Dentre a imensa amplitude de temas que as ciências econômicas estudam, o mais sensível deles com certeza é a inflação, ao menos para os brasileiros. Não precisamos nos esforçar muito para descobrirmos o porquê disto, basta conversarmos com quem possui mais de quarenta anos de idade e ouviremos relatos tenebrosos do desespero das pessoas correndo aos supermercados após recebem seus pagamentos.
Isso acontecia visando garantir o poder de compra dos seus recebíveis - conseguir comprar o maior número possível de bens com dinheiro que possuía - antes que os preços fossem ajustados pelo "etiquetador" dos estabelecimentos. Com a inflação no Brasil atingindo incríveis 2500% ao ano em 1993, todo esse receio dos brasileiros é justificado, afinal, fazem só 28 anos.
Considerando dados do IBGE, a inflação calculada para famílias que recebem até 40 salários mínimos (IPCA) foi de 2,04% no primeiro trimestre de 2021, com o acumulado dos últimos doze meses estando em 6,10%. A inflação calculada para famílias que ganham até 5 salários mínimos (INPC) foi de 1,96% nesses primeiros 3 meses, com o acumulado nos últimos 12 meses de 6,94%.
A inflação dos alimentos medida para essas famílias que ganham até 5 salários mínimos (INPC) no primeiro trimestre de 2021 foi de 1,25%, com ela acumulada nos últimos 12 meses estando em 15%.
Essa diferença nos cálculos da inflação por nível de renda se deve às famílias que possuem menor poder aquisitivo gastarem proporções maiores de sua renda com produtos básicos como alimentação, moradia e transporte. Isso tem relação com o fato de termos um INPC maior que o IPCA no acumulado de 12 meses, e menor para o primeiro trimestre de 2021.
A explicação para tal discrepância envolve uma desaceleração no aumento dos preços dos alimentos neste ano, algo esperado para primeiros trimestres. Mas porque então as pessoas seguem tão preocupadas com o preço dos alimentos?
É porque seguimos impactados com a grande subida desses preços no ano passado, ocasionada pela desvalorização do real frente ao dólar - o que faz aumentar as exportações das commodities brasileiras, reduzindo a oferta interna - somada a uma diminuição das atividades dos setores de transformação internos e externos - por conta das restrições sanitárias que reduziram sua oferta - e do auxílio emergencial, que deu um fôlego para o poder de compra das pessoas afetadas economicamente pela pandemia e ocasionou um aumento de demanda na economia.
Por fim, considerando um exemplo que ouvi na última semana em que uma pessoa percebeu o aumento dos preços do óleo de soja e da massa, ocorrido principalmente por um aumento nas exportações de soja e de trigo, insumos para produção dos produtos em questão. As cotações da soja subiram cerca de 80% em 2020, enquanto o trigo subiu cerca de 40%. No primeiro trimestre de 2021, a soja obteve um aumento de cerca de 13% e o trigo de 5%.
Outro alimento importante e que impacta demasiadamente na cesta alimentar dos brasileiros é a carne. Os preços de carne bovina cresceram cerca de 25% em 2020 e nos três primeiros meses de 2021 aumentaram cerca de 10%. Somente para a China, as exportações de carne bovina em março de 2021 cresceram 8% comparado ao montante exportado em março de 2020, por exemplo.
E claro, não poderíamos deixar de ser citar o – considerado por muitos – alimento essencial na mesa do brasileiro: o arroz. O nosso preferido vivenciou um crescimento de cerca de 110% nos seus preços em 2020, enquanto no primeiro trimestre de 2021 verificou-se uma queda próxima de 7%. Importante ressaltar que as considerações feitas sobre soja, trigo, carne bovina e arroz se referem aos preços desses produtos como insumos básicos, não os verificados nas prateleiras do comércio varejista.
Para os outros três trimestres de 2021, precisamos aguardar os próximos capítulos deste enredo. O novo auxílio emergencial, mesmo sendo menor, irá pressionar a inflação nos próximos meses, ainda que em uma amplitude menor, assim como o próprio será inferior ao auxílio emergencial concedido em 2020. Com a retomada da economia, após uma diminuição drástica dos contágios por Covid-19, teremos um aumento de oferta na mesma, de modo a convergir para o equilíbrio entre oferta e demanda. Ponto importante, e que nunca deve ser preterido quando falamos sobre condições macroeconômicas, é a aprovação das chamadas reformas estruturais que irão tornar a economia brasileira mais produtiva e, por consequência, teremos o real menos desvalorizado, fazendo com que tenhamos uma diminuição na inflação dos alimentos.