Pesquisadora responsável: Eduarda Miller Figueiredo
Título original: Education Policy and Intergenerational Transfers in Equilibrium
Autores: Brant Abbott, Giovanni Gallipoli, Costas Meghir e Giovanni L. Violante
Localização da Intervenção: Estados Unidos
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Setor: Educação
Variável de Interesse Principal: Bem-Estar
Tipo de Intervenção: Empréstimos Estudantis
Metodologia: GMM
Resumo
Este artigo estudou o impacto das políticas de ajuda financeira no desempenho universitário, no bem-estar e na economia agregada. Os autores aqui analisados construíram um ciclo de vida heterogêneo do agente com mercados de seguros e de crédito incompletos, apresentando interligações geracionais. Os resultados sugerem que os retornos financeiros são sempre positivos e aumentam conforme a capacidade. Pelas lentes do modelo aplicado neste estudo, os autores sugerem que a configuração atual dos empréstimos federais e dos programas de subsídios tem um valor substancial em termos de resultados e bem-estar.
O investimento em capital humano é uma fonte fundamental de crescimento da produtividade agregada e importante para a mobilidade social. No entanto, as imperfeições nos mercados de seguros e de crédito podem distorcer as escolhas de investimento em habilidades que levam à resultados educacionais abaixo do socialmente ideal. É por isso que os governos promovem a aquisição de educação através de uma variedade de intervenções, entre elas, a ajuda financeira para estudantes universitários.
As habilidades cognitivas e não-cognitivas, transmitidas entre gerações, determinam o custo não pecuniário da educação para estudantes e a produtividade ao entrar no mercado de trabalho. Subsídios e empréstimos governamentais, empréstimos privados, oferta de trabalho durante a faculdade para complementar os recursos dados pelos pais como meio de financiar o custo financeiro da educação universitária. Em que pese que as transferências realizadas pelos pais para os filhos dependem do ambiente político, como a disponibilidade de ajuda financeira, e são motivados pelo altruísmo e pela atitude paternalista daqueles que dão preferência à educação dos filhos.
Este artigo tinha como objetivo estudar o impacto das políticas de ajuda financeira no desempenho universitário, bem-estar e a economia agregada. No centro da análise está o papel das restrições de liquidez e risco de rendimento não segurável, exclusão de fontes privadas de financiamento induzida por políticas, heterogeneidade e seleção.
Estudos que utilizam dados das décadas de 1980 e 1990 concluíram que a renda familiar desempenhava um pequeno papel nas decisões em relação à faculdade (Cameron e Heckman, 1998; Cameron e Taber, 2004). Porém, mais recentemente, Belley e Lochner (2007) descobriram que recursos financeiros dos pais importa significativamente para a frequência na faculdade na década de 2000.
Os autores definem o ciclo de vida dos indivíduos a partir de quatro fases:
Na 1ª fase a unidade de decisão é o indivíduo, nas duas últimas a unidade de decisão é o casal.
Homens e mulheres, no modelo, começam a fazer suas escolhas aos 16 anos. As suas competências são extraídas de uma distribuição que depende da educação e das competências dos pais. Além disso, os pais fazem transferências financeiras para os filhos, dando o ponta pé inicial na vida.
Dadas essas dotações herdades de recursos financeiros e habilidades, os jovens fazem suas escolhas educacionais sequenciais: menos do que o ensino médio, ensino médio ou faculdade. Durante a faculdade, os estudantes podem financiar a educação através de empréstimos nos mercados privados, através de subvenções e empréstimos governamentais, e também trabalhando em tempo parcial.
Em relação aos mercados financeiros, os autores salientam que as famílias com poupanças positivas recebem dos bancos uma taxa de juros de equilíbrio igual à . Já para as outras famílias, os bancos emprestam à uma taxa de , onde é o custo de supervisão do empréstimo por unidade de consumo intermediado. Logo, é um determinante importante da proporção das famílias que têm patrimônio líquido negativo, que é 6,8% da amostra.
Os indivíduos enfrentam limites de dívida que variam ao longo do ciclo da vida: estudantes do ensino médio, jovens trabalhadores e famílias aposentadas não podem contrair empréstimos. Então, os alunos do ensino médio não podem pedir dinheiro emprestado e nem trabalhar. A faculdade tem duração de dois períodos e a oferta de trabalho na faculdade é flexível, mas a dotação do tempo disponível para o trabalho é reduzida em razão do tempo necessário para a aprendizagem.
Todos os alunos da universidade têm acesso à empréstimos não subsidiados até o valor b, que acumulam juros à taxa r durante e após a faculdade. Alunos com necessidades financeiras têm os juros dos empréstimos subsidiados perdoados durante a faculdade. Os subsídios federais são concedidos pelo governo por meio de uma fórmula que torna-os uma função da riqueza dos pais e das habilidades do aluno – ou seja, com base na necessidade e no mérito.
Este artigo aqui analisado construiu um modelo de agente heterogêneo de ciclo de vida com seguro incompleto e mercados de crédito do tipo popularizado por Ríos-Rull (1995) e Hugget (1996), apresentando inter-vínculos geracionais na tradição de Laitner (1992) e situados num contexto de gerações sobrepostas. Os dados do estudo foram extraídos de diversas fontes dos Estados Unidos[1].
O modelo é estimado em etapas:
Em equilíbrio, os indivíduos maximizam sua utilidade esperada ao longo da vida, escolhendo seu nível de educação, empréstimos federais como estudantes universitários, consumo e poupança, oferta de trabalho e transferências entre vivos para os seus filhos.
Ao estimar os processos salariais perceberam que quanto maior o nível de escolaridade, mais acentuados serão os aumentos dos salários. O gradiente de capacidade para os salários aumenta com a educação, sugerindo uma complementariedade entre os dois. Também há um aumento nos retornos de capacidade maior para as mulheres do que para os homens.
Os resultados dos autores também mostram que a educação e a cognição da mãe são importantes para as habilidades cognitivas de seu filho. Já os resultados para o custo psíquico da educação mostram que ser mulher aumenta o custo do ensino médio, mas não tem efeito nos custos psíquicos na faculdade. E que as habilidades não cognitivas e cognitivas reduzem os custos de educação. Portanto, embora as competências cognitivas e não cognitivas mensuráveis desempenhem um papel importante, há uma grande parte dos custos psíquicos da educação que permanece inexplicada, principalmente para a faculdade.
Os autores perceberam que nos dados dessa pesquisa, crianças do sexo masculino recebem transferências maiores do que as crianças do sexo feminino. Enquanto os meninos recebem uma transferência média de um pouco mais de 33 mil dólares, as meninas recebem cerca de 29 mil dólares.
Os resultados também sugerem que os retornos financeiros são sempre positivos e crescentes por capacidade, variando entre 5% no grupo com habilidade mais baixa para 10% no grupo com habilidade mais alta. O que é surpreendente, segundo os autores, é que os retornos totais são negativos para aqueles no grupo de habilidade mais baixa, uma vez que os custos psíquicos são levados em conta.
Depois da análise de todos os resultados, os autores concluem que o atual programa de ajuda estudantil dos Estados Unidos, incluindo subvenções e empréstimos subsidiados, tem melhorado o bem-estar. Em que melhoria do bem-estar significa: (i) melhorias na produção agregada devido maior estoque de capital humano; (ii) redução da desigualdade nas condições iniciais devido a uma redistribuição de rendimento. Parte da eficácia da expansão dos programas de subsídios aos estudantes, através de bolsas, reside no fato de a capacidade e a educação dos pais interagirem positivamente na produção de competências da próxima geração.
Pelas lentes do modelo aplicado neste estudo, os autores sugerem que a configuração atual dos empréstimos federais e os programas de subvenções têm um valor substancial em termos de resultados e de bem-estar. Em que novas expansões dos programas de subsídios melhorariam o bem-estar e que a melhor maneira de expandir a ajuda aos estudantes é através de bolsas pela capacidade.
Referências
Belley, P., and L. Lochner (2007): “The Changing Role of Family Income and Ability in Determining Educational Achievement,” Journal of Human Capital, 1, 37–89.
Cameron, S. V., and C. Taber (2004): “Estimation of Educational Borrowing Constraints Using Returns to Schooling,” Journal of Political Economy, 112(1), 132–182.
Cameron, S. V., and J. J. Heckman (1998): “Life Cycle Schooling and Dynamic Selection Bias: Models and Evidence for Five Cohorts of American Males,” Journal of Political Economy, 106(2), 262–311.
Huggett, M. (1996): “Wealth Distribution in Life-Cycle Economies,” Journal of Monetary Economics, 38(3), 469–494.
Laitner, J. P. (1992): “Random Earnings Differences, Lifetime Liquidity Constraints, and Altruistic Intergenerational Transfers,” Journal of Economic Theory, 58, 135–170.
Ríos-Rull, J.-V. (1995): “Models with Heterogeneous Agents”, in Frontiers of Business Cycle Research, ed. By T. F. Cooley, chap. 4. Princeton University Press, Princeton.
[1] Current Population Survey (CPS), the Panel Study of Income Dynamics (PSID), the National Longitudinal Survey of Youth (NLSY, 79 and 97), the National Center for Education Statistics (NCES), the Survey of Consumer Finances (SCF), and the National Accounts.
[2] Parâmetros que determinam os custos psíquicos da educação, alguns parâmetros de preferência e outros listados na tabela 6.2 de Abbot et al. (2020).