Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo
Autores: Jason Abaluck, Mauricio Caceres Bravo, Peter Hull, Amanda Starc
Localização da Intervenção: Estados Unidos
Tamanho da Amostra: 186.603.694 beneficiários-anos
Setor: Saúde
Variável de Interesse Principal: Mortalidade
Tipo de Intervenção: Diferenciação entre planos de saúde
Metodologia: OLS e IV
Resumo
A qualidade de um produto é um ponto importante na hora do consumidor tomar suas decisões e, sabendo disso, os formuladores de políticas preocupam-se em informar melhor os consumidores. O objetivo deste artigo era estimar os efeitos de diferentes planos de seguro de saúde privados na mortalidade, investigando porque alguns planos possuem melhor qualidade. Ademais, há uma importante avaliação da demanda do consumidor e a respos aos efeitos de mortalidade. Utilizando as metodologias de OLS e IV, os autores demonstraram que pode haver benefícios em direcionar os consumidores para utilizar planos de mortalidade observacional mais baixos.
A qualidade de um produto é um ponto importante para o consumidor tomar suas decisões e investimentos. Se os consumidores não podem determinar se certos planos têm maior probabilidade de melhorar sua saúde, é improvável que a concorrência incentive as seguradoras a investirem em qualidade. Para informar melhor os consumidores, os formuladores de políticas disseminam o fornecedor e planejam medidas de qualidade. Mas há poucas evidências de quão bem as medidas de qualidade existentes preveem os impactos causais, muito menos se os consumidores estão atentos às diferenças de qualidade entre planos.
O objetivo deste artigo era estimar os efeitos de diferentes planos de seguro de saúde privados na mortalidade, investigando porque alguns planos possuem melhor qualidade e avaliando se a demanda do consumidor responde aos efeitos da mortalidade dos planos.
A análise foi realizada observando o mercado do Medicare Advantage (MA), o qual os beneficiários escolhem entre uma ampla gama de planos privados de assistência gerenciada que são subsidiados pelo governo. O Programa MA é grande e crescente, cobrindo mais de um terço dos beneficiários do Medicare (KFF, 2019). Ademais, importante salientar que a mortalidade anual na população idosa beneficiária do MA é alta, uma taxa de 4,7%.
O programa Medicare foi criado em 1965 para fornecer cobertura de seguro para americanos com 65 anos ou mais. Em que as partes A e B do programa são chamadas de “Tradicional Medicare” (TM) e abrange hospitalizações e serviços médicos para a maioria dos beneficiários. A “Medicare Advantage” (MA) possui uma grande e crescente parcela dos beneficiários que optaram por ter cobertura por meio de um conjunto de diversos planos de assistência médica privada. Os beneficiários do Medicare precisam escolher entre TM e MA nos seus locais de trabalho, em que planos de MA devem fornecer todos os benefícios obrigatórios do seguro da TM em troca de um pagamento mensal.
Os planos competitivos podem cobrar prêmios mais baixos ou oferecer benefícios suplementares para atrair certos consumidores. Em que planos de MA tendem a variar significativamente em suas redes de seguros, oferecendo uma cobertura financeira mais generosa ou melhor compartilhamento de custos.
O programa MA tem historicamente dois objetivos conflituosos: expandir a escolha do consumidor e reduzir os custos Medicare (Comission, 2001, 1998). Porém, mesmo que os formuladores de políticas reconheçam a necessidade de os beneficiários de seguro-saúde tomarem decisões informadas no mercado, o que é menos discutido é o papel da concorrência entre os planos de MA no aumento da qualidade do produto.
As classificações de qualidade do plano público existem desde 1999, com rankings de qualidade atuais, as famosas estrelas de classificação. Essas estrelas começaram a desempenhar um papel importante na produção de políticas com a Lei de Assistência Acessível de 2009[1], que fornece bônus de pagamentos para planos de MA de alto escalão. Ao contrário de outros programas, os planos de MA não são classificados atualmente ou recompensados por alcançar baixas taxas de mortalidade por inscrição.
Foram utilizados dados sobre os beneficiários do Medicare com 65 anos ou mais em um dos 50 estados dos EUA ou do distrito de Columbia de 2006 a 2011. A amostra consiste em 186.603.694 beneficiários-anos com informações de matrículas, dados demográficos e mortalidade. Já para a análise pelo método de variável instrumental, os autores restringem a amostra para o período 2008-2011, com beneficiários que terminaram no ano anterior em um plano de MA.
A análise inicial é a computação das diferenças observacionais nas taxas de mortalidade entre planos Medicare operando no mesmo condado, através de regressões de mínimos quadrados ordinários (OLS). Após, os autores utilizam a abordagem de variáveis instrumentais, utilizando as rescisões do plano para medir a validade das diferenças de mortalidade observacional na previsão de diferenças nos efeitos de mortalidade do plano causal. Com essa abordagem, é possível estimar o impacto esperado na mortalidade da realocação de beneficiários em diferentes planos.
Os autores também estimaram até que ponto os planos de maior qualidade tendem a atrair uma maior participação de mercado. Através de uma extensão adicional da estrutura IV, foi estimado o peso implícito que os consumidos colocam nos efeitos de mortalidade do plano e estimam a disposição implícita de pagar pela qualidade do plano. Assim, foi possível estimar a demanda latente a partir da participação de mercado de um plano depois de contabilizar as diferenças de preços e, através da estrutura do IV utilizado neste artigo, foi possível relacionar a demanda com a qualidade do plano não observada e recuperar a disposição implícita de pagar dessa relação.
Os resultados demonstrados pelas estimações a partir do OLS mostram que os beneficiários inscritos em planos de alta ou baixa mortalidade que são encerrados no ano t-1 tendem a escolher planos no ano t que são mais típicos em termos de mortalidade observacional, em relação aos beneficiários mais inerciais em planos não encerrados.
Ao analisar a mortalidade média prevista entre planos encerrados e não encerrados em diferentes decis de mortalidade, os resultados do 1º estágio demonstraram que não há uma tendência diferencial na mortalidade prevista para planos encerrados em comparação aos não encerrados. Portanto, segundo os autores, seria improvável que qualquer tendência diferencial na mortalidade real dos beneficiários em planos encerrados versus não encerrados se deva a diferenças preexistentes em sua saúde.
A mortalidade observacional defasada prevê fortemente a mortalidade subsequente de beneficiários previamente inscritos em planos não encerrados, mas essa relação é efetivamente plana para beneficiários previamente inscritos em planos encerrados. Ou seja, beneficiários em planos encerrados de alta e baixa mortalidade parecem semelhantes aos de planos não encerrados correspondentes até que sejam induzidos por rescisões a escolher mais planos médios.
Examinados em conjunto, os resultados obtidos sugerem que uma grande proporção da considerável variação na mortalidade observacional entre os planos da MA reflete o impacto causal da inscrição no plano. Em que os autores ressaltam que os achados não descartam o viés de seleção na mortalidade observacional, por exemplo, pode-se esperar que beneficiários mais doentes (não-observados) prefiram sistematicamente determinados planos com maior cobertura.
Ao analisar a demanda por planos de maior qualidade, os autores estimaram um limite superior da disposição implícita de pagar que variava entre 275 a 476 dólares, ou seja, os consumidores estão dispostos a pagar não mais do que esse valor para compensar um aumento de 1 ponto percentual na mortalidade em 1 ano.
Neste artigo os autores demonstraram, através de uma metodologia robusta, que os efeitos da mortalidade são críticos para avaliar as escolhas do consumidor, não observando apenas as consequências financeiras, mas sim a qualidade do plano. Ademais, as descobertas sugerem, de acordo com os autores, que planos com prêmios mais altos, com cobertura de medicamentos mais generosa e gastos mais altos tendem a reduzir a mortalidade do consumidor.
Portanto, os resultados demonstram que pode haver grandes benefícios em direcionar os consumidores para utilizar planos de mortalidade observacional mais baixos. Além disso, sugerem que as seguradoras enfrentam incentivos fracos para investir na melhoria da saúde do consumidor, o que poderia ser fortalecido por novas formas contratuais ou organizacionais.
Referências
KFF (2019). A dozen facts about Medicare Advantage in 2019. https://www.kff.org/medicare/
issue-brief/a-dozen-facts-about-medicare-advantage-in-2019/. Accessed: 2021-03-05.
[1] 2009 Affordable Care Act