“Exu matou um pássaro ontem com um pedra que só jogou hoje”. É com este ditado Iorubá que Emicida abre AmarELO: É tudo pra ontem. O filme é muito mais que um documentário sobre os processos criativos e vida do rapper, é uma grande vitrine de todo o protagonismo negro na história do Brasil.
Um roteiro construído de uma forma que flui com naturalidade e já no começo mostra a que veio: trazer o senso de pertencimento e importância de toda a população negra do Brasil. O cantor deixa isso evidente ao explicar a escolha do Teatro Municipal como palco para o show do álbum AmarELO.
É uma escolha que chega para mostrar que, a partir de agora, negros e negras poderão, sim, ocupar o espaço que há muito nos foi negado. Fruto da luta de vários que vieram antes como os integrantes do Movimento Negro Unificado que, durante a ditadura militar brasileira, protagonizaram uma grande manifestação contra o racismo na frente do teatro.
Um trabalho muito bem construído com composições que falam sobre a realidade da população preta brasileira. O filme emociona a quem vê, mesmo que não seja uma pessoa fã de rap, porque o cantor tem uma sensibilidade que toca a qualquer um, principalmente no trecho em que a música destaque é Ismália.
Uma música que fala sobre a evidente falta de valor da vida negra no país que mais mata negros no mundo. Com o trecho “Nega o deus deles, ofende, separa eles”, Emicida mostra para todos o quanto tentaram e tentam enfraquecer a população preta. Porém, ao trazer um álbum cheio de outros nomes que lutam por igualdade no Brasil e mostrar tantos outros que travaram batalhas para um mundo mais igualitário, o rapper chega também com uma mensagem muito importante: juntos somos muito mais fortes!
Ao falar da composição da canção que dá o título ao álbum, o rapper conta que de nada importa se ele escolher apenas uma luta, sendo que existem outras minorias que também sofrem. Todo o conceito do filme e do álbum gira em torno da construção de um elo que chega para mostrar que devemos nos empoderar e nos unir.
Quando Emicida fala que quer “usar a força do AMAR para construir esse ELO” nos entrega todo o conceito do nascimento de um grande produto da música brasileira. Então, se você ainda não ouviu AmarELO, por favor, ouça! E aproveita o embalo para assistir também o documentário AmarELO: É tudo pra ontem. Tenho certeza de que a experiência será ótima e também muito enriquecedora.