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ECONOMIA E GESTÃO.

Os programas de atendimento pós-escola melhoram o desempenho acadêmico das crianças?

05 mar 2021

Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo

Título do artigo:  AFTER-SCHOOL EFFECTS ON STUDENTS’ ACADEMIC OUTCOMES: EVIDENCE FROM CHILE

Autores do artigo: Claudia Martínez A. e Marcela Perticará

Localização da intervenção:  Chile

Tamanho da amostra: 2.556 crianças

Setor:  Educação

Tipo de Intervenção: Programa Pós-Escola para Crianças e 6 a 13 anos

Variável de interesse principal: Notas e Frequência Escolar

Método de avaliação:  Avaliação Experimental (RCT)

Problema de Política

Políticas de acolhimento de crianças têm sido adotadas em diferentes países com o objetivo de aumentar a taxa de matrícula na educação pré-primária no mundo todo. A literatura demonstra que há um impacto negativo nos resultados cognitivos das crianças quando são colocadas em cuidados infantis informais em comparação com as crianças que receberam cuidado de centros formais.

O impacto das crianças terem o aumento de horas em dias letivos foi analisado países em desenvolvimento, onde encontrou-se uma diminuição na gravidez durante a adolescência e melhorias nas notas de leitura e matemática no Chile (Berthelon e Kruger, 2011; Bellei, 2009). Já para países desenvolvidos, a literatura internacional demonstrou que o impacto apareceu no aumento das taxas de matrícula na faculdade, no desempenho em matemática, inglês e ciências.

Estudos de países desenvolvidos demonstram que a qualidade deste tipo de programa é importante para o sucesso dessa intervenção. Dado que a percepção da qualidade do programa pode causar um sentimento de confiança nas mães, deixando-as confortáveis para trocar os cuidados informais por cuidados formais, onde seus filhos terão um ambiente seguro.

Contexto de Avaliação

Os chamados programas pós-escola (ASP) são executados com a supervisão de adultos, garantindo atividades como, por exemplo, de realização do dever de casa, interação social, lanches, esportes e entre outros. As avaliações desse tipo de programa sugerem que os alunos em situação de risco beneficiam-se mais com os ASPs em países desenvolvidos (Levine e Zimmerman, 2010).

No Chile, o programa “4-to-7” tem como objetivo aumentar a participação na força de trabalho de mães ou mulheres responsáveis por cuidar de crianças de 6 a 13 anos. Assim, ele funciona no decorrer da semana durante três horas após a escola, com horários variados, mas a maioria oferece das 16h às 19h. Dessa forma, o programa cumpre com o objetivo do programa de ofertar tempo livre para que as mulheres pudessem ir procurar um emprego.

Detalhes da Política/Programa

O programa foi implementado em municípios com uma quantidade satisfatória de crianças de 6 a 13 anos e que se esperava uma participação feminina na força de trabalho. Assim, as escolas se inscrevem para sediar o programa e são selecionadas com base nesses três critérios: se possuem infraestrutura adequada, se possuem outros programas ASP e, se possível, se a pontuação no Sistema de Medição de Qualidade da Educação (SIMCE) melhorou.

As mães que se inscrevem no programa a partir das escolas devem ser economicamente ativas, terem mais de 18 anos, trabalhar ou morar no município da escola e ter pontuação baixa na escala de segmentação socioeconômica. Essas mães deveriam preencher um formulário especificando quantas crianças iriam participar, dados demográficos, escolaridade, características socioeconômicas e dados sobre trabalho individual e familiar.

Assim, os alunos participantes do programa tinham em média 9,7 anos, estavam na 4ª série e 47% eram do sexo feminino. A nota média do ano anterior foi 5,6 e a frequência média de 89%[1]. As mães tinham em média 37 anos, 2,2 filhos, 53% delas eram chefes de família e 61% estava usando algum tipo de creche no início do estudo. A média de anos de escolaridade dessas mães era de 9,4 anos e, por fim, a renda familiar per capita era de US$ 116.

As mães chilenas relatam que 45% das crianças ficam com algum dos pais pós escola, sendo 40% com a mãe e apenas 4,5% ficam com o pai. Enquanto 11% das crianças foram deixados sozinhos em casa, 19% ficam com os avós e 27% com irmãos, vizinhos ou outra família.

Detalhes da Metodologia

O ASP foi implementado em 25 escolas no ano de 2012. As vagas foram preenchidas através de uma seleção aleatória, utilizando como unidade de aleatorização a mãe. Quando selecionada, era ofertada vaga para todas as crianças relacionadas no formulário preenchido anteriormente pela mãe. Também foi feita uma estratificação na aleatorização, através do status de trabalho antes do ASP e se possuíam filhos menores de 5 anos.

Como a qualidade do programa também desempenha um papel importante em relação aos cuidados alternativos, foi criado um índice que captura a qualidade da infraestrutura, professores, materiais e atitude das crianças. Isso permitiu que as autoras pudessem estimar um possível impacto de programas de alta qualidade na vida escolar das crianças participantes.

Através da aleatorização, construiu-se uma amostra de 1.358 crianças no grupo de tratamento e 1.208 no grupo de controle. Dessa forma permitindo a estimação da intenção de tratar para a observação de efeitos médios e heterogêneos no grupo de tratamento.                                                                                            

Resultados

Em relação aos efeitos médios, o programa não teve nenhum impacto nas taxas médias de atendimento, mas apresentou um efeito positivo, de pequena magnitude, porém significativo apenas para notas de educação física. Segundo as autoras, isso é consistente com o fato de que o ASP oferecia principalmente oficinas de artes e esportes, reservando apenas 30 minutos para o dever de casa.

Ao observar os efeitos heterogêneos, os resultados demonstram um impacto positivo do “4-to-7” nas notas dos alunos que não ficavam com os pais pós-escola, apresentando um aumento de uma casa decimal no GPA geral[2]. O impacto em arte é de um aumento de 1,4 decimais e em língua e literatura em 12,8 decimais, além de aumentar a probabilidade de o aluno participante estar acima da mediana em 7,1 pontos percentuais.

O programa pode proporcionar um ambiente seguro para aquelas crianças que eram deixadas sozinhas no período pós escola. Para essas crianças foram encontrados efeitos maiores, com um impacto de 3 pontos percentuais nas taxas de frequências. Em relação a qualidade do programa, os resultados apontam que não afeta a frequência escolar, mas afeta de forma positiva as notas do GPA geral, arte e da probabilidade da criança participante estar acima da mediana na distribuição de notas – um aumento de 10 pontos percentuais em relação aos alunos de programas que apresentam baixa qualidade.

Em outro estudo, Martínez e Perticará (2017) demonstraram que o ASP também aumenta o emprego feminino. Logo, as autoras argumentam que o programa pode ter um efeito no currículo através das notas e um efeito indireto no aumento da renda disponível, através dos empregos femininos e da redução nos custos com os cuidados das crianças. Em relação ao emprego feminino, os resultados demonstram que não é o tipo de creche ou a qualidade do programa que impactam esse fator, mas sim a prestação de cuidados formais para as crianças em vez de cuidados informais.

Lições de Política Pública

O programa pós-escola realmente não possui, em média, um impacto na frequência e nas notas. Entretanto, para crianças que eram deixadas sozinhas nesse período, o ASP teve um impacto maior e significativo. Além disso, demonstrou-se que não importa apenas a existência do programa e sim que haja qualidade no ASP para que exista sucesso nos resultados das crianças. Logo, seguindo as evidências encontradas, a qualidade do programa é o foco para atingir os resultados esperados neste tipo de intervenção.

Referência: MARTINEZ, Claudia et al. After-School Effects on Students' Academic Outcomes: Evidence from Chile. 2018.


[1] No Chile, as notas variam de 1 a 7. Sendo que para a aprovação é necessário no mínimo atingir uma nota 4 e ter 85% de frequência.

[2] GPA é a média de notas.