O surto da pandemia resultou em uma crise econômica e financeira não testemunhada desde o período da Grande Depressão (1929-1929) que alastrou discussões políticas diversas sobre a utilidade social das medidas de lockdown. Os dados mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram que os países que adotaram medidas mais flexíveis do lockdown tiveram quedas mais severas do PIB em 2020 - em comparação a países que adotaram medidas Zero Covid. Neste mesmo contexto, os países emergentes e de baixa renda também tiveram quedas elevadas do PIB em comparação às economias avançadas. Desta forma, os dados mostram que as medidas de lockdown foram eficientes para uma recuperação econômica mais rápida e uma melhor preservação da saúde pública em um contexto geral.
A saúde ou a economia?
Philippe et. al (2021) afirmam que as medidas rígidas do lockdown protegem as pessoas e a economia de forma mais eficiente. De acordo com os autores, os países que adotaram estratégias mais rígidas na contenção do vírus experimentaram um declínio econômico menos severo em comparação aos países que permitiram que o vírus se alastrasse ao ponto de colapso dos seus sistemas de saúde durante o ano de 2020. A tabela ao lado demonstra a performance de países que adotaram medidas rígidas de lockdown (Zero Covid) e países que adotaram Estratégias mais flexíveis.
Figura 1. Variação do PIB trimestral em relação ao mesmo período do ano anterior (%)
Nesse contexto, os autores apontam que os países que adotaram a estratégia Zero Covid tiveram efeitos econômicos positivos. O PIB dos países Zero Covid teve uma queda ligeira de 1,2% em relação a 2019, enquanto neste mesmo período, a queda do PIB entre os países com medidas flexíveis foi maior em 3,3%. Segundo os autores, houve também uma recuperação mais rápida na mobilidade comercial entre os países Zero Covid. Os autores apontam, que os dados de mobilidade do Google mostram que o tráfego de pessoas em zonas comerciais caiu menos em países que aplicaram a estratégia Zero Covid. Durante o 2º trimestre de 2020, houve uma queda de 14% dos países Zero Covid em comparação a 36% de países flexíveis. Os dados também apontam que o tráfego em zonas de lazer, cultura e hospedagem tiveram uma queda de 14% entre janeiro e fevereiro de 2021 nos países Zero Covid, enquanto os países com estratégias flexíveis tiveram uma queda de 35%.
Nesse sentido, os estudos de Philippe et. al (2021) apontam que os países que afrouxaram prematuramente as medidas de lockdown, penalizaram o curso de suas sociedades e economias ao longo de 2020. Segundo os autores, este é um fator problemático para a condução de negócios para empresas dependem de uma interação social significativa (restaurantes, hotéis e setores de cultura, lazer e recreação), que não operam normalmente há meses. Desta maneira, a contenção social mais severa proporciona uma proteção sanitária melhor para a população e traz um aquecimento mais rápido para a economia.
Grupos mais atingidos e economias avançadas
Apesar de instigante, a análise de Philippe et. al (2021) apenas capturou os efeitos das estratégias sanitárias feito pelas economias avançadas. Deste modo, os resultados apresentados pelo FMI (2021) completam as premissas dos autores, demonstrando que países emergentes como o Brasil, tiveram a maior queda do PIB per capita em 2020. Este efeito pode ser observado no gráfico a baixo, no qual as Economias Emergentes (EE) como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, apresentara a maior queda entre os grupos de países compilados pelo FMI.
Figura 2. Grupos de países mais atingidos
Porém, os países emergentes não foram os únicos que demonstraram quedas súbitas do PIB ao decorrer de 2020. A queda do PIB per capita também afetou economias avançadas como os países membros da União Europeia (EU) e do Grupo dos sete (G7) que apresentaram quedas súbitas durante o 1º trimestre de 2020. Apesar da forte recuperação durante o 2º trimestre de 2020, o 3º trimestre apresentou um crescimento pequeno para o G7 e um crescimento negativo para a EU. Os dados para o 4º trimestre de 2020 ainda não foram divulgados pelas fontes oficiais como o FMI e a OCDE. Todavia, é esperado um aquecimento maior das economias desenvolvidas durante o 4º trimestre de 2020 em comparação ao 3º trimestre. Este fator é estimado por conta da distribuição eficaz das vacinas do Covid-19 nas economias avançadas.
Figura 3. Comparativo crescimento PIB Per Capita (%) – EU e G7.
Considerações Finais
Os dados do FMI e OCDE, assim como os estudos de Philippe et. al (2021), afirmam que as medidas de lockdown não foram prejudiciais para a economia durante 2020. Os países que adotaram medidas mais restritas no início da crise sanitária (como o caso da Australia, Coréia do Sul e Nova Zelândia) apresentaram quedas do PIB menos severas em comparação aos países que relaxaram as medidas de contenção social. As medidas Zero Covid principalmente beneficiaram um rebote mais rápido na economia real, com o aumento da mobilidade social nas atividades comerciais e recreativas. Deste modo, podemos afirmar que as medidas de lockdown mais rígidas resultam em uma recuperação mais rápida do nível de atividade econômica. Todavia, os resultados apresentados são apenas comparativos e não é possível afirmar se existem correlações estatísticas entre o crescimento do PIB e estratégias Zero Covid. Fatores importantes também são ignorados neste tipo de análise, um deles é sobre os diferentes padrões de organização social-urbana e o tamanho populacional entre diferentes países. Por exemplo, as estratégias de lockdown em países desenvolvidos com uma população pequena como o caso da Nova Zelândia; não funciona da mesma maneira em comparação a países com uma densidade populacional grande como o Brasil ou a Índia. Também, os níveis de educação e desigualdade social desempenham um papel importante no comportamento social em momentos de crise. Deste modo, devemos enfatizar que este artigo é apenas uma breve investigação para estimular o debate público para que a sociedade e os governos possam buscar soluções mais robustas e aceleradas para conter a pandemia.