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ECONOMIA E GESTÃO.

Qual é o impacto dos robôs sobre o mercado de trabalho?

17 mar 2023

Pesquisadora responsável: Viviane Pires Ribeiro

Título do Paper:  Robots and Jobs: Evidence from US Labor Markets

Autores:  Daron Acemoglu e Pascual Restrepo

Localização da Intervenção:  Estados Unidos

Tamanho da Amostra: Trabalhadores industriais dos Estados Unidos

Grande tema: Mercado de Trabalho

Variável de Interesse principal: Emprego

Tipo de Intervenção: Adoção de robôs nas indústrias

Metodologia: Modelo econométrico

A disseminação de robôs, inteligência artificial e outras tecnologias de automação vêm levantando preocupações sobre o futuro dos empregos e salários. Nesse contexto, Acemoglu e Restrepo (2020) buscaram analisar o efeito do aumento no uso de robôs industriais entre 1990 e 2007 nos mercados de trabalho dos Estados Unidos. Usando um modelo no qual os robôs competem contra os trabalhadores, os resultados do estudo mostram que os avanços na tecnologia da robótica podem reduzir o emprego e os salários. De acordo com as estimativas, um robô a mais para cada mil trabalhadores reduz a relação emprego/população em cerca de 0,2 pontos percentuais e os salários em 0,42%.

Contexto da Avaliação

A tecnologia robótica avançou significativamente nas décadas de 1990 e 2000, levando um aumento no estoque de robôs industriais de quatro vezes o valor do estoque inicial nos Estados Unidos e na Europa Ocidental durante o período de 1993 e 2007. Nos Estados Unidos o aumento foi de um novo robô por mil trabalhadores, e na Europa Ocidental foi de 1,6 novos robôs por mil trabalhadores. A indústria automotiva emprega 38% dos robôs existentes, seguida pela indústria eletrônica (15%), plásticos e produtos químicos (10%) e produtos de metal (7%).

À medida que os robôs e as tecnologias de automação assumem as tarefas executadas pelo trabalho humano, há uma preocupação crescente com o futuro dos empregos e dos salários. Mesmo assim, tem havido relativamente pouco trabalho sobre os efeitos de equilíbrio de novas tecnologias de automação e, em particular, de robôs.

Detalhes da Intervenção

Apesar das preocupações com a disseminação de robôs, inteligência artificial e outras tecnologias de automação, há poucas evidências sistemáticas sobre o impacto de equilíbrio das tecnologias de automação, e especialmente dos robôs, no emprego e nos salários. Visando corroborar com a literatura que aborda esse tema, Acemoglu e Restrepo (2020) buscam investigar os efeitos dos robôs industriais nos mercados de trabalho locais dos Estados Unidos. De acordo com os autores, os robôs e as tecnologias de automação, em geral, deslocam os trabalhadores das tarefas que realizavam anteriormente e, portanto, devem ter efeitos no mercado de trabalho muito diferentes do aprofundamento do capital (poupança utilizada para aumentar a razão capital-trabalho) e outros tipos de mudanças tecnológicas.

No estudo, os autores consideram os robôs industriais como máquinas totalmente autônomas que não necessitam de um operador humano e podem ser programadas para realizar diversas tarefas manuais como soldagem, pintura, montagem, manuseio de materiais e embalagem. Teares têxteis, elevadores, guindastes ou faixas de transporte não são robôs, pois têm uma finalidade única, não podem ser reprogramados para executar outras tarefas e/ou requerem um operador humano. Assim, exclui outros tipos de equipamentos e permite uma medição internacional e temporalmente comparável de uma classe de tecnologias – robôs industriais – que são capazes de substituir o trabalho humano em uma série de tarefas.

Para realizar a análise, foram usados dados sobre emprego na indústria, massa salarial, valor agregado, participação no trabalho e capital. Os dados de emprego e massa salarial são do County Business Patterns (CBP) e NBER-CES. Enquanto os dados sobre valor agregado e participação no mercado de trabalho são do Bureau of Economic Analysis, e sobre capital de tecnologia de informação e estoque geral de capital do Bureau of Labor Statistics (BLS).

Detalhes da Metodologia

A abordagem empírica foi baseada em um modelo em que robôs e trabalhadores competem na produção de diferentes tarefas. O modelo baseia-se em outros estudos, mas permite que parcela de tarefas executadas por robôs varie entre setores e que haja comércio entre mercados de trabalho especializados em diferentes setores. Conforme a especificação do modelo, a maior adoção de robôs afeta negativamente os salários e o emprego devido a um efeito de deslocamento (já que eles deslocam diretamente os trabalhadores de tarefas que realizavam anteriormente), mas também há um efeito positivo de produtividade (à medida que outras indústrias e/ou tarefas aumentam sua demanda por mão de obra). Devido ao efeito de deslocamento, os robôs podem ter implicações muito diferentes para a demanda de trabalho do que o aprofundamento do capital ou as tecnologias de aumento de fator. Além disso, os efeitos dos robôs no emprego e nos salários podem ser estimados regredindo a mudança nessas variáveis na exposição aos robôs. A exposição aos robôs é construída a partir da interação entre as ações da indústria de linha de base em um mercado de trabalho local e as possibilidades tecnológicas para a introdução de robôs em todas as indústrias.

Primeiro, os autores documentam que há uma variação considerável na adoção de robôs entre os setores e mostram que os mesmos setores estão adotando robôs rapidamente nos Estados Unidos e na Europa. Além disso, mostram que, no nível da indústria, não há forte correlação positiva entre a adoção de robôs e outras tendências importantes que afetam os mercados de trabalho locais dos EUA, tais como a concorrência de importações da China, a concorrência do México, investimentos em capital de tecnologia de informação e aprofundamento de capital.

Resultados

Os resultados das estimativas indicam uma relação negativa entre a exposição de uma zona de deslocamento a robôs e seus resultados no mercado de trabalho após o ano de 1990. Entre 1990 e 2007, o aumento no estoque de robôs (aproximadamente um robô adicional por mil trabalhadores de 1993 a 2007) reduziu a proporção média de emprego para população em uma zona de deslocamento em 0,39 pontos percentuais e os salários médios em 0,77% (em relação a uma zona de comutação sem exposição a robôs). Esses números são consideráveis, mas não implausíveis. Por exemplo, eles implicam que mais um robô em uma zona de deslocamento reduz o emprego em cerca de 6 trabalhadores; esta estimativa inclui efeitos diretos e indiretos, sendo estes últimos causados pela queda na demanda por bens não comercializáveis em decorrência da redução do emprego e dos salários na economia local.

O maior uso de robôs em uma zona de deslocamento gera benefícios para o resto da economia dos Estados Unidos, reduzindo os preços dos bens comercializáveis produzidos com robôs e criando ganhos de capital compartilhados. As estimativas implicam que um robô a mais para cada mil trabalhadores reduz a taxa agregada de emprego para população em cerca de 0,2 pontos percentuais e os salários em cerca de 0,42% (em comparação com seus efeitos locais maiores, 0,39 pontos percentuais e 0,77%, respectivamente). Ou, equivalentemente, um novo robô reduz o emprego em cerca de 3,3 trabalhadores.

Os autores verificaram se a medida de exposição aos robôs não está relacionada às tendências anteriores de empregos e salários de 1970 a 1990, período que precedeu o início dos rápidos avanços na tecnologia robótica. Várias verificações de robustez reforçam os resultados obtidos. Primeiro, os resultados são robustos para incluir tendências diferenciais por várias características de linha de base, tendências de zona de comutação linear e controles para outras mudanças que afetam a demanda ou a produtividade em vários setores. Em segundo lugar, os testes mostram que a indústria automotiva, que é o setor mais intensivo em robôs, não está impulsionando os resultados. Em terceiro, de acordo com a ênfase teórica de que os robôs (e, de maneira mais geral, as tecnologias de automação) têm efeitos muito diferentes no mercado de trabalho do que outros tipos de maquinário e aprofundamento de capital, não encontrou-se nenhum impacto negativo semelhante do capital, outras medidas de tecnologia de informação ou aumentos gerais de produtividade.

Os efeitos no emprego causado pelo uso de robôs são mais pronunciados na manufatura e, em particular, nas indústrias mais expostas aos robôs. Eles também estão concentrados em atividades manuais de rotina, montagem e ocupações relacionadas. Também foram estimados efeitos negativos em construção, varejo e serviços pessoais.

Lições de Política Pública

Acemoglu e restrepo (2020) argumentam que existem relativamente poucos robôs na economia dos Estados Unidos, então o número de empregos perdidos devido aos robôs tem sido limitado até então (uma queda de 0,2 ponto percentual na taxa de empregos em relação à população ou cerca de 400.000 empregos). No entanto, se a tecnologia robótica continuar como esperado pelos especialistas nas próximas duas décadas, as futuras implicações agregadas dos robôs podem ser maiores. Assim, é crucial que qualquer extrapolação sobre os efeitos futuros dos robôs deva reconhecer não apenas a incerteza usual associada ao seu uso, mas também a possibilidade de que alguns dos efeitos de equilíbrio geral que funcionam por meio da tecnologia possam surgir apenas lentamente e que a resposta do emprego e dos salários pode ser diferente uma vez que os robôs se tornem suficientemente difundidos.

Nesse sentido, os autores destacam que a estrutura conceitual adotada no estudo indica que, em contraste com a presunção predominante nas discussões econômicas, as tecnologias de automação e não automação têm impactos distintos e diferentes e, portanto, as ondas tecnológicas de automação podem ter impactos diferentes, dependendo do equilíbrio entre os efeitos de deslocamento e produtividade. Logo, a próxima década provavelmente testemunhará grandes avanços em inteligência artificial, aprendizado de máquina, tecnologias de comunicação e novas tecnologias de fabricação, incluindo realidade aumentada e design modular.

Referências

ACEMOGLU, Daron; RESTREPO, Pascual. Robots and jobs: Evidence from US labor markets. Journal of Political Economy, v. 128, n. 6, p. 2188-2244, 2020.