar a pandemia.
Referência
Influência das condições de bem-estar domiciliar na prática do isolamento social durante a Pandemia da Covid-19. Journal of Health & Biological Sciences, v. 8, n. 1, p. 1-7, 2020.