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ECONOMIA E GESTÃO.

Altura e sobrevivência infantil: medida de bem-estar familiar

10 ago 2020

Pesquisador responsável: Viviane Pires Ribeiro

Título do paper: CHILD SURVIVAL, HEIGHT FOR AGE AND HOUSEHOLD CHARACTERISTICS IN BRAZIL

Autores do artigo: Duncan Thomas, John Strauss and Maria-Helena Henriques

Localização da intervenção: Brasil

Tamanho da amostra: 41.233 agregados familiares

Grande tema: Saúde

Variável de interesse principal: Altura e Taxa de sobrevivência infantil

Tipo de intervenção: Estudo por região das variáveis domésticas que influenciam a altura e a sobrevivência infantil

Método de avaliação: Avaliação Experimental (RCT)

Contexto da Avaliação

O Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF) é uma pesquisa de despesas domésticas em larga escala no Brasil. Essa pesquisa foi útil para os autores devido à extensão do conjunto de dados, que abrange um número considerável de famílias e a amplitude das perguntas feitas para essas famílias. Perguntas, tais como: consumo e despesa, rendimentos, altura e peso de todos os membros e fertilidade de cada mulher. Embora os dados sejam tabulados à nível regional, os autores não encontraram nenhum outro trabalho publicado na época que explora a riqueza dos dados no agregado familiar ou individual.

Detalhes da Intervenção

O Brasil foi dividido nas mesmas sete regiões utilizadas nas Pesquisas Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD’s). Os autores utilizaram informações de 41.233 agregados familiares, buscando determinar como as características do agregado familiar estão relacionadas com a altura das crianças menores de oito anos. Uma vez que a altura de uma criança varia de acordo com o sexo e a idade, Thomas et al. (1990) observaram que dentro de cada uma das quatro faixas etárias, a altura média infantil é maior no sul urbano, e em cada região, a altura é maior nas áreas urbanas. Identificaram também importantes diferenças regionais nos resultados de nutrição infantil que são independentes da renda; em média, a renda é maior no Nordeste urbano quando comparado ao Sul rural.

Para a análise da taxa de sobrevivência infantil, os autores distribuíram a idade das mães em quatro faixas etárias. As diferenças entre o Sul urbano e rural são pequenas, embora poucas mães tenham perdido uma criança no setor urbano. No Nordeste, as taxas de mortalidade são mais elevadas e a diferença aumenta com a idade; além disso, há uma diferença significativa entre os setores urbanos e rurais.

Detalhes da Metodologia

Thomas et al. (1990) adotaram o modelo de comportamento doméstico de Becker (1965), assumindo que as famílias exercem escolha sobre o consumo, incluindo o lazer. Desse modo, o número de nascimentos, o número de sobrevivência infantil e a altura da criança, pode ser pensado como sendo resultados de entradas em uma função de produção de saúde. Algumas dessas entradas estão sob o controle dos pais (tais como, consumo de alimentos, tempo de amamentação, alocação de tempo parental e uso de serviços comunitários); outros são pré-determinadas (tais como, altura parental, educação ou a incidência de doenças na comunidade).

Resultado

Os autores encontraram um impacto positivo e significativo da educação materna sobre a altura e a sobrevivência infantil. Ambos os resultados são afetados pela educação paternal, embora no caso da sobrevivência, o efeito da educação da mãe é mais forte.

A educação da mãe e do pai são significativamente associados com a altura da criança. No Nordeste urbano, por exemplo, em relação a ter uma mãe analfabeta, uma criança com uma mãe literária será cerca de 1,6% maior, 2,5% maior se a mãe tiver concluído a escola primária e 4,2% maior se tiver concluído a escola secundária. Os efeitos marginais da educação materna são ligeiramente menores no Sul. O mesmo padrão é identificado nas áreas rurais, embora as magnitudes sejam consideravelmente menores.

A altura da mãe e do pai são determinantes importantes da altura da criança, tendo um impacto maior nas áreas rurais. Também há um grande efeito da altura materna sobre a sobrevivência infantil. O efeito da renda sobre as taxas de sobrevivência é positivo e significativo, exceto no Sul urbano.

Os impactos das variáveis de nível doméstico diferem por região e residência urbana ou rural, principalmente em resultados de sobrevivência infantil. A educação materna possui maior impacto na sobrevivência infantil no Nordeste quando comparado ao Sul; um padrão similar é identificado para a renda familiar em relação à altura e a sobrevivência infantil. O impacto da altura materna na sobrevivência infantil é maior nas zonas rurais e no Nordeste. Tais diferenças sugerem que os fatores regionais desempenham um papel independente e importante, bem como modificam o impacto das variáveis de nível doméstico.

Lições de Política Pública

Os estudos anteriores ao de Thomas et al. (1990) se preocuparam principalmente com a desigualdade de renda no Brasil e deram pouca atenção aos outros indicadores de bem-estar, tais como, a sobrevivência e a altura infantil, que são caracterizadas por uma substancial heterogeneidade inter-regional e entre as regiões. Dada essa lacuna, os autores buscaram determinar o impacto das características do agregado familiar na sobrevivência e na altura da criança, condicional a idade. Os resultados indicam que a educação parental tem um efeito positivo e significativo em ambos os resultados. Embora parte desse efeito seja por meio da renda, a maior parte do efeito educacional é independente da renda familiar. Assim, os outros estudos que se concentraram no papel da educação somente como um meio de aumentar a renda, subestimaram sua importância na melhoria do bem-estar. Os autores argumentam que a educação pode ser considerada uma proxy das características socioeconômicas da família e demonstram que os efeitos educacionais permanecem positivos e significativos, mesmo após o controle para a altura e a renda familiar.

As alturas parentais são determinantes importantes da altura e sobrevivência infantil. Em ambos os casos, a influência da altura materna é maior do que a paterna, podendo refletir o maior papel da mãe na criação da criança. Os resultados encontrados pelos autores apoiam a visão de que a altura é um preditor útil do bem-estar humano, mesmo sendo controlado pela renda e educação. Portanto, as políticas destinadas a aumentar, no longo prazo, o status nutricional de uma população são susceptíveis de ter efeitos complementares sobre a sobrevivência infantil no longo prazo.

Referência

THOMAS, Duncan; STRAUSS, John; HENRIQUES, Maria-Helena. Child survival, height for age and household characteristics in Brazil. Journal of Development Economics, v. 33, n. 2, p. 197-234, 1990.