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ECONOMIA E GESTÃO.

O AMBIENTE FAMILIAR E AS EXPERIÊNCIAS NO INÍCIO DA VIDA TÊM INFLUÊNCIA SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES COGNITIVAS?

14 jul 2023

Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo

Autor: James J. Heckman

Localização da Intervenção: -

Tamanho da Amostra: -

Setor: Educação

Variável de Interesse Principal: Habilidades cognitivas e não cognitivas

Tipo de Intervenção: Ambiente familiar

Metodologia: -

Resumo

            Neste artigo, foi feita uma síntese geral de vários estudos que analisam o desenvolvimento humano e a relação com os ambientes e as experiências no início da vida. Heckman apresentou diversas referências que salientam tal relação, além de uma análise sobre a taxa de retorno das intervenções realizadas e uma análise sobre os programas de segunda chance. Por fim, foi concluído que existe um grande impacto do ambiente inicial da criança no seu desenvolvimento cognitivo. Além de reforçar que as intervenções precoces voltadas para crianças desfavorecidas têm retornos muito mais altos do que intervenções posteriores

  1. Problema de Política

 A literatura conclui que praticamente todos os aspectos do desenvolvimento humano inicial, desde os circuitos em evolução do cérebro até a capacidade de empatia da criança, são afetados pelos ambientes e experiências às quais a criança teve contato, entre o período do pré-natal e ao logo dos primeiros anos da infância. Visto que os primeiros ambientes familiares são os principais preditores de habilidades cognitivas e não cognitivas (Carneiro e Heckman, 2003; Cunha et al., 2006).

Segundo o autor, isto ocorre por causa de duas características que estão intrínsecas na natureza da aprendizagem: (i) a aprendizagem precoce dá um “valor” às habilidades adquiridas levando, consequentemente, à um “auto incentivo” para aprender mais; (ii) o domínio precoce das competências cognitivas, sociais e emocionais tornam a aprendizagem em idades posteriores mais eficientes (Shonkof e Phillips, 2000).

  1. Contexto de Implementação e de Avaliação

            Muitos dos principais problemas econômicos e sociais podem ser atribuídos aos baixos níveis de qualificação e habilidade da população. Nos Estados Unidos haverá muito menos graduados incluídos na sua força de trabalho nos próximos 20 anos do que nos últimos anos, onde também é importante salientar, que mais de 20% da força de trabalho americana é analfabeta funcional (Delong, Katz e Goldi, 2003; Ellwood, 2001; Statistics Canada, 2002).

            A pesquisa realizada demonstrou o surgimento precoce e a persistência de lacunas nas habilidades cognitivas e não cognitivas. Em que ambientes que não estimulam e não incentivam essas habilidades desde cedo, colocam as crianças em desvantagem precoce. Segundo o Colema Report, são as famílias, e não as escolas, que são as principais fontes de desigualdade de desempenho dos alunos (Coleman, 1966).

            Portanto, sendo uma fonte de preocupação, visto que os ambientes familiares se deterioram. Cada vez mais crianças americanas tem nascido de mães adolescentes ou vivendo com “pais-solos”, em que tais situações estão associadas às práticas parentais inadequadas e à falta de estimulação cognitiva e não cognitiva positiva (Heckman e Masterov, 2004). Ou seja, tais desvantagens são poderosos preditores de fracasso adulto em medidas sociais e econômicas.

  • Detalhes da Política/Programa

            Heckman, portanto, passa a discutir o Perry Preschool Program (Schweinhart et al., 2005) que é uma intervenção experimental de 2 anos para crianças afro-americanas desfavorecidas com idade entre 3 e 4 anos. Esse programa envolvia programas matinais na escola e visitas vespertinas do professor à casa da criança.

            Também foi discutido o “momento certo” para investir em políticas de “segunda chance”. Em que o autor salienta que se a sociedade espera muito para compensar, é economicamente ineficiente investir nas habilidades dos menos favorecidos, até porque, programas de recuperação na adolescência e na idade adulta-jovem são muito mais caros para produzir o mesmo nível de aquisição de habilidades. Ou seja, a maioria desses problemas são economicamente ineficientes.

  1. Método de Avaliação

O autor fez uma avaliação experimental em que as crianças tinham como idade inicial 3 ou 4 anos, e foram acompanhadas até os +40 anos.

Além disso, o auto comenta sobre um estudo randomizado realizado por Carneiro e Heckman (2003), onde foi analisado o custo-benefício do tamanho da sala de aula sobre os rendimentos dos adultos para o Tennessee.

  1. Principais Resultados

            O grupo tratado pelo Perry teve escores de QI, aos 10 anos de idade, não mais altos do que o grupo de controle. No entanto, as crianças do tratamento tiveram escores de teste de desempenho mais altos do que das crianças do grupo de controle, pois estavam mais motivadas para aprender. Nos acompanhamentos até os 40 anos, o grupo tratado apresentou taxas mais altas de conclusão do ensino médio, assim como, salários mais altos, taxas menos de recebimento de assistência social e menos prisões quando comparado aos indivíduos do grupo de controle (Schweinhart et al., 2005). Resultados semelhantes são obtidos para outros programas de intervenção precoce (Karoly et al., 1998; Masse e Barnett, 2002).

            Na terceira série, as diferenças nas pontuações dos testes entre os grupos socioeconômicos são estáveis por idade, sugerindo, segundo Heckman, que a escolarização posterior e as variações na qualidade da educação têm pouco efeito na redução ou ampliação das lacunas que aparecem antes dos alunos iniciarem o período escolar (Cunha et al., 2006).

            Os resultados para o tamanho da sala de aula no estudo de Heckman e Carneiro (2003) demonstraram algum efeito do tamanho reduzido da sala de aula nas pontuações dos testes e no desempenho de adultos. Porém, importante salientar que a maior parte do efeito foi encontrada nas primeiras séries. Portanto, as escolas e a qualidade escolar com os atuais níveis de financiamento contribuem pouco para o surgimento de diferenças no desempenho em testes ou para o desenvolvimento.

            A Figura 1 apresenta a taxa de retorno, ou seja, o fluxo de dólares de uma unidade de investimento em cada idade para um investimento marginal em uma criança desfavorecida. Em que mostra que o retorno econômico das intervenções precoces é alto, já o retorno das intervenções realizadas posteriormente é menor.  Portanto, a Figura 1 salienta que, com os atuais níveis de financiamento, é investimento demais na maioria dos programas escolares e pós-escolares, mas tem pouco investimento em programas pré-escolares para pessoas desfavorecidas.

            A partir desses achados, o autor conclui que as intervenções precoces voltadas para crianças desfavorecidas têm retornos muito mais altos do que intervenções posteriores.

Figura 1: Taxas de Retorno do Investimento em Capital Humano em Crianças Desfavorecidas

Fonte: Heckman (2006).

  1. Lições de Política Pública

Em sua conclusão, o autor enfatiza que investir em crianças pequenas desfavorecidas é uma rara iniciativa de política pública que promove equidade e justiça social e, ao mesmo tempo, promove a produtividade na economia e na sociedade como um todo. Porém, os níveis atuais, a sociedade investe demais em habilidades corretivas em idades posteriores e subinveste nos primeiros anos. Isto é, o autor frisa a necessidade de alterar a época em que ocorre os investimentos em habilidades corretivas.

Referências

Carneiro, P.; Heckman, J. J. (2003). Inequality in America: What Role for Human Capital Policies?

Coleman, J. S. (1966). Equality of Educational Opportunity. U.S. Department of Health, Education, and Welfare, Office of Education, Washington, DC.

Cunha, F.; Heckman, J. J.; Lochner, L.; Masterov, D. V.; Hanushek, E. A.; Welch, F. (2006). Handbook of the Economics of Education. Chap. Interpreting the Evidence on Life Cycle Skill Formation, 1, 697-812.

Delong, J. B.; Katz, L.; Goldin, C. (2003) in Agenda for the Nation, 17-60. Aaron, H.; Lindsay, J.; Nivola, P. Eds. Brookings Institution Press, Washington, DC.

Ellwood, D. T. (2001) in The Roaring Nineties: Can Full Employment Be Sustained? 421-489. Krueger, A.; Solow, R. Eds. Russell Sage Foundation, New York.

Heckman, J. J.; Masterov, D. V. (2004). The Productivity Argument for Investing in Young Children. Working Paper No. 5, Committee on Economic Development, Washington, DC.

Karoly, L. A. et al. (1998). Investing in Our Children: What We Know and Don’t Know About the Costs and Benefits of Early Childhood Interventions. RAND, Santa Monica, CA.

Masse, L. N.; Barnett, W. S. (2002). A Benefit Cost Analysis of the Abecedarian Early Childhood Intervention. Rutgers University, National Institute for Early Education Research, New Brunswick, N.

Schweinhart, L. J. et al. (2005). Lifetime Effects: The High/Scope Perry Preschool Study Through Age 40. High/Scope, Ypsilanti, MI.

Shonkoff, J. P.; Phillips, D. (2000). From Neurons to Neighbourhoods: The Science of Early Child Development. National Academies Press, Washington, DC.

Statistics Canada (2002). International Adult Literacy Survey, 2002: User’s Guide, Statistics Canada, Special Surveys Division, National Literacy Secretariat, and Human Resources Development Canada. Ottawa, Ontario.