Pesquisador responsável: Bruno Benevit
Título Original: Unemployment Insurance and Job Search Behavior Get access Arrow
Autores: Iona Marinescu e Daphné Skandalis
Localização da Intervenção: França
Tamanho da Amostra: 457.000 trabalhadores-mês
Variável de Interesse Principal: Salário de reserva
Tipo de Intervenção: Seguro-desemprego
Metodologia: OLS, Modelo de contagem de Poisson
Resumo
O seguro-desemprego é uma ferramenta que objetiva reduzir os impactos de choques da perda do emprego na renda dos trabalhadores. No entanto, a forma como o processo de procura pelo novo emprego pode implicar em consequências distintas desse tipo de política em termos de preferências dos seus beneficiários. Para verificar como o seguro-desemprego afeta tal dinâmica, este artigo utilizou dados de aplicação para ofertas de trabalho da França para avaliar como o seguro-desemprego impacta o esforço na procura por um novo emprego e o salário de reserva dos beneficiários. Os resultados indicam que os trabalhadores aumentam os seus esforços de pesquisa por novos empregos no ano anterior e posterior ao término do benefício em medida similar, e que o salário pretendido pelos trabalhadores cai continuamente ao longo do período do seguro-desemprego.
O seguro-desemprego procura suavizar os efeitos de choques na renda provocados pela perda de emprego, trazendo maior previsibilidade de renda para o trabalhador. A literatura econômica destaca a existência de um padrão de consumo estável para os indivíduos ao longo de suas vidas, amparando o objetivo desse tipo de política.
O processo de busca por um novo emprego, porém, envolve o investimento de tempo e esforço. Além disso, o período de abstenção do trabalho incorre na depreciação do capital humano e/ou na sua sinalização diante do mercado de trabalho. Nesse sentido, o seguro-desemprego pode provocar repercussões na pretensão salarial e na busca por um novo emprego. A ausência de necessidade financeira imediata em realocar-se no mercado de trabalho pode provocar redução no esforço na procura por uma vaga de emprego. Somada à depreciação do capital humano podem provocar, o salário de reserva dos trabalhadores também podem ser afetados negativamente (MARINESCU; SKANDALIS, 2021). Por outro lado, modelos de procura por emprego preveem que a maior disponibilidade de tempo para realocar-se no mercado de trabalho pode implicar em uma elevação no salário pretendido (CHETTY, 2008).
O benefício do seguro-desemprego na França pode ser solicitado após a perda do emprego através do registro na plataforma do Serviço Público de Emprego (Pôle Emploi). A plataforma permite aos empregadores a criação de anúncios de emprego padronizados, no qual os candidatos podem se inscrever preenchendo um formulário online. Aproximadamente de um quinto dos trabalhadores franceses desempregados enviaram uma inscrição na plataforma de busca, e os candidatos são semelhantes à população de trabalhadores desempregados. O comportamento nessa plataforma é amplamente representativo do mercado de trabalho francês e a proporção de busca feita nesse canal pode ser considerada exógena (MARINESCU; SKANDALIS, 2021).
A elegibilidade para o programa ocorre caso o beneficiário tenha trabalhado por mais de 4 meses nos 28 meses anteriores à perda involuntária do emprego - para trabalhadores com mais de 50 anos, 36 meses anteriores à perda do emprego. A duração potencial dos benefícios (DPB) depende do número de dias trabalhados durante esse período de referência, não podendo exceder dois anos para trabalhadores com menos de 50 anos (três anos para desempregados com 50 ou mais anos).
O valor dos benefícios depende dos salários recebidos nos últimos 12 meses, possuindo um limite mínimo e máximo. A taxa de reposição líquida é em torno de 70% em média, valor mais baixo do que na maioria dos países europeus. As DPBs são maiores em comparação a outros países europeus, e as DPBs mais frequentes observadas na França são de dois e três anos, os limites máximos para os trabalhadores com menos e mais de 50 anos, respectivamente. Após o término dos benefícios, e condicionado à busca ativa por um emprego, os indivíduos podem solicitar benefícios assistenciais.
Os dados considerados neste estudo compreendem observações de trabalhadores que iniciaram um período de desemprego entre 2013 e 2017 e enviaram pelo menos uma inscrição na plataforma durante o período de desemprego (independentemente da elegibilidade ao benefício). Os dados da plataforma de Serviço Público de Emprego foram cruzados com outros três conjuntos de dados administrativos, permitindo a identificação do período desempregado, valor dos benefícios do seguro-desemprego, DPB de cada desempregado, períodos de recebimento dos benefícios, taxa de reposição, salário do trabalho anterior e período de realocação no mercado de trabalho.
Os dados foram organizados como um painel nos níveis do período de desemprego (mensalmente). As observações consideram atividades de busca online a partir da data de registro de desemprego na plataforma até o final do período de desemprego, por até três anos. Este estudo avaliou duas dimensões do comportamento de busca por emprego: (i) o esforço no processo de busca por um novo emprego – medido pelo número de candidaturas por mês durante o período em desemprego –, e (ii) o salário de reserva – medido pela média mensal dos salários oferecidos nos anúncios de emprego pretendidos pelos trabalhadores.
Para estimar o impacto do seguro-desemprego no comportamento durante a busca por um novo emprego, este estudo adotou diversos modelos para isolar o comportamento individual dos desempregados. As análises consideraram trabalhadores desempregados inelegíveis para o seguro-desemprego e trabalhadores desempregados elegíveis com DPB entre 12 e 24 meses. Foram utilizadas duas amostras: (i) a amostra completa – considerando todas as observações de episódios de desemprego –, e (ii) a amostra balanceada – considerando apenas observações de episódios de desemprego com mais de 3 anos do trabalhador
Para estimar o impacto no número de candidaturas utilizou-se o método de contagem de Poisson, e para o efeito no salário de reserva estimou-se um modelo de mínimos quadrados ordinários (OLS). O modelo base considerou as variáveis referentes ao período em relação ao DPB (assumindo valor 0 quando inelegível) e aos efeitos fixos de DPB para estimar o impacto do seguro-desemprego no comportamento de busca por um novo emprego nos dois anos anteriores e posteriores ao período de término do DPB. Com o intuito de identificar corretamente o impacto do seguro-desemprego sobre o comportamento de busca, os autores adicionaram os efeitos fixos do período total desempregado (para controlar níveis de esforço entre trabalhadores) e do período (mês) em situação de desemprego (para isolar o efeito do seguro-desemprego do efeito da reação individual dos trabalhadores).
Os autores também verificaram como o tempo em relação ao término do benefício e tempo desemprego (anos) impactam as preferências dos trabalhadores desempregados no processo de busca pelo novo emprego. Para tal, foram estimados os efeitos em variáveis de medidas de salário (log) para períodos distintos: salários mensal, semanal, e por hora. Além disso, foi verificado possíveis mudanças nas preferências por ocupações diferentes com menor remuneração e ocupações iguais com salários menores. Por fim, também foi verificado se o seguro-desemprego induziu a busca por empregos com exigências de qualificação menores do que a dos trabalhadores desempregados e qual o impacto no número de candidaturas a vagas com contratos sem prazo para o término. Foram adotados dois modelos para a verificação do impacto nessas variáveis de resultado, um considerando a interação do período após o término do benefício com uma variável binária identificadora de salários abaixo da média da distribuição e outro desconsiderando tal interação.
As estimativas sobre o impacto do seguro-desemprego sobre o esforço na busca por um novo emprego indicaram que os trabalhadores aumentam gradativamente de forma significativa o número de suas candidaturas até o período de término do benefício, momento em que atingem o seu pico. O período de término do benefício foi seguido por uma queda gradual na magnitude do impacto, porém permanecendo significativamente positivo para todos os modelos que consideraram os efeitos fixos do período em situação de desemprego. A magnitude do efeito no período de término variou entre 72% e 121%, e o efeito sob o modelo com ambos efeitos fixos de desemprego (melhor especificação) indica um aumento de 100% no esforço. Os coeficientes mantém a significância e o comportamento ao longo dos períodos quando considerada a amostra balanceada, porém com magnitudes menores (aproximadamente metade do valor).
Referente aos impactos sobre o salário alvo nas candidaturas, os resultados demonstraram que o salário pretendido é reduzido significativamente de maneira gradativa até o período de término do benefício, mantendo a magnitude dos efeitos para os períodos subsequentes relativamente estáveis quando considerados os modelos com melhor ajuste. Para esses modelos, os coeficientes para o período posterior ao término do DPB variaram entre -4,9% e -2,6% para a amostra completa e entre -5,5% e 4,2% para a amostra balanceada.
Os resultados das análises sobre o impacto sobre as diferentes variáveis de salário indicaram uma redução no salário semanal e por hora consideravelmente menor em comparação ao salário mensal. Ou seja, a redução observada no salário mensal pretendido pode ser explicada por uma predileção por cargas horárias menores após a intervenção da política. Com relação aos impactos na qualidade das vagas pretendidas em termos de qualificação exigida e tipo de contrato, as estimativas indicaram que os trabalhadores passaram a aceitar se candidatar em mais vagas com qualificações abaixo do seu nível e diminuíram as candidaturas para cargos com contratos sem prazo definido. Os resultados foram robustos para os dois modelos propostos.
Este artigo analisou como o seguro-desemprego afeta o comportamento de trabalhadores desempregados na busca por um novo emprego, com base nos dados de uma plataforma francesa de candidaturas para empregos. Os autores verificaram, especificamente, como esse tipo de política afeta as preferências dos desempregados nesse processo em termos de esforço na busca, pretensão salarial e qualidade dos cargos pretendidos em torno do período do término desse benefício.
Através da adoção de diversas estratégias de identificação robustas, os resultados indicaram a convergência dos esforços dos desempregados assistidos em torno do período de término do benefício, momento em que foi verificado o maior esforço – resultado condizente com o observado na literatura. O seguro-desemprego, contudo, induziu a redução nas pretensões das vagas pretendidas pelos trabalhadores em termos salariais e qualitativos do cargo. As evidências deste estudo destacam a importância na compreensão dos efeitos negativos inesperados de políticas públicas para o seu público alvo, possibilitando o aperfeiçoamento de programas vigentes e futuros.
Referências
CHETTY, R. Moral Hazard versus Liquidity and Optimal Unemployment Insurance. Journal of Political Economy, v. 116, n. 2, p. 173–234, abr. 2008.
MARINESCU, I.; SKANDALIS, D. Unemployment Insurance and Job Search Behavior. The Quarterly Journal of Economics, v. 136, n. 2, p. 887–931, 24 mar. 2021.
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