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ECONOMIA E GESTÃO.

Existe relação entre Desigualdade e Crescimento?

03 set 2020

Pesquisador responsável: Adriano Valladão Pires Ribeiro

Título do artigo:  INEQUALITY AND GROWTH: WHAT CAN THE DATA SAY?

Autores do artigo: Abhijit V. Banerjee e Esther Duflo

Localização da intervenção: Painel de países

Tamanho da amostra:  226 observações

Grande tema:  Política Econômica e Governança

Variável de interesse principal: Crescimento

Método de avaliação: Estimativa de densidade Kernel

Problema de Política

A relação entre desigualdade social e crescimento econômico, apesar de ser facilmente posta, é difícil de ser mensurada. A questão é basicamente se uma maior (ou menor) desigualdade está associada a um crescimento maior ou menor da economia. Primeiro, é difícil determinar a causalidade entre essa relação. Segundo, comparar as particularidades de cada país gera problemas, já que características isoladas afetariam tanto a desigualdade quanto o crescimento. Terceiro, assumir uma forma errada para a relação pode levar a conclusões distorcidas. O estudo apresentado a seguir busca solucionar o último problema apontado.

Contexto da Avaliação

Na literatura econômica, vários trabalhos tentaram estimar a relação entre desigualdade e crescimento. O procedimento padrão assume uma relação linear entre os dois objetos, isto implica que mudanças em uma variável estariam sempre associadas a mudanças na mesma proporção da outra. Além disso, a técnica usada para estimar a relação também importa, o resultado obtido pode ser negativo, positivo ou nenhum, isto é, a depender do procedimento, pode-se achar que maior desigualdade estaria relacionado com menor, maior ou nenhum crescimento econômico futuro. Por fim, não é possível falar em causalidade nos resultados obtidos.

Detalhes da Intervenção

No campo teórico, há duas classes de argumentos sobre a relação de causalidade entre desigualdade e crescimento. A primeira no âmbito da economia política, o argumento parte da premissa que desigualdade leva a redistribuição da riqueza e a redistribuição afeta negativamente o crescimento. A segunda é sobre um efeito riqueza, assume-se existir uma relação entre riqueza no presente com a riqueza no futuro.

Expondo o pensamento da economia política de maneira simples, temos dois grupos políticos competindo pela riqueza de um país. A cada período de tempo, uma nova oportunidade de crescimento aparece, mas esta oportunidade demandaria mudanças estruturais e poderia ser barrada por um dos grupos. Por outro lado, ao invés de barrar, esse grupo poderia aceitar a mudança mediante a transferência de parte de riqueza do outro grupo. O tempo que se passa até que os grupos cheguem a um acordo diminui o potencial do crescimento e a parcela final da riqueza de cada grupo medirá o nível da desigualdade. Dessa forma, não apenas desigualdade e crescimento estão estritamente ligados, como mudanças na desigualdade tem efeitos causais sobre o crescimento.

O argumento do efeito riqueza parte da ideia de que cada indivíduo pode gastar ou investir sua riqueza, o crescimento viria da decisão de investir a riqueza. Pessoas com diversos níveis de riqueza investiriam valores diferentes, criando, assim, uma conexão entre desigualdade e crescimento. Algumas implicações podem ser obtidas desse pensamento: (i) a partir de certa riqueza, o investimento individual não se alteraria; (ii) o aumento da dispersão da riqueza reduz a taxa de crescimento; (iii) desigualdade e crescimento tendem a diminuir ao longo do tempo. Portanto, o crescimento diminuiria tanto com um aumento quanto uma queda na desigualdade, isto é, mudanças observáveis na desigualdade implicam em uma queda na taxa de crescimento.

Detalhes da  Metodologia

Os dados utilizados para mensurar a relação entre desigualdade e crescimento são o Índice de Gini e a taxa de crescimento do PIB. O Índice de Gini mede a concentração de renda e varia entre 0 e 1, em que o valores próximos de zero representam maior igualdade e valores próximos de um representam maior desigualdade. Haveria diversas formas de se capturar essa relação, as 5 maneiras abaixo são obtidas a partir da discussão das duas agumentações feitas na seção anterior, com uma breve intuição para cada uma das formas. Devido a dificuldade em se obter a causalidade de fato, o objetivo principal é capturar os efeitos não lineares entre desigualdade e crescimento, assim, nenhuma das especificações assume a piori que a relação seja linear.

Forma 1: a taxa de crescimento do PIB como função do PIB atual e variações passadas na desigualdade. Capta a ideia de que variações na desigualdade têm efeitos causais sobre o crescimento, além de permitir que tais efeitos variem de acordo com o nível de riqueza.

Forma 2: variações na desigualdade como função dos níveis do PIB e da desigualdade passada. Assume como válida a relação entre desigualdade e crescimento acima e nota-se que mudanças na desigualdade são causadas pelo nível da desigualdade.

Forma 3: o quadrado da variação na desigualdade como função do nível de desigualdade passada. O importante não seria a variação da desigualdade, como no caso anterior, mas o valor absoluto da mudança, já que mudanças para cima ou para baixo implicariam menor crescimento.

Forma 4: a taxa de crescimento como função dos níveis do PIB e da desigualdade do período anterior. Tenta mensurar diretamente qual o efeito do nível da desigualdade passada no crescimento econômico.

Forma 5: a taxa de crescimento como função do PIB, da desigualdade e da variação na desigualdade. Pelo efeito riqueza, variações na desigualdade têm efeitos causais no crescimento, assim como na primeira forma. Porém, a especificação de agora é mais geral, pois permite que o efeito seja diferente de acordo com o nível da desigualdade.

Resultados

Do estudo das formas de se obter a relação da seção anterior, destaca-se alguns resultados. Primeiro, variações na desigualdade está relacionado a crescimento econômico subsequente de maneira não linear, a relação é de U invertido. Isto significa que variações na desigualdade em qualquer direção, aumento ou redução, são associadas a menor crescimento e, quanto maior a variação na desigualdade, maior a queda do crescimento. Segundo, a relação entre variação na desigualdade e nível passado da desigualdade possui forte correlação negativa, já o quadrado da variação e o nível da desigualdade passada é positiva. Isso nos diz que variações na desigualdade menores se relacionam com os níveis de desigualdade mais altas e mais baixas, já variações maiores estão associadas ao entorno do valor 0.45 do Índice de Gini. Por fim, a relação entre crescimento e nível de desigualdade, em forma de U, parace um espelho da relação entre variação na desigualdade e crescimento.

Lições  de Política Pública

A principal lição está em limitar interpretações erradas sobre a relação entre desigualdade e crescimento. Há indícios de que a relação é não linear, assim variações na desigualdade poderiam ser associadas tanto a um aumento quanto a uma queda no crescimento. Outro ponto é que, devido as limitações em se isolar os efeitos causais da desigualdade sobre o crescimento, nada pode ser dito sobre uma maior ou menor desigualdade implicar maior ou menor crescimento econômico. Criar uma conta na plataforma Sportingbet é simples, basta localizar o botão de registro no lado superiro direito do site e logo preencherde uma lista de dados como nome, sobrenome, data de nascimento, nacionalidade, forma de contato, etc.

Referência

Banerjee, Abhijit V.; Duflo, Esther. "Inequality And Growth: What Can The Data Say?," Journal of Economic Growth, v8(3,Sep), 267-299. 2003