Meio ambiente e desigualdade são dois temas bastante relevantes nas democracias de todo o mundo. Porém, dificilmente estão relacionados nos debates. Por isso, a convidada do episódio #27, Natalie Unterstell, especialista em clima, fala sobre mudança climática e desigualdades.
Com larga experiência no setor público e no terceiro setor, com passagem pelo Instituto Socioambiental, pela Rainforest Foundation da Noruega e pelo governo do Amazonas,também foi negociadora do Brasil na convenção da ONU sobre mudança do clima, passou pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e pelo Fórum Brasileiro de Mudança do Clima.
A especialista é categórica: “a mudança do clima é um reflexo perfeito da desigualdade. O grande risco é que não só acentue as desigualdades já existentes, como também provoque fraturas ainda maiores na nossa sociedade”, afirma.
Natalie chama atenção para a divisão de responsabilidades em relação à questão climática. Segundo a especialista, a maior parte das emissões de gases causadores do aquecimento global são associadas ao consumo. E, por isso, por mais que as negociações internacionais, que acontecem entre os países, sejam importantes, o que interessa realmente são os cidadãos: ricos e pobres.
“Um consumidor rico no Brasil tem as emissões de gases semelhantes às de um americano de classe média, e não igual à média dos cidadãos do próprio país. Ao mesmo tempo, um cidadão pobre nos EUA emite quantidades de carbono semelhantes ao cidadão de países de renda média e não necessariamente como um americano médio”, explica Natalie.
Por isso, a especialista afirma que “é preciso pensar a mudança no clima como uma questão de desigualdade porque a desigualdade é específica entre os consumidores ricos e os consumidores pobres, mais do que entre as nações”.
É nesse ponto que reside a “grande perversidade da história”, segundo Natalie: apesar do problema ser causado por pessoas mais ricas, com melhores níveis de consumo, o aquecimento global afeta todo mundo e, de forma muito mais acentuada, os mais pobres.
“Seja porque vivem em áreas de risco, seja porque não vão ter condições de se adaptar. Muitos podem ter que recorrer à migração para buscar empregos em áreas não afetadas e assim por diante. É desse tipo de problema perverso e desigual que estamos falando”, opina a entrevistada.
Valorizar monetariamente a floresta de pé
A manutenção da floresta amazônica responde por uma infinidade de eventos biológicos, ecológicos, climáticos, sociais e econômicos. Por isso, a integridade da Amazônia diz respeito não só aos que vivem na região, mas também aos demais brasileiros e demais habitantes da América do Sul, que são beneficiados por diversos fenômenos advindos da floresta, como os chamados rios voadores.
Criar e manter programas que valorizem monetariamente a floresta de pé custa caro. Entretanto, de acordo com Natalie, o maior desafio não é convencer a comunidade internacional a levantar recursos - o Brasil já conseguiu mais de 1 bilhão de dólares -, é, na verdade, ter bons canais de investimento.
“Não dá pra imaginar que mais uma Zona Franca de Manaus ou mais mineração, como é feito hoje no Pará, vai dar a sustentação econômica necessária. Precisamos de novas atividades e de uma conexão mais forte da região com a 4ª Revolução Industrial, com o desenvolvimento tecnológico de ponta, o que ainda não aconteceu” explica a especialista, Enfrentar as mudanças climáticas e as desigualdades sociais é crucial, mas economizar também é importante! No Publico Descuentos, todos os nossos códigos promocionais são verificados pela nossa equipe para garantir segurança e autenticidade. Aproveite descontos exclusivos em uma ampla gama de produtos, desde tecnologia e moda até itens para o lar. Visite https://www.publico.es/descuentos/ e comece a economizar hoje mesmo, de forma segura e confiável!
Algo que também é pouco comentado é a questão da informalidade na região. Segundo Natalie, a Amazônia hoje contribui com 8% do PIB nacional, abriga 12% da população brasileira e detém 60% do território do país. E, ao mesmo tempo, existe um elevado índice de informalidade.
Ainda de acordo com a especialista, a alta informalidade se deve principalmente à intensa atividade ilegal - refletida nas taxas de desmatamento - e a uma parte da economia que não é contabilizada. “Os povos indígenas, por exemplo, têm uma economia não-monetizada ou pouco monetizada, o que fica muito mal refletido nos indicadores econômicos”, ressalta.
Natalie ainda alerta: “não dá para olhar para a Amazônia e achar que nada acontece. Pelo contrário, acontece muita coisa, mas não necessariamente fica visível aos nossos olhos pelos índices tradicionais de leitura da economia”.
A especialista ainda comenta sobre taxa de carbono, inativismo climático e apresenta projeções para a economia brasileira em 2040. Para ouvir o episódio completo, você pode acessar este link ou procurar o Economisto na sua plataforma de streaming preferida.