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ECONOMIA E GESTÃO.

FATORES DE BEM-ESTAR INFLUENCIAM NA PRÁTICA DO ISOLAMENTO SOCIAL DA COVID-19?

08 set 2022

Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo

Fonte: https://repositorio.unb.br/handle/10482/40532

Localização da Intervenção: Brasil

Tamanho da Amostra: 17.254

Setor: Saúde

Variável de Interesse Principal: Isolamento

Tipo de Intervenção: Isolamento Social

Metodologia:  Outros

Resumo

A pandemia da Covid-19 necessita da adoção de medidas de isolamento para conter a propagação do vírus. Entretanto, num país como o Brasil, com habitações precárias, tal medida pode encontrar um fator limitante para sua aplicação. Neste artigo é estudado quais elementos do bem-estar influenciam a prática do isolamento social por parte dos indivíduos brasileiros. Os resultados sugerem a presença de áreas verdes ou abertas e o conhecimento acerca da doença aumenta a probabilidade do indivíduo de praticar o isolamento social. Porém, os autores salientam que os respondentes do formulário são de um espectro da população com renda e escolaridade acima da média.

  1. Problema de Política

Até o surgimento das vacinas para o corona vírus, o distanciamento social era a ferramenta disponível para atenuar a propagação do vírus (Flaxman et al., 2020). Assim, dentro deste contexto diversos aspectos influenciam na adoção das medidas de isolamento, como escolaridade, renda, níveis de estresse, desinformação e até aspectos políticos (Bezerra et al., 2020; Machado et al., 2020; Ajzenman, Cavalcanti e Mata, 2020).  No Brasil, as condições de habitação são precárias, o que parece ser um limitante às medidas de isolamento domiciliar. Assim, agravando os efeitos psicológicos que advém da necessidade do confinamento (Pires, 2020; Brooks et al., 2020).

Com isso, o objetivo do artigo foi testar a hipótese de quais elementos do bem-estar influenciam o comportamento dos indivíduos durante o isolamento social ocorrido na pandemia da Covid-19.

  1. Contexto de Implementação e de Avaliação

Conforme será explicado a seguir, o estudo foi elaborado através de um formulário online, assim, possui um formato de pesquisa de opinião o qual não se fez necessária a solicitação de identificação dos indivíduos respondentes ou avaliação por parte do Comitê de Ética. Ademais, os autores salientam que, em razão disso, não é possível fazer extrapolações para além dos dados coletados da população brasileira.

  1. Detalhes da Política/Programa

Para realização da pesquisa os autores elaboraram um formulário online pela plataforma Google, o qual obtiveram-se 17.254 respostas de todos os estados brasileiros. Como variável dependente, os autores utilizaram as respostas dadas pelos indivíduos para a pergunta acerca da adoção do nível de isolamento, sendo assim:

  • 1 = não pratico o isolamento;
  • 2 = pratico o isolamento parcialmente;
  • 3 = pratico o isolamento total.

As variáveis de controle são: área verde ou aberta, atividade física, variação nas horas de sono, indivíduos idosos, sexo e se acredita que o isolamento reduz o número de vítimas. Tirando a variável de sono, que possui três opções de resposta (dorme menos horas, dorme mais horas e não houve alteração das horas de sono), as outras variáveis todas são variáveis binárias.

A maioria dos respondentes são mulheres com uma faixa de renda entre 2 e 5 salários-mínimos (31,16%). Dos que responderam, em torno da metade possuem pós-graduação, enquanto 9,32% só possuem o ensino fundamental. Em relação ao nível de isolamento, as respostas variaram em: 11,2% não estão realizando o isolamento, 57,2% estão realizando o isolamento parcial e 31,4$ estão praticando o isolamento total. Ademais, importante salientar que 56% dos idosos estão praticando o isolamento total.

  1. Método

Foi utilizado uma regressão logística multinominal para estimar os efeitos marginais visto que este modelo permite o uso de variáveis dependentes que assumam mais de duas categorias, que é o caso desta variável dependente, conforme explicitado anteriormente. Com este modelo, obtém-se a probabilidade de que um indivíduo esteja em determinada categoria “j”.

  • Principais Resultados

Os resultados demonstram que a variável “idoso” apresenta maior magnitude no aumento da probabilidade de o indivíduo estar em isolamento total, o que é justificado como consequência prévia de que há maior risco de morte em pessoas idosas que contraem o corona vírus. As estimações também sugerem que os homens têm menor probabilidade de estar isolado e que o fato de a pessoa acreditar que o isolamento social ajuda a reduzir o número de vítimas da Covid-19 aumenta em 0,15 pontos percentuais a probabilidade de o indivíduo praticar o isolamento total. Essa crença talvez esteja relacionada com o temor com sua própria saúde, assim como, o medo de infectar outras pessoas. No qual as decisões de isolamento social portanto possuem avaliações de custo e benefícios do ponto de vista individual e da sociedade (Brooks et al., 2020; Bavel et al., 2020).

Em relação à área verde, os resultados demonstram que a presença desse espaço em sua residência representa um aumento na probabilidade de o indivíduo praticar o isolamento total. E aqueles indivíduos que praticam atividade física também apresentaram uma maior probabilidade de isolamento total. Os indivíduos que têm dormido mais horas apresentaram 0,017 pontos percentuais a mais de probabilidade de praticarem isolamento total em comparação com aqueles que não tiveram nenhuma variação na quantidade de horas e sono.  

      A variável área verde corrobora a relação entre qualidade da habitação e bem-estar, em que as características do espaço de convivência (temperaturas, qualidade da água e ar, limpeza, por exemplo) influenciam o bem-estar durante o isolamento social. Assim, os resultados sugerem que o acesso às áreas verdes ou abertas nas residências pode ser um atenuante aos desconfortos do isolamento social.

  1. Lições de Política Pública

Os resultados sugerem que as variáveis relacionadas ao bem-estar e conhecimento acerca dos riscos do covid-19 influenciam na prática de isolamento social. Entretanto, os autores salientam que esses dados se referem à uma parte da população com condições de renda e escolaridade mais elevados que a média nacional, o que, portanto, sugere a necessidade de uma análise complementar para conjuntos populacionais distintos. Porém, é o primeiro sinal de que se faz necessário levar em conta os fatores de bem-estar domiciliar ao desenvolver estratégias para enfrentar a pandemia.  

Referência

Influência das condições de bem-estar domiciliar na prática do isolamento social durante a Pandemia da Covid-19. Journal of Health & Biological Sciences, v. 8, n. 1, p. 1-7, 2020.