No episódio #30 do podcast Economisto, o professor do IDP e apresentador Pedro Fernando Nery, recebe a jornalista Cecília Olliveira, fundadora e diretora do Fogo Cruzado, ex-editora contribuinte do Intercept Brasil e professora na Pós-Graduação em Jornalismo Investigativo do IDP para falar sobre segurança pública, violência e sua dimensão racial.
A desigualdade da morte
O mapa da desigualdade de São Paulo, mostra que a idade média que os brasileiros morrem é bem mais baixa em bairros mais pobres. Parte importante da explicação passa pela mortalidade maior de homens jovens negros, devido a causas violentas.
“Os brasileiros não morrem do mesmo jeito e o motivo disso é que os brasileiros não costumam resolver os problemas e jogar tudo para debaixo do tapete”, explica Cecilia. A desigualdade é histórica no país, com raízes na “invasão do Brasil”, pois desde a “libertação” das pessoas escravizadas o país vivendo de falácia em falácia. O brasileiro inventou o conceito de “democracia racial” ao mesmo tempo em que foi previsto em leis o acesso prioritário de pessoas brancas as escolas.
A constituição de 1984 garantia o ensino primário gratuito, mas determinava “estimular a educação eugênica”. O governo desde antes, apostava no “aperfeiçoamento da raça”. A história do Brasil mostra que, inclusive em discursos de deputados, o plano era deixar o país mais claro em alguns anos. A ideia era não ter uma população tão escura e, assim, vários mecanismos foram usados para que existisse uma população menos miscigenada possível.
Várias leis e decretos foram estabelecidos para controlar e a regulação da vida de pessoas negras nas cidades. Foram colocadas barreiras para insurreição, protestos, revoltas. As pessoas que foram libertas e que encabeçavam levantes, eram punidas.
As leis seguintes foram revalidando mecanismos para continuar com as pessoas negras sob controle. O decreto nº145, de 11 de junho de 1893, determinava a prisão de “mendigos”, “desordeiros”, “vagabundos”, “vadios” e “capoeiros”, nome dados a categoria de pessoas. A lei de drogas, do ano 2000, reitera a ideia racista de manter as pessoas sob controle.
Políticas de Segurança Pública
Políticas de Segurança Pública
As políticas de segurança pública são baseadas em políticas racistas e que não há como descolar a realidade de um sistema que se escora no racismo, segundo Cecília.
A jornalista explica que o racismo é estrutural, uma construção social, de forma involuntária. São conceitos absorvidos e não uma decisão individual.
Cecília relata que em 2020, 22 crianças foram baleadas no Grande Rio e 8 delas morreram. Isso acontece em áreas isoladas e com pessoas de cores de pessoas que não são do convívio e que não estão no cotidiano de muitas pessoas. A necessidade de que esses números sejam relatados é extremamente importante, pois por trás destes números existem histórias e famílias destruídas e é necessário políticas para evitar que isso aconteça.
Para Cecília, a segurança cai no colo daqueles que caem a segurança como “bandido bom é bandido morto” e acredita que algumas leis precisam ser revistas, até porque muitas delas são base para o racismo estrutural, mas, mais do que isso, Cecília enfatiza a necessidade de educação antirracista. “É necessário enxergar as pessoas como iguais. Deixar de lado as mentiras que nos sãos convenientes, os contos de fada”, diz Cecília.
O liberalismo no Brasil
“O contato do liberalismo com a vida real parece me muito distante, bem acadêmico e longe de onde a vida acontece”, comenta Cecília. O cerne das liberdades individuais, no liberalismo brasileiro, não é 100%, pois ainda existem pessoas que se posicionam como “liberal na economia e conservador nos costumes”. O Brasil é um país bastante complexo e, por isso, são necessários estudos e soluções locais para problemas locais.
A base da economia é feita por pessoas negras, desde quando elas eram vistas como mercadorias e hoje, no Brasil, ainda existem regras legais ou não que impedem que as pessoas negras ascendem social e economicamente e que, ao mesmo tempo, facilitam que elas sejam encarceradas.
Para ouvir o podcast na íntegra, clique aqui ou acesse a sua plataforma preferida de podcasts.