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ECONOMIA E GESTÃO.

TREINAMENTO DE PROFESSORES PODE SER UM MEIO MENOS CUSTOSO E MAIS EFICIENTE PARA AUMENTAR AS NOTAS DOS ALUNOS?

15 set 2022

Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo

Localização da Intervenção: Jerusalém

Tamanho da Amostra: 880 alunos

Setor: Educação

Variável de Interesse Principal:  Pontuação do teste

Tipo de Intervenção: Aumentos orçamentais para a educação

Metodologia: Diferenças em Diferenças

Resumo

A questão de como as características dos professores afetam a aprendizagem dos alunos há muito tempo é motivo de preocupação para economistas, educadores e pais. A literatura sugere que pais estariam dispostos a pagar por professores mais qualificado, assim, havendo a necessidade de estimar o efeito das características dos professores nas notas dos alunos. Visando compreender ainda mais essa relação, os autores realizam uma análise através do método de Diferenças em Diferenças com escolas de Jerusalém em que os professores receberam um programa de treinamento. Os resultados sugerem que as escolas do grupo de tratamento obtiveram resultados mais altos nos testes aplicados de matemática e literatura.

  1. Problema de Política

Um estudo de Black (1999) sugere que os pais estariam dispostos a pagar por professores mais qualificados se soubessem que isso faria com que seus filhos aprendessem mais. A partir disso, surge inúmeros estudos que tentam estimar o efeito das características dos professores nas notas de seus alunos. Uma outra linha de pesquisa, observa o fato de como treinamentos específicos no local de trabalho afetam o desempenho do aluno, em que o treinamento no trabalho pode não ser menos importante do que as medidas de educação ou experiência geral mais amplamente estudadas. Segundo Farrell e Oliveira (1993), a formação inicial é essencial para ensinar a matéria, enquanto o treinamento em serviço é essencial para ensinar habilidades de ensino.

O objetivo deste artigo aqui analisado era contribuir para a literatura sobre os efeitos do treinamento em serviço através de uma avaliação da formação de professores no ensino fundamental das escolas de Jerusalém. Para isso, estimou-se o efeito causal de um programa de treinamento projetado para melhorar o ensino de competências linguísticas e matemáticas, nos resultados dos testes aplicados nos alunos.

  1. Contexto de Implementação e de Avaliação

     As escolas públicas em Jerusalém e em outros lugares em Israel são separadas em sistemas religiosos e seculares. Em 1995, algumas escolas públicas de Jerusalém receberam uma quantidade especial de fundos destinados principalmente à formação de professores no local de trabalho. Assim, foi possível conceder um tipo de treinamento aos professores de leitura e matemática baseado em estratégias pedagógicas amplamente utilizadas e originalmente desenvolvidas nas escolas dos Estados Unidos – “matemática humanística” e “instrução individualizada”[1].

     Foram selecionadas escolas para dois bairros de Jerusalém do Norte[2], além de outras vilas e cidades de Israel. Esses dois bairros escolhidos formam um bloco geográfico distinto, constituindo um distrito escolar autônomo com alta proporção de alunos imigrantes e níveis de desempenho inferiores à medida da cidade.

  1. Detalhes da Política/Programa

O objetivo da intervenção era aumentar a taxa de aprovação, aumentar as pontuações nos testes de desempenho, além de melhorar o clima escolar. Em que a intervenção ocorreu sob forma de aumentos orçamentais, embora em algumas cidades o dinheiro fosse destinado a determinados usos. Em Jerusalém, o dinheiro foi gasto principalmente na formação de professores, que ocorreu de forma conjunto a todos os professores das disciplinas relevantes de uma série e todos participaram. Os autores relatam que confirmaram que tais professores foram os mesmos que deram aulas para as crianças, com exceção de apenas um que se aposentou.

Em Jerusalém, um total de 10 escolas primárias foram afetadas, sendo 7 seculares e 3 religiosas[3]. Os autores apresentam dados para três datas: 1994, que é anterior ao programa de treinamento iniciado; 1995, que é o ano de início da formação; e 1996, que é um ano em que os insumos de formação permaneceram em um novo nível superior nas escolas tratadas.

O treinamento é medido como o total de horas de instrução recebidas por todos os professores em cada escola por semana, em média ao longo do ano letivo, e é registrado separadamente por leitura e matemática. Os dados demonstraram que houve um aumento acentuado em horas de treinamento oferecido aos professores nas escolas de tratamento secular entre 1994-1995 e 1995-1996. Os autores salientam que, em contraste com os dados sobre formação e despesas, as horas de instrução por aluno e a dimensão das turmas mantiveram-se essencialmente inalteradas tanto nas escolas tratadas como nas de controle.

Os testes foram baseados no material básico ensinado durante o ano em cada série. Entretanto, embora a intervenção tenha ocorrido em toda a escola, os únicos alunos para os quais se tem dados sobre as pontuações dos testes antes e depois do início da intervenção é a coorte de alunos da quarta série matriculados no ano letivo de 1993-1994. Logo, o estudo é limitado aos alunos da quarta série de 1994 nas escolas.

As escolas de controle foram selecionadas por comparabilidade e por razões práticas relacionadas à coleta de dados. Em que de 20 escolas candidatas ao grupo de controle, 11 escolas preencheram os critérios para inclusão no estudo.

  1. Método

Foi realizado o estudo para os dois tipos de escolas separadamente – sistemas religiosos e sistemas seculares -. Assim, 406 alunos fizeram o teste de leitura e 428 fizeram o teste de matemática nas escolas de tratamento secular, enquanto nas escolas de controle secular foram 405 alunos no teste de leitura e 420 no teste de matemática. Logo, a estratégia de avaliação compara a população de alunos de quarta série matriculados em escolas tratadas em 1994 com a população de alunos das escolas de controle.

Os autores utilizaram um modelo de Diferenças em Diferenças para realizar a análise de impacto. Assim, baseiam-se na suposição de que quaisquer diferenças entre alunos nos grupos de tratamento e controle são fixas ao longo do tempo, portanto, as observações repetidas sobre os mesmos alunos podem ser usadas para tornar os grupos de tratamento e controle comparáveis. Em que a variável de interesse principal é a pontuação do teste realizado pelo aluno.

As comparações de médias por status de tratamento realizadas no estudo, mostram que os alunos das escolas tratamento tiveram resultados mais baixos nos testes do que os alunos das escolas de controle em 1994, antes do início do tratamento. Assim, os alunos dos dois grupos não são diretamente comparáveis. Para corrigir esse viés, foi substituído os efeitos fixos pela suposição de que os alunos nas escolas de tratamento e controle são comparáveis condicionalmente a resultados de testes anteriores e outras covariáveis observadas.

  • Principais Resultados

       Os resultados para as escolas seculares não mostram nenhuma mudança significativa nos resultados dos testes das escolas de controle entre 1994 e 1996. Em contraste, os resultados dos testes aumentaram de forma considerável e significativa nas escolas de tratamento. Assim, a estimativa é de um aumento de 0,62 nas notas dos testes de leitura e 0,46 nos de matemática, para o período de 1994 a 1996.

       Já as estimativas para as escolas religiosas demonstram uma queda acentuada nas escolas tratadas. Entretanto, o tratamento nessas escolas começou posteriormente e a escala de intervenção foi menor, portanto, os autores salientam que seus resultados parecem ser menos confiáveis e de maior dificuldade de interpretação. Os resultados para controlar o viés explicado anteriormente, demonstram que a maior parte da diferença nas pontuações de 1994 entre os alunos de tratamento e controle permanece mesmo depois da aplicação do controle de viés.      

       Ao realizarem uma subamostra com as pontuações do teste de matemática, os achados são semelhantes aos da amostra completa. Assim, corroborando os resultados encontrados anteriormente.

  • Lições de Política Pública

         Os resultados encontrados por este estudo sugerem que o treinamento de professores pode vir a fornecer um meio menos custoso de aumentar as pontuações dos testes realizados pelos alunos de escola pública, salientando que tal intervenção pode ser uma alternativa em relação à redução do tamanho das turmas ou ao aumento do horário escolar.   

Referências

ANGRIST, Joshua D.; LAVY, Victor. Does teacher training affect pupil learning? Evidence from matched comparisons in Jerusalem public schools. Journal of labor economics, v. 19, n. 2, p. 343-369, 2001.


[1] Traduzido de: “[...] ‘humanistic mathematics’ and ‘individualized instruction’”.

[2] Neve Yaakov e Pisgat Zeev.

[3] Os autores salientam que uma das escolas religiosas foi retirada da análise, pois foi aberta após o início da intervenção.