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ECONOMIA E GESTÃO.

O gênero é importante para a liderança política?

09 nov 2021

Pesquisadora responsável: Viviane Pires Ribeiro

Título do artigo: DOES GENDER MATTER FOR POLITICAL LEADERSHIP? THE CASE OF US MAYORS

Autores do artigo: Fernando Ferreira e Joseph Gyourko

Localização da intervenção:  Estados Unidos

Tamanho da amostra: 5.500 eleições

Setor: Gênero

Tipo de Intervenção: Análise do impacto da participação feminina no poder executivo

Variável de interesse principal: Participação feminina
no poder executivo

Método de avaliação: Regressão Descontínua

Contexto da Avaliação        

Embora as mulheres continuem sendo sub-representação na maioria dos cargos econômicos e políticos, nas últimas décadas houve um aumento significativo no número de mulheres assumindo cargos de liderança nos setores público e privado de muitos países. Essa mudança atraiu o interesse de economistas e outros cientistas sociais que desejam compreender as implicações da liderança feminina (ou a falta dela, conforme o caso) para os resultados das políticas públicas.

Os governos locais nos Estados Unidos (EUA) experimentaram um aumento significativo da participação feminina na política. Até os anos 1970, um número insignificante de mulheres participava das eleições locais para prefeito. No entanto, a participação feminina aumentou para cerca de um terço nas eleições para prefeito antes de se estabilizar por volta de 1995. A porcentagem de mulheres que ganharam as eleições para prefeito aumentou de 2% em 1970 para mais de 15% nos últimos anos. As candidatas normalmente tinham menos de 50% de probabilidade de ganhar em 1965 até meados da década de 1990. Após tal período, essa probabilidade se alinhou perto da linha de 50%.

Detalhes da Intervenção

Ferreira e Gyourko (2014) investigam o impacto da participação feminina no poder executivo das cidades dos EUA, utilizando informações de mais de 5.500 eleições realizadas em 575 cidades entre 1950 e 2005. O estudo se difere da pesquisa existente porque é o primeiro a focar nas mulheres em cargos de chefia executiva no setor público local, não na participação legislativa. O fato de prefeitos terem poder executivo pode facilitar a realocação de recursos em uma cidade para atender às preferências políticas de alguém específico. Os legisladores, por outro lado, têm que negociar com outros representantes (possivelmente o executivo) para aprovar a legislação, de modo que o impacto adicional de uma legisladora pode não ser tão eficaz ou pode ser perceptível somente quando são observados choques de grande participação.

Os dados eleitorais para prefeitos utilizados no estudo de Ferreira e Gyourko (2014) são uma versão atualizada da amostra descrita em Ferreira e Gyourko (2009). A maioria das informações é baseada nas respostas de uma pesquisa enviada a todas as cidades e distritos dos Estados Unidos com mais de 25.000 habitantes no ano de 2000. Foram solicitadas as seguintes informações: o momento (ano e mês) de todas as eleições para prefeito desde 1950; o nome do prefeito eleito e do candidato em segundo lugar; o total de votos e os totais de votos para cada candidato; afiliação partidária; tipo de eleição e algumas informações adicionais relativas a eventos específicos, como segundo turno e eleições especiais.

As informações sobre as variáveis ​​de finanças públicas locais foram combinadas com os dados eleitorais. Os dados das finanças públicas abrangem os anos fiscais 1950-2005 e foram obtidos de duas fontes diferentes: a Historical Data Base of Individual Government Finances (1970-2005) e a Census Bureau City Finances Series (1950-1969). As variáveis ​​de finanças públicas locais incluem medidas de receitas e impostos, gastos (em operações correntes e bens de capital), empregos (em tempo integral e parcial), bem como dados distributivos relativos a parcelas de gastos com trabalho, segurança pública e parques e recreação.

Os índices de crime foram combinados com os dados eleitorais para estimar o potencial efeito de gênero do prefeito sobre a eficiência da aplicação da polícia: assassinato e assalto (crimes violentos), bem como roubo e furto (crimes contra a propriedade). Os dados do crime estão disponíveis no nível do distrito policial nos relatórios "Uniform Crime Reporting" emitidos pelo FBI e pelo Departamento de Justiça.

Detalhes da Metodologia

Para investigar o impacto da participação feminina no poder executivo das cidades dos EUA, Ferreira e Gyourko (2014) utilizam um design de regressão descontínua (RD) para lidar com a endogeneidade da candidatura feminina às características da cidade. Mais especificamente, os autores comparam os resultados de curto e longo prazo em eleições em que uma candidata quase não vence um candidato do gênero masculino com aqueles em que uma candidata quase não perde para um candidato do gênero masculino.

Um procedimento de duas etapas foi empregado para a atribuição de gênero aos candidatos a prefeito. Em primeiro lugar, todos os nomes próprios foram combinados com uma lista do Censo de nomes próprios comuns. Se o nome próprio foi estimado pelo Censo como sendo de um gênero específico em mais de 99% das vezes, então o nome foi atribuído como sendo desse gênero. Por exemplo, os dados do Censo mostram que mais de 99% de todos aqueles com o nome “Robert” eram do sexo masculino. Portanto, qualquer candidato cujo primeiro nome seja “Robert” é considerado do sexo masculino. Aproximadamente 80% dos candidatos tinham um nome distintamente masculino ou feminino com base neste critério. Para os candidatos com nomes ambíguos (por exemplo, Casey, Pat, Leslie), os autores procuraram evidências do gênero do candidato. Essa segunda etapa foi realizada por meio de buscas na internet, e-mails e ligações telefônicas. As buscas na Internet geralmente eram de sites do governo local e arquivos de jornais locais com artigos e fotos. Pesquisas semelhantes foram feitas nos casos em que faltavam dados sobre os primeiros nomes.

Resultados

Em contraste com a maioria das pesquisas sobre a influência da liderança feminina, Ferreira e Gyourko (2014) não encontraram impacto de gênero em uma variedade de resultados locais, como a composição dos gastos municipais e do emprego municipal, o tamanho do governo municipal representado pelo gasto total ou emprego, ou taxas de criminalidade local. Esses resultados são válidos tanto no curto prazo quanto no longo prazo.

Os autores também investigam se o efeito titular difere por gênero do candidato a prefeito. Mesmo que as características da cidade sejam bastante semelhantes para eleições fechadas, os eleitores ainda podem ter visões pré-determinadas (ou seja, discriminatórias) sobre as mulheres, podendo prejudicar as chances de uma candidata do sexo feminino vencer a eleição. Nesse caso, as mulheres que tomam posse “aleatoriamente” de acordo com a abordagem de regressão descontínua devem ter maiores habilidades não observadas do que o candidato correspondente. Isso, por sua vez, poderia se traduzir em maiores probabilidades relativas de reeleição, uma vez que essas líderes teriam a chance de demonstrar sua capacidade política superior enquanto ocupam o cargo de prefeito. Por outro lado, a discriminação ainda pode ser poderosa enquanto as mulheres estão no cargo, prejudicando o desempenho e, potencialmente, levando a taxas de reeleição menores. Nesse sentido, os resultados sugerem que as prefeitas são politicamente mais habilidosas em comparação aos prefeitos. Essa lacuna de gênero no efeito titular é considerável: pelo menos 5 pontos percentuais em uma probabilidade média incondicional de reeleição feminina de 56%.

Lições de Política Pública

De acordo com Ferreira e Gyourko (2014) a eleição de líderes femininas ainda pode gerar repercussões políticas importantes, mesmo na ausência de qualquer impacto sobre os resultados das políticas. Por exemplo, pode aumentar as chances de sucesso de outras mulheres no futuro. No entanto, a análise realizada pelos autores conclui que eleger aleatoriamente uma mulher para prefeita não produz taxas de sucesso maiores para outras mulheres a curto ou longo prazo. No futuro imediato, as altas taxas de reeleição de mulheres no cargo naturalmente anulam a participação de outras candidatas. Nenhum efeito adicional é evidente uma ou duas décadas após a eleição inicial. Os autores também testaram se uma prefeita afeta as taxas de sucesso feminino em outras eleições, como nos distritos eleitorais locais, mas não encontraram evidências de tais repercussões.

Embora as prefeitas não tenham implementado políticas diferentes, elas parecem ter maiores habilidades políticas não observadas, já que possuem um efeito de titularidade pelo menos 5 pontos percentuais maiores do que um candidato do gênero masculino. No entanto, os autores não encontraram evidências de repercussões políticas: a eleição exógena de uma prefeita não muda o sucesso político de longo prazo de outras candidatas a prefeita na mesma cidade ou de candidatas nas eleições locais para o congresso.

Esses resultados sugerem que os ambientes em que as mulheres possuem poder político influenciam a relevância do gênero para as políticas e resultados políticos. Por exemplo, pode ser mais difícil mudar a política quando mulheres assumem posições de liderança, sem o benefício de cotas ou reservas políticas. Ademais, a natureza do ambiente político e econômico no qual as cidades competem nos Estados Unidos não oferece muito espaço para políticas redistributivas, e os políticos locais podem ser mais sensíveis às preferências do eleitor mediano.

A intensa competição entre os governos locais pode impedir que o gênero influencie os resultados das políticas, uma vez que impedem que os partidos políticos implementem políticas divergentes. Além disso, os tipos de políticas relevantes para o governo local podem também desempenhar um papel importante na mitigação das potenciais mudanças políticas que resultam da eleição de uma líder feminina. Responsabilidades econômicas como tributação local e provisão de serviços básicos são atribuições do governo municipal, enquanto questões sociais mais polêmicas como aborto e controle de armas não são.

Referências

FERREIRA, Fernando; GYOURKO, Joseph. Does gender matter for political leadership? The case of US mayors. Journal of Public Economics, v. 112, p. 24-39, 2014.