IDP

Ferramentas de acessibilidade

VLibras

Consulte aqui o cadastro da Instituição no Sistema e-MEC


ECONOMIA E GESTÃO.

COVID-19: o que podemos aprender com as pandemias?

23 fev 2022

Pesquisadora responsável: Viviane Ribeiro

Título do Paper: Economic, social and political issues raised by the COVID-19 pandemic

Autores: Clement A. Tisdell

Localização da Intervenção: Global

Tamanho da Amostra: Não especificado

Grande tema: Saúde

Variável de Interesse principal: COVID-19

Tipo de Intervenção: Análise dos trade-off da pandemia COVID-19

Metodologia: Modelos Econômicos

A ocorrência de pandemias não é recente. Vários fatores facilitam o surgimento e a propagação de doenças altamente infecciosas, tais como a alta densidade demográfica, bem como a elevada mobilidade humana. Tendo em vista os antecedentes históricos gerais de pandemias anteriores, Tisdell (2020) contribui para a avaliação de políticas públicas de controle da incidência da COVID-19 ao fornecer um modelo que pode ser utilizado para priorizar a admissão de pacientes com COVID-19 ao hospital e ao especificar um segundo modelo para avaliar as escolhas sociais desejáveis envolvendo o trade-off entre a severidade das restrições sociais e o nível de atividade econômica.

Contexto da Avaliação

O surgimento de doenças altamente infecciosas que se tornaram pandemias, assim como a COVID-19, criaram sérios problemas de saúde e econômicos devido às várias transformações sociais e ambientais globais que ocorreram como resultado do desenvolvimento econômico. A estrutura econômica e social das sociedades contemporâneas facilita a transmissão das doenças que dependem do contato ou da presença humana, especialmente as que envolvem germes de via aérea ou que persistem em superfícies de uso comum. Nesse contexto, observa-se que vários fatores facilitam o surgimento e a propagação dessas doenças infecciosas, tais como a alta densidade populacional em centros urbanos, bem como a elevada mobilidade humana em todas as dimensões geográficas.

Uma maior especialização econômica e uma maior divisão do trabalho, acompanhados pela expansão dos mercados e pela crescente globalização econômica, aumentam o risco de os indivíduos entrarem em contato com fontes que facilitam a ocorrência de doenças altamente contagiosas, como a gripe e a COVID-19. As consequências econômicas adversas de novas formas ou tipos destas doenças podem ser graves, dado o alto grau de interdependência da atividade econômica nas economias modernas. Por exemplo, a ausência de trabalhadores no serviço devido a tais infecções, ou os riscos destas infecções, podem interromper a produção no local de trabalho. Da mesma forma, as cadeias de abastecimentos podem ser interrompidas por estas pandemias e, além disso, geralmente têm efeitos negativos sobre a demanda agregada por commodities. Isto é evidente pelo surto de COVID-19, que resultou em uma grande depressão econômica mundial.

Detalhes da Intervenção

Tendo em vista os antecedentes históricos gerais de pandemias anteriores e os problemas econômicos e sociais associados à gestão dessas pandemias, Tisdell (2020) busca fornecer seus próprios insights sobre as questões econômicas levantadas pela COVID-19. Desse modo, o autor ressalta a importância de avaliar a pandemia COVID-19 em relação ao contexto histórico, impacto e natureza das pandemias anteriores. Inicialmente, o estudo fornece uma breve visão geral da história e da natureza de uma variedade de pandemias e as compara à pandemia COVID-19. Posteriormente, são considerados os problemas de escolha que envolvem a capacidade hospitalar disponível e a priorização das internações daqueles com COVID-19. Em seguida, a atenção se volta para a consideração da escolha social e dos trade-off econômicos entre a incidência de infecções por COVID-19 e o nível de atividade econômica. Finalmente, é realizada uma discussão crítica sobre a conveniência de isolar grupos sociais a fim de controlar a incidência de COVID-19 e, possivelmente, reduzir as perdas econômicas da pandemia. A importante questão de até que ponto os indivíduos devem ter liberdade em relação ao controle do COVID-19 é investigada e breves notas seguem sobre os fatores que podem impedir a recuperação econômica da COVID-19.

Detalhes da Metodologia

O estudo realizado por Tisdell (2020) analisa os tipos de trade-off que devem ser considerados e escolhas que devem ser feitas em diferentes estágios da pandemia de COVID-19. Essa análise foi realizada por meio de alguns modelos econômicos simples. Além disso, os fatores que podem dificultar a recuperação econômica após o período de hibernação socioeconômica (projetado para limitar a incidência de COVID-19) são identificados e discutidos. Primeiro, é apresentada uma breve visão geral histórica e comparativa de pandemias selecionadas, particularmente em relação à pandemia COVID-19. Segundo, o estudo fornece um modelo original simples que pode ser utilizado para priorizar a admissão de pacientes com COVID-19 ao hospital (levando em consideração a capacidade hospitalar disponível). Terceiro, é especificado um segundo modelo para avaliar as escolhas sociais desejadas envolvendo o trade-off entre a severidade das restrições sociais (levando em consideração seu impacto na incidência de COVID-19) e o nível de atividade econômica. As funções de bem-estar do tipo Bergson são utilizadas no segundo modelo.

Também é examinada criticamente a proposição de que o isolamento de grupos sociais é um método desejável de limitar a incidência de COVID 19. Isso leva à consideração de até que ponto a liberdade de escolha pessoal (liberdade) deve ser restringida em resposta à pandemia COVID-19. Posteriormente, é apresentado um breve esboço que ilustra os fatores que provavelmente impedirão a recuperação econômica da COVID-19. É dada atenção especial às questões morais e éticas levantadas pelas políticas de controle dessa pandemia.

Resultados

Os resultados obtidos por Tisdell (2020) evidenciam que ainda é recente para determinar como eventualmente a COVID-19 se comparará com as pandemias anteriores. No entanto, como a gripe “espanhola”, ela se tornou uma pandemia global. Foi relatado pela primeira vez em Wuhan em novembro de 2019 e em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que era uma pandemia. Não demorou muito para que indivíduos na maioria das nações fossem infectados. Como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e a gripe "espanhola", é transmitida principalmente por gotículas e espirros. Embora seja menos mortal do que a gripe “espanhola”, ela já resultou em um número alarmante de mortes em todo o mundo. Além disso, reduziu significativamente (e interrompeu) a atividade econômica e social. Entretanto, seus efeitos negativos foram mitigados (em uma extensão notável) pelos avanços das Tecnologias da informação e comunicação (TIC). O que permitiu que muitas pessoas trabalhassem em home office, além de ajudar a manter a conectividade social.

O estudo observou que a maioria das pandemias globais reduz substancialmente a produção econômica global e aumenta o desemprego. No caso da COVID-19, as medidas governamentais para conter a disseminação dessa doença e a mortalidade por ela gerada reduziram significativamente o emprego e a atividade econômica em todo o mundo. Dado que o desemprego aumenta e a atividade econômica agregada diminui na presença de restrições sociais mais severas, os governos enfrentam um difícil problema de compensação; ou seja, quanta redução no emprego e na atividade econômica deve-se aceitar como resultado de permitir oportunidades mais liberais de interação social. Esse tipo de escolha envolve um custo de oportunidade e um problema de trade-off e, conceitualmente, pode ser submetido a uma análise econômica. No entanto, resolver esse problema é difícil devido à incerteza sobre muitas das dimensões de uma nova pandemia e ao problema de conceber uma função de bem-estar social amplamente ou universalmente aceitável.

Os custos das restrições parecem variar de acordo com a estrutura social dos indivíduos, a natureza das economias e os estágios de seu desenvolvimento econômico. Os países desenvolvidos estão em melhor posição para fornecer redes de segurança social aos seus cidadãos e apoiá-los caso eles tenham sua capacidade de trabalho restrita como resultado da COVID-19. Por outro lado, em países subdesenvolvidos, medidas sociais rigorosas para controlar a COVID-19 impõem um fardo pesado à população mais vulnerável economicamente que precisam da renda do trabalho para as necessidades básicas.

A escolha de políticas governamentais para controlar a COVID-19 é significativamente influenciada por pressões políticas, cuja natureza se alterou com a duração da pandemia. Inicialmente, muitos governos demoraram a impor restrições sociais para limitar a ocorrência da COVID-19. À medida que as infecções e a taxa de mortalidade aumentavam, aumentava também a pressão política para impor restrições sociais para limitar a ocorrência da doença. No entanto, a pressão política posteriormente se intensificou para aliviar essas restrições a fim de reduzir o custo econômico do vírus. Como resultado, muitos governos responderam alterando suas funções de preferência do tipo Bergson para levar em conta essas pressões políticas. Além disso, com melhor conhecimento da COVID-19 e dos meios para tratá-la, maior capacidade hospitalar e menor ocorrência de casos, as mudanças na função de trade-off do ABCDE favoreceram medidas de controle menos rigorosas em alguns países.

Lições de Política Pública

As doenças contagiosas capazes de se tornarem pandemias podem assumir formas variadas e, portanto, as políticas adequadas para controlá-las costumam ser diferentes. Determinar políticas econômicas adequadas para responder ao surto e à disseminação de COVID-19 entre humanos provou ser extremamente desafiador porque as principais medidas para conter o nível de infecções e as taxas de mortalidade pela doença envolvem um alto custo econômico em termos de níveis de renda e produção econômica. Essas medidas de controle incluem o isolamento de indivíduos, restrições a reuniões e viagens. Elas foram vistas como necessárias (especialmente nos estágios iniciais de infecções em massa por COVID-19) para nivelar a tendência ascendente na curva de infecções e reduzir o aumento de mortes e para permitir que os hospitais aumentassem a sua capacidade de atender pacientes que precisassem de hospitalização.

A velocidade e a natureza da recuperação da pandemia podem ser prejudicadas por fatores do lado da oferta e da demanda. Do lado da oferta, muitos fabricantes e outras empresas dependem de cadeias de abastecimento internacionais para sustentar as suas atividades econômicas. Isso levanta um problema de sincronização. As nações que estão prontas e querem retomar a produção de commodities (mas contam com cadeias de abastecimento internacionais para sua produção) podem descobrir que sua capacidade de fazê-lo é restrita porque seus fornecedores internacionais não podem atender suas demandas devido aos fechamentos contínuos ou por causa de sua redução de produção como consequência da COVID-19. As entregas internacionais também podem ser limitadas pela interrupção dos serviços de transporte, por exemplo, serviços aéreos.

Do lado da demanda, o consumo agregado tende a se recuperar lentamente devido à renda disponível menor e os consumidores podem preferir não comprar commodities que aumentem o risco de contrair a COVID-19. Mesmo quando as restrições governamentais sobre viagens internacionais forem suspensas, muitos indivíduos podem não estarem dispostos a realizar tais viagens, especialmente por meios que aumentem suas chances de contrair COVID-19. Da mesma forma, muitos indivíduos continuarão a evitar atividades (por algum tempo) que envolvam reuniões em massa.

As indústrias que se recuperarem lentamente após o fim do período de hibernação socioeconômica projetado para controlar a COVID-19 também retardarão a recuperação das indústrias com as quais têm um alto grau de interdependência econômica. A análise intersetorial (por exemplo, análise de insumo e produto) pode ser usada para ajudar a avaliar esses efeitos de fluxo. Além disso, uma situação internacional perigosa pode surgir. Muitas nações podem começar a adotar políticas protecionistas para neutralizar a redução em seu nível de atividade econômica e de emprego provocada pela pandemia de COVID-19. Isso pode atrasar a recuperação econômica global, prejudicando países que dependem fortemente das exportações para gerar seu nível de atividade econômica e emprego.

Referências

Tisdell, C. A. (2020). Economic, social and political issues raised by the COVID-19 pandemic. Economic analysis and policy68, 17-28.