IDP

Ferramentas de acessibilidade

VLibras

Consulte aqui o cadastro da Instituição no Sistema e-MEC


Existe discriminação salarial entre homens e mulheres?

05 dez 2020

[vc_row][vc_column][vc_column_text]

Pesquisador responsável: Silvio da Rosa Paula

Título do artigo: GENDER WAGE GAPS AND WORKER MOBILITY: EVIDENCE FROM THE GARMENT SECTOR IN BANGLADESH

Autores do artigo: Andreas Menzel e Christopher Woodruff

Localização da intervenção: Bangladesh

Tamanho da amostra: Registros administrativos de mais de 80.000 trabalhadores de 70 grandes fábricas de exportação de vestuário

Grande tema: Gênero

Tipo de Intervenção: Avaliação das disparidades salariais de gênero

Variável de Interesse principal: Disparidades salariais de gênero

Método de avaliação: Avaliação Experimental (RCT)

Contexto da Avaliação

A maior parte da literatura sobre disparidades salariais de gênero se baseia em dados para países de alta renda. As evidências para países em desenvolvimento são muito esparsas, devido em grande parte a falta de dados de qualidade. Diante dessa realidade, este estudo aborda a questão das disparidades salariais de gênero, utilizando os registros administrativos de mais de 80.000 trabalhadores de 70 grandes fábricas de exportação do setor de vestuário de Bangladesh, para o período de 2012 a 2017.

O setor de confecções em Bangladesh é o maior setor manufatureiro, respondendo por 80% das exportações do país e cerca de 12% do PIB. As 4.000 fábricas do setor empregam 4 milhões de trabalhadores, sendo mais da metade deles mulheres. Com o crescimento anual de cerca de 15% ao longo de mais de duas décadas, o setor de vestuário aumentou dramaticamente a proporção de mulheres que trabalham em empregos renumerados em tempo integral.

Contudo, há críticas generalizadas aos fabricantes para exportação por não salvaguardar os padrões trabalhistas e ambientais. O tamanho do setor no país explora a vantagem comparativa em mão de obra não qualificada barata e seu emprego de grande número de trabalhadoras mulheres, tornando esse ambiente particularmente adequado para estudar os efeitos sociais de interesse mais amplos, como a diferença salarial.

Detalhes da Metodologia

Com objetivo de avaliar as disparidades salariais de gênero, os pesquisadores utilizaram uma abordagem padrão de dados em painel com efeito fixo, fazendo uso de uma variável binária para identificar se o trabalhador é homem ou mulher. Os dados em painel permitem acompanhar os trabalhadores ao longo do tempo, de forma a capturar melhor seu comportamento no decorrer dos anos e controlar características não observáveis por meio do efeito fixo como, por exemplo, determinação, esforço, motivação, características que são de difícil mensuração. Em termos gerais, com a utilização desse método, os pesquisadores buscam identificar uma relação causal entre gêneros e retorno salarial.

Detalhes da Intervenção

Para a realização deste estudo, foram utilizados dados de registros de folha de pagamento mensal e avaliações de habilidades conduzidas pelos departamentos de engenharia industrial das fábricas. Os dados de folha de pagamento comtemplam todos os trabalhadores empregados pelas fábricas por pelo menos um dia. Em geral, nas fábricas os trabalhadores são classificados em 7 níveis, sendo o nível (7) o mais baixo, atribuído a trabalhadores não qualificados, iniciantes chamados de ajudantes de nível básico. A partir do nível (3), os trabalhadores passam a ser considerados operadores altamente qualificados. Já nos níveis superiores (1) e (2), estão o pessoal da supervisão de nível superior e os supervisores de linha, respectivamente. Devido a limitações, as estimações contêm apenas operadores dos níveis (6) a (3), selecionados aleatoriamente de determinadas linhas de produção. É importante frisar que, a lei do salário mínimo de Bangladesh para o setor de vestuário, prescreve um salário mínimo para cada nível de trabalhador, embora os trabalhadores em um determinado nível geralmente recebam um pouco mais do que o respectivo salário mínimo.

No contexto das informações sobre habilidades, em algumas fábricas são realizadas avaliações regulares das habilidades dos operadores. Dessa forma, utilizando as informações de 20 fábricas, os pesquisadores criam métricas para mapear a capacidade de produção dos trabalhadores, proporcionando um controle mais preciso de sua produtividade. Por fim, além dos registros de salários e medidas de habilidades, também foram utilizados dados de uma amostra de operadores de máquina de costura selecionados aleatoriamente em cada uma das fábricas, contemplando um total de 2.607 trabalhadores.

Resultados

Os resultados encontrados indicam que os salários das mulheres são em média 20% inferiores aos dos homens, e mesmo dentro de um conjunto restrito de ocupações, os homens recebem em média cerca de 8% a mais do que as mulheres. Ademais, os dados mostram quatro padrões bem claros. Primeiro, que as mulheres recebem menos que os homens, mesmo apresentando habilidades semelhantes. Segundo, tanto para homens quanto para as mulheres, uma parte considerável dos ganhos salariais está associada a movimentos entre as fábricas. Terceiro, as mulheres têm carreiras mais curtas no setor e menores taxas de mobilidade entre as fábricas, embora não pareça estar relacionada ao estado civil ou gravidez, ou a falta de opções de emprego fora do setor de vestuário. Quarto, as mulheres também apresentam taxas mais baixas de promoção, por exemplo, apenas 32% das mulheres alcançam um dos dois níveis mais altos de operador, enquanto esse percentual é de 57% para os homens.

Em termos gerais, os resultados apontam que as carreiras mais longas dos homens no setor explicam cerca de metade da diferença salarial,  sendo a outra metade devido a diferenças nas promoções internas e mobilidade entre as fábricas. Além disso, o estudo mostra que os homens casados seguem suas carreiras de maneira mais proativa. Esses resultados são consistentes com as normas de gênero que afetam amplamente a posição de barganha ou o acesso ao mercado de trabalho das mulheres já relatadas em outras pesquisas. Para Bertrand et al. (2015), mulheres podem reduzir sua carreira para não ganhar mais do que seus cônjuges. No estudo de Macchiavello et al. (2016), os pesquisadores relatam a existência de crenças negativas de que as mulheres são supervisoras menos capazes. Já em Glover et al. (2017), funcionárias de supermercados franceses de minorias reduzem o esforço quando trabalham sob gerentes tendenciosos. Tais padrões e a presença de mulheres em menos de 7% dos cargos de supervisores no setor de vestuário, podem sinalizar que os esforços para progredir na carreira geram retornos menores para as mulheres, reduzindo assim suas ambições profissionais.

Lições de Política Pública

A paridade de gênero é fundamental para a prosperidade das economias e sociedades. Levando em consideração que as mulheres representam metade da população mundial, desenvolver e implantar esses talentos disponíveis no mundo tem uma enorme influência sobre o crescimento, inovação e competitividade das economias e empresas.

No Brasil, apesar do artigo 7 da Constituição Federal garantir igualdade de salários entre os gêneros, idade, cor ou estado civil, um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, mostrou que as mulheres ganham menos do que os homens em todas as ocupações selecionadas na pesquisa, variando apenas de intensidade entre as ocupações. Mesmo com uma queda na desigualdade salarial entre 2012 e 2018, as trabalhadoras ganham, em média, 20,5% menos que os homens no país.

Além disso, um estudo que integra o relatório do Fórum Econômico Mundial  (WEF) de 2019, elaborado com 153 países, mostra que o Brasil ocupa a 130º posição no ranking que analisa igualdade salarial entre homens e mulheres com trabalho semelhante, isso demonstra que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer.

Referência

MENZEL, Andreas; WOODRUFF, Christopher. Gender wage gaps and worker mobility: Evidence from the garment sector in Bangladesh. National Bureau of Economic Research, 2019.

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]