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ECONOMIA E GESTÃO.

Como a COVID-19 afetou os mercados de ações?

16 maio 2022

Pesquisadora responsável: Viviane Pires Ribeiro

Título do Paper: How Do Equity Markets React to COVID-19? Evidence from Emerging and Developed Countries

Autores: Maretno Agus Harjoto, Fabrizio Rossi, Robert Lee, Bruno S. Sergi

Localização da Intervenção: Países emergentes e países desenvolvidos

Tamanho da Amostra: 76 países

Grande tema: Finanças

Variável de Interesse principal: Número de casos e óbitos por COVID-19

Tipo de Intervenção: Impacto da COVID-19 nos mercados de ações

Metodologia: Regressões multivariadas

O mundo está passando por um choque sem precedentes devido ao novo surto de coronavírus, também conhecido como COVID-19. Nesse ambiente de incertezas, várias pesquisas examinaram o impacto da COVID-19 nos retornos e na volatilidade do mercado de ações. Assim, o estudo realizado por Harjoto et al. (2021) estende esta literatura existente, examinando empiricamente o impacto da COVID-19 nos mercados de ações durante o período de janeiro a agosto de 2020.  Os resultados obtidos evidenciam que o choque adverso sem precedentes da COVID-19 sobre o crescimento econômico dos países se traduz em um choque negativo para os mercados de ações.

Contexto da Avaliação

A disseminação da COVID-19, medida pelo número de casos e óbitos, trouxe um choque adverso sem precedentes nas bolsas de valores. Inicialmente encontrada em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, na China, a COVID-19 se espalhou por 216 países e territórios. Ao contrário das outras doenças pandêmicas anteriores, como a Gripe aviária, Síndrome respiratória aguda grave (SARS), Gripe suína, Ebola e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) que aumentaram significativamente a volatilidade no mercado de ações, a COVID-19 apresentou o impacto mais forte na história desses mercados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), as agências governamentais e as mídias publicam diariamente o número de novos casos e mortes por COVID-19, o que evidenciam a velocidade de transmissão (casos) e a taxa de mortalidade (mortes) por esta pandemia durante os períodos de infecção crescente (antes de abril) e estabilização (pós-abril). No entanto, apesar de vários estudos examinarem o impacto da COVID-19 sobre o crescimento econômico e os mercados de ações, não foi identificado na literatura nenhum estudo que tenha analisado como os índices do mercado de ações em todo o mundo reagem aos casos diários e às taxas de mortalidade durante esses dois períodos de propagação da COVID-19. Além disso, observa-se que embora os estudos anteriores tenham examinado o impacto da COVID-19 nos países emergentes, nenhum destes compara o impacto da COVID-19 nos mercados de ações dos países emergentes com o impacto da COVID-19 nos mercados de ações dos países desenvolvidos.

Detalhes da Intervenção

Dado que a Organização Mundial da Saúde, as agências governamentais e as mídias continuam a fornecer o número diário de casos e mortes por COVID-19, o estudo realizado por Harjoto et al. (2021) contribui para a literatura ao explorar se e como os retornos, a volatilidade e o volume de negócios dos mercados de ações foram afetados pelas porcentagens de casos diários e mortes por COVID-19. O estudo também estende a literatura atual que se concentra principalmente em países desenvolvidos ou países emergentes conduzindo uma comparação direta do impacto da pandemia em 53 países emergentes e 23 países desenvolvidos.

Para realizar tal análise, a compilação de dados foi feita a partir dos números diários de novos casos, casos cumulativos e mortes que estão disponíveis no site do World Health Organization Situation Report a partir de 14 de janeiro de 2020 até 20 de agosto de 2020. Após pesquisas na web para diferentes países, os autores observaram que 78 dos 216 países e territórios têm índices de ações. Os dados diários dos principais índices de ações de 77 países foram baixados do terminal da Bloomberg. O índice do mercado de ações do Irã foi recuperado no site da Bolsa de Valores de Teerã. Dois países (ou seja, Bangladesh e Kuwait) não tinham informações sobre índices de ações, volume de negócios ou volatilidade e foram excluídos da amostra.

Os autores mesclaram os dados da OMS com os dados dos índices de ações com base nos nomes dos países e datas. Após excluir as observações ausentes, a amostra final consistiu em 8.985 observações de 76 países. A amostra também foi dividida em 5.940 observações de 53 países emergentes e 3.045 observações de 23 mercados desenvolvidos com base na classificação de mercado Morgan Stanley Capital International (MSCI).

Desse modo, os autores consideraram dois períodos de subamostra: o período de infecção crescente por COVID-19, entre 14 de janeiro a 31 de março de 2020 (antes de abril), onde as taxas de infecção aumentaram rapidamente; e o período de estabilização de infecção, abrangendo o período de 1º de abril a 20 de agosto de 2020 (pós-abril), onde as taxas de infecção começam a diminuir e se tornar mais estáveis.

Detalhes da Metodologia

Para contabilizar as variações nos casos e mortes por COVID-19 em diferentes países, Harjoto et al. (2021) calcularam a porcentagem de aumento diário (porcentagem de novos casos) como os novos casos diários divididos pelos casos cumulativos para medir a velocidade de transmissão. A taxa de mortalidade diária (porcentagem de novas mortes) foi calculada como as novas mortes diárias divididas pelos casos cumulativos. Foram calculadas também a porcentagem dos retornos diários do índice de ações (RET) para cada país. Seguindo a combinação da hipótese de distribuição, os autores usaram o volume diário de negociação (TVOLUME) e a volatilidade de 30 dias (VOLAT) como as duas medidas de volatilidade nos mercados de ações. Por fim, foram utilizados o log natural do volume de negociação diária (log natural de TVOLUME ou VOLUM) para reduzir a assimetria do volume de negociação diária.

As regressões multivariadas foram utilizadas para examinar o impacto do aumento percentual diário no número de casos e mortes devido à COVID-19 no retorno diário (RET), na volatilidade (VOLAT) e no logarítmico natural do volume de negociação (VOLUM). A defasagem de um dia de RET, VOLAT e VOLUM foi incluída para controlar a autocorrelação e as características de reversão à média do retorno das ações, volatilidade e volume de negociação. Os autores incluíram variáveis dummy mensais (com agosto como a dummy excluída) e 75 variáveis dummy de país (com Estados Unidos como a dummy excluída) a fim de controlar as diferenças nas características do mercado de ações em diferentes meses e países.

Resultados

Os resultados obtidos mostram que os mercados de ações globais em 76 países reagiram negativamente aos spreads da COVID-19, medidos pela porcentagem de novos casos diários e pela taxa de mortalidade. Os resultados evidenciam que os investidores retiraram seus investimentos em ações quando testemunharam uma transmissão crescente (surgimento de novos casos) e o aumento no número de mortes por COVID-19, o que resultou em retornos menores, maior volatilidade e maior volume de negociação.

Isto é, foram encontradas fortes evidências de que um aumento nos casos diários e nas taxas de mortalidade afetam adversamente o retorno diário dos mercados de ações. Os casos diários e a taxa de mortalidade aumentam a volatilidade diária e o volume diário de negociação. Os resultados sugerem que esses impactos são estatisticamente e economicamente significativos. Também sugerem que os casos diários e as taxas de mortalidade afetam o retorno diário, a volatilidade e o volume de negócios nos países emergentes. Em contraste, apenas os casos diários afetam o retorno diário, a volatilidade e o volume de negócios nos países desenvolvidos. A análise indica que os casos de COVID-19 e as taxas de mortalidade afetam significativamente o retorno diário das ações, a volatilidade e o volume de negociação durante o período com taxa crescente de infecção. Os casos e taxas de mortalidade afetam apenas a volatilidade durante o período de estabilização da infecção. Esta última descoberta apoia a hipótese overreaction e indica que os mercados de ações parecem ter uma overreaction durante o período de infecção crescente.

Lições de Política Pública

Harjoto et al. (2021) argumentam que a produtividade das empresas determina o retorno do mercado de ações. Como os países em todo o mundo instituíram bloqueios e pedidos para ficar em casa, o surto de COVID-19 trouxe interrupções globais significativas para atividades econômicas, tais como cadeias de abastecimento, produções e consumos. Os investidores traduziram essas interrupções nas atividades econômicas retirando imediatamente seus investimentos dos mercados de ações, o que gerou retornos negativos, maior volatilidade e maior volume de negócios. Com base na teoria institucional, Harjoto et al. (2021) levantam a hipótese de que o impacto da COVID-19 nos mercados emergentes é diferente dos impactos nos mercados desenvolvidos. A pesquisa encontrou comportamentos de investimento diferentes entre mercados emergentes e desenvolvidos, como estrutura de risco e retorno, assim, os autores acreditam que o impacto da COVID-19 será diferente entre esses dois mercados.

O estudo estende a literatura recente que apresenta a hipótese de overreaction do mercado à COVID-19, demonstrando que há um efeito temporário dos casos de COVID-19 e das taxas de mortalidade nos mercados de ações durante o período de aumento das infecções (antes de abril) e o período de estabilização (pós-abril). Descobriu-se que as reações do mercado são menores durante o período de estabilização. Esta descoberta apoia a evidência de que os investidores podem discernir informações relevantes sobre os reais impactos da COVID-19 e as ramificações dos bloqueios na economia e nas atividades de negócios das empresas. Além disso, o estudo fornece uma visão sobre como os mercados emergentes e desenvolvidos podem reagir se uma segunda ou terceira onda de COVID-19 aparecer ou se as vacinas forem comprovadamente úteis para conter a disseminação do vírus.

Referências

Harjoto, M. A., Rossi, F., Lee, R., & Sergi, B. S. (2021). How do equity markets react to COVID-19? Evidence from emerging and developed countries. Journal of Economics and Business115, 105966.