Pesquisador responsável: Bruno Benevit
Título original: The Aggregate Productivity Effects of Internal Migration: Evidence from Indonesia
Autores: Gharad Bryan e Melanie Morten
Localização da Intervenção: Estados Unidos
Tamanho da Amostra: 2.481.000 homens
Setor: Trabalho
Variável de Interesse Principal: Salário
Tipo de Intervenção: Custo migração
Metodologia: OLS, PPML
Em países em desenvolvimento, evidências recentes indicam que a maior facilidade de migração interna tem o potencial de elevar a produtividade. O objetivo deste estudo foi verificar como a redução de custos de migração interna na Indonésia impactam a produtividade agregada na Indonésia, além de verificar como a presença ou ausência de comodidades afeta o salário médio da população no local de destino. Apresentando um modelo de equilíbrio geral e utilizando diversas metodologias econométricas, os autores identificaram que a eliminação de barreiras aumenta a produtividade e que a ausência de amenidades no destino é compensada por salários maiores.
Diversos economistas procuram identificar como a migração interna pode afetar as decisões no mercado de trabalho. Em países em desenvolvimento, especificamente, estudos recentes sugerem que a maior facilidade de migração interna tem o potencial de elevar a produtividade. Embora existam evidências de efeitos positivos da ocorrência de migrações sazonais no consumo (Bryan, Chowdhury e Mobarak, 2014), o impacto agregado dos custos de migração interna sobre os salários envolve um processo decisório distinto (Bryan e Morten, 2019).
Segundo os autores, ao considerar a migração de uma localidade para outra, os indivíduos comparam não somente a perspectiva de rendimentos entre o local original e destino considerado, mas também os custos de migração e as comodidades que ambos locais dispõe. Nesse sentido, os indivíduos optam por migrar somente se os seus ganhos crescerem suficientemente para compensar os custos dessa migração. A redução desse tipo de barreira tem o potencial de aprimorar a disposição dos trabalhadores entre diferentes regiões de acordo com as suas habilidades (Bryan e Morten, 2019).
A migração na Indonésia é predominantemente caracterizada por um único episódio de migração permanente na idade adulta. Entre os chefes de família do sexo masculino indonésios que se mudam para fora de sua província de nascimento, 69% fazem apenas uma migração, 26% fazem duas, e apenas 5% fazem três ou mais movimentos. Apenas 8% das migrações envolvem pessoas com menos de 16 anos, e metade das segundas migrações são feitas por pessoas que retornam para casa. Esses padrões são comparáveis aos observados nos Estados Unidos, onde a média de mudanças de localização para homens migrantes é de 1,98 e 50,2% deles retornam à sua cidade natal.
Os autores apresentaram cinco fatos estilizados para compreender como os salários agregados estão associados ao local dos trabalhadores. Os mecanismos elucidados por esses fatos motivacionais realçam a influência da distância na migração, seu impacto na produtividade e a relação entre salários e comodidades locais. Conjuntamente, os cinco fatos sugerem que aumentar a mobilidade da força de trabalho pode resultar em ganhos de produtividade.
Esse estudo utilizou microdados da Indonésia e dos Estados Unidos. Os dados da Indonésia provêm da Pesquisa de População Intercensal (SUPAS) e da Pesquisa Socioeconômica Nacional (SUSENAS) de 2011 e 2012. Esse conjunto de dados abrange informações de trabalhadores formais como local de nascimento, local de trabalho atual e renda mensal. Para verificar os efeitos considerando a presença de trabalhadores autônomos, o estudo complementou os dados do SUPAS/SUSENAS com informações detalhadas do Indonesia Family Life Survey (IFLS), que cobre um período mais longo e inclui informações sobre autônomos. Nos EUA, os dados são provenientes do censo de 1990 e da Pesquisa da Comunidade Americana de 2010. Para obter as medidas de comodidade dos locais na Indonésia, foram utilizados os dados do Village Potential Statistics (PODES). Com o intuito de observar como as migrações motivadas por emprego são afetadas, os autores restringiram as amostras finais para chefes de família masculinos entre 15 e 65 anos.
Para explicar como os custos de migração e de amenidades afetam a produtividade, os autores formalizaram cinco fatos estilizados associados à relação entre o local de origem e de destino da migração. O primeiro fato estabelece que a proporção de pessoas que migram para determinado local diminui na medida em que a distância aumenta. O segundo fato estipula que o salário médio das pessoas que migraram aumenta na medida em que a distância entre o local de origem e de destino aumenta. O terceiro fato determina que a elasticidade dos salários médios em relação à participação da população de origem é negativa. O quarto fato afirma que os custos de migração reduzem a produtividade ao reduzir a seleção dos trabalhadores. Por fim, o quinto fato estabelece a existência de diferenciais salariais compensatórios, onde locais com maior comodidade possuem menor salário agregado.
Devido à natureza censitária dos dados utilizados, a medida de migração do estudo representa uma migração permanente com base em uma seção transversal repetida. Essa pressuposição é corroborada pelos dados analisados do IFLS: a migração na Indonésia pode ser caracterizada como um único episódio de migração permanente. Os custos de mobilidade são definidos como a distância em linha reta entre o local de origem (nascimento) e destino (para os que migraram para o local atual). A variável que identifica as comodidades é definida como uma única medida utilizando seis critérios diferentes de comodidade (positivos e negativos).
Para a identificar a relação entre os custos de migração e a produtividade agregada, foi empregado o método de mínimos quadrados ordinários (OLS) para estimar os cinco fatos estilizados para a Indonésia. Para os Estados Unidos, foram estimados apenas os quatro primeiros fatos.
Por fim, o estudo apresenta um modelo de equilíbrio geral estático da migração, adaptado a partir do modelo de ordenação de trabalho em Hsieh et al. (2019). O modelo formaliza que os trabalhadores nascem em uma origem específica, adquirem uma habilidade para cada destino, e fazem a seleção entre os destinos com base em salários, comodidades e custos de migração. Os custos de migração são relativos ao local de nascimento, e os salários e comodidades são endógenos e ajustam-se para garantir o equilíbrio, de forma que os locais disponham de distintos conjuntos de habilidades requeridas. Para estimar esse modelo, foi utilizado um modelo de Pseudo Máxima Verossimilhança de Poisson (PPML).
Os resultados das estimativas dos cinco fatos estilizados revelaram a existência da influência significativa dos custos de movimentação e dos diferenciais de comodidade na migração e nos salários médios das localidades na Indonésia. Em relação aos custos de movimentação, foi verificado que uma redução de 10% na distância entre duas localidades resultou em um aumento de 7% na proporção de migrantes entre essas localidades.
Foi observado que pessoas que vivem mais distantes de seus locais de nascimento tendem a ter salários mais altos, indicando que é necessário compensar financeiramente as pessoas para incentivá-las a se afastarem de suas cidades natais. Quando a distância entre origem e destino dobra, verificou-se um aumento de 3% nos salários médios. Esses resultados sugerem que os custos de movimentação desempenham um papel fundamental na decisão das pessoas de se mudarem e na determinação dos salários.
Além disso, a análise revelou a importância dos efeitos de seleção, onde quanto maior a proporção de pessoas nascidas em uma determinada localidade que se mudam para outra, menor é o salário médio desses migrantes. Os resultados para os Estados Unidos apresentaram comportamento similar em termos de magnitude e significância. Com relação aos diferenciais de comodidade entre os locais, verificou-se que trabalhadores indonésios em localidades com baixas comodidades recebem salários mais altos, refletindo a necessidade de compensar aqueles que optam por viver em áreas com menor qualidade de vida.
A calibragem dos parâmetros do modelo estrutural indica que os Estados Unidos apresentam menores custos de migração em relação à Indonésia. As estimativas do modelo evidenciaram ganhos moderados na produtividade agregada, apresentando grande heterogeneidade. A eliminação de todas as barreiras à migração é prevista para aumentar a produtividade em 22%, com ganhos maiores para alguns locais de origem, chegando a 104% - esses ganhos são mais significativos em locais onde os salários médios têm maior variação entre os destinos. Considerando os custos de movimentação nos níveis dos Estados Unidos, os cálculos contrafatuais indicam um aumento de 7,1% nos salários médios na Indonésia.
Esse artigo analisou o impacto dos custos de movimentação e dos diferenciais de comodidade na migração e na produtividade do trabalho. Através de métodos econométricos, os autores estimaram cinco fatos estilizados associados ao tema. Adicionalmente, os autores também apresentaram um modelo de equilíbrio geral da migração, considerando os custos de migração e diferenciais de habilidades requeridas e comodidades entre os locais. As evidências do estudo indicaram que os custos de migração dos trabalhadores são compensados por salários mais elevados. No mesmo sentido, a ausência de comodidades também é compensada. Os resultados também indicam que a seleção de migrantes desempenha um papel importante, onde uma maior proporção de pessoas que se mudam para um destino específico está associada a salários médios mais baixos.
Esses resultados têm implicações relevantes para a formulação de políticas públicas. Embora a migração que melhore a alocação estática da mão de obra possa não ter impactos tão substanciais quanto alguns estudos sugerem, políticas direcionadas podem ter efeitos significativos em comunidades específicas. Portanto, políticas que visem a redução dos custos de movimentação podem contribuir para o aumento da produtividade e melhorar as condições de vida em regiões específicas.
Referências
BRYAN, G.; CHOWDHURY, S.; MOBARAK, A. M. Underinvestment in a Profitable Technology: The Case of Seasonal Migration in Bangladesh. Econometrica, v. 82, n. 5, p. 1671–1748, 2014.
BRYAN, G.; MORTEN, M. The Aggregate Productivity Effects of Internal Migration: Evidence from Indonesia. Journal of Political Economy, v. 127, n. 5, p. 2229–2268, out. 2019.
HSIEH, C.-T. et al. The Allocation of Talent and U.S. Economic Growth. Econometrica, v. 87, n. 5, p. 1439–1474, 2019.
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