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ECONOMIA E GESTÃO.

Diferenças demográficas levam a expectativas enviesadas de professores?

15 dez 2020

Pesquisador responsável: Adriano Valladão Pires Ribeiro

Título do artigo: WHO BELIEVES IN ME? THE EFFECT OF STUDENT–TEACHER DEMOGRAPHIC MATCH ON TEACHER EXPECTATIONS

Autores do artigo: Seth Gershenson, Stephen B. Holt e Nicholas W. Papageorge

Localização da intervenção: Estados Unidos

Tamanho da amostra:  16.810 pares professor-estudante

Grande tema: Educação

Tipo de Intervenção: Diferenças demográficas

Variável de Interesse principal: Expectativa dos professores

Método de avaliação:  Avaliação Experimental (RCT)

Problema de Política

Diferenças nos níveis educacionais quanto a renda, raça e gênero são um problema, principalmente quando isso significa que a parte minoritária desses grupos investe menos em educação do que deveria. Uma das fontes da assimetria é quanto as expectativas dos professores em relação a formação de seus alunos, uma vez que os docentes podem influenciar diretamente a decisão dos estudantes quanto a perseguir ou não mais educação.

Contexto da Avaliação

Em muitas ocasiões, o professor é um dos poucos adultos com ensino superior que o estudante tem contato, sendo peça fundamental em moldar suas aspirações acadêmicas e afetar seu desempenho. A percepção de que o professor tem baixa expectativa no aluno pode afetar negativamente sua performance e desencorajá-lo de estudar. Além disso, essa baixa expectativa pode influenciar o próprio trabalho do professor, sendo refletido em piores aulas, avaliações e aconselhamentos, o que também resulta em um aproveitamento mais baixo do estudante. Portanto, uma baixa expectativa do docente sobre o potencial acadêmico do estudante é um problema, especialmente sobre os grupos minoritários de forma a perpetuar a diferença educacional.

Nesse contexto, o processo de formação de expectativas dos docentes ganha importância, ou seja, quais os vieses do professor encarregados por atrelar determinada previsão a um aluno. Um fator gerador de viés passível de exploração está na diferença das características demográficas entre professores e alunos, como raça e gênero.

Detalhes da Intervenção

O Estudo Longitudinal da Educação (ELS, sigla em inglês) de 2002 é uma pesquisa nacional representativa nos Estados Unidos dos estudantes do décimo ano (idade padrão entre 15 e 16 anos). Na pesquisa, os professores de matemática e de leitura forneceram suas expectativas para qual seria o último grau de educação de cada aluno. Há também informações sobre as características demográficas e socioeconômicas dos estudantes e dos docentes. No total, a amostra possui 16.810 pares entre professores e estudantes, isto é, duas observações por aluno.

As diferenças demográficas entre professores e alunos podem ser divididas em quatro categorias mutualmente exclusivas: i) mesma raça e mesmo gênero; (ii) raça diferente, mesmo gênero; (iii) mesma raça, gênero diferente; ou (iv) raça e gênero diferentes. Mesma raça e gênero compreende 1/3 das observações, mesma raça e sexo oposto outro 1/3 e a última parte é dividida meio a meio entre as duas categorias restantes.

Em um primeiro momento, previsões diferentes de dois professores sobre a maior escolaridade a ser alcançada por um mesmo aluno poderiam ser aleatórias se representassem pareceres idiossincráticos. Ou até mesmo se esse aluno tivesse habilidades discrepantes nas matérias de matemática e leitura. No entanto, nenhum desses dois motivos consegue explicar a relação entre a diferença nas características demográficas de professores e alunos e suas expectativas conforme as evidências a seguir.

Professores têm expectativas sistematicamente mais baixas quanto a máxima educação de estudantes negros em comparação com estudantes brancos. Na média, a expectativa para as alunas é mais alta que para os alunos. Além disso, pela maior parte dos professores serem brancos, alunos negros são mais prováveis a encontrar professores com diferença de perfil racial. Por fim, por mulheres serem sobrerepresentadas na função de professor, aulas com professores do mesmo gênero é mais provável para as jovens do que para os jovens.

De maneira similar, pode-se descrever alguns padrões para os professores. Professores brancos e mulheres costumam ser mais otimistas quanto ao futuro educacional dos seus alunos quando comparados a professores negros e homens, respectivamente. Além disso, professores negros têm mais chance de lecionar alunos da mesma raça e estudantes com pior performance. Por outro lado, professores brancos têm 8 pontos percentuais a mais de terem formado em ensino superior. Quanto ao gênero, não há grande diferença entre os docentes.

Metodologia

O processo de formação de expectativas do professor no contexto apresentado é influenciado pelas características do docente, pelas diferenças demográficas entre professor e aluno e, também, pelas características do estudante. O problema para se obter o efeito das diferenças demográficas sobre as expectativas é não contabilizar todos esses fatores, especialmente quando algumas características dos estudantes, como sua motivação e capacidade inata, não são observadas. Ao não considerar os fatores não observados, seus efeitos seriam creditados em parte às características demográficas. No entanto, a informação sobre a previsão de dois professores diferentes para o mesmo aluno permite corrigir esse problema ao compararmos a variação das expectativas entre os professores com características demográficas semelhantes e diferentes para o mesmo aluno. Portanto, obtém-se uma relação de causalidade entre as diferenças demográficas de professor e aluno e as expectativas dos docentes.

Resultados

Professores, na média, são mais propensos atribuir menores expectativas educacionais a estudantes com outros perfis raciais. Esse resultado pode ser quase inteiramente refletido como as expectativas de professores não negros, principalmente brancos, sobre os estudantes negros. Especificamente, docentes não negros atribuem uma probabilidade de 12 pontos percentuais a menos de que estudantes negros completarão no máximo o ensino médio em comparação a professores negros. Uma investigação mais profunda mostra que essa previsão de conclusão de no máximo o ensino médio é de 5 pontos percentuais a menos para os jovens negros do que para as jovens negras. Quanto a diferença de gênero, o resultado da expectativa entre alunos e professores, na média, foi o mesmo. Uma análise minuciosa, contudo, revela que professores de matemática atribuem uma chance maior a alunas de conseguirem no máximo o ensino médio.

Lições de Política Pública

Uma vez que a tomada de decisão dos alunos de se buscar um maior nível educacional pode ser influenciada pelos professores, as expectativas formadas sobre eles tornam-se relevantes. Principalmente quando essas expectativas estão relacionadas a diferenças demográficas entre alunos e docentes. Duas lições podem ser aprendidas do estudo. Primeiro, a contratação de professores deve ser ainda mais diversa e representativa a fim de diminuir as diferenças demográficas. Segundo, a formação das expectativas do docentes sobre os alunos deveria ser incluída em programas de treinamento para que o viés nas expectativas possa ser diminuído.

Referência

Gershenson, Seth; Holt, Stephen B.; Papageorge, Nicholas W. “Who Believes in Me? The Effect of Student–Teacher Demographic Match on Teacher Expectations.” Economics of Education Review, v. 52, p. 209-224, 2016.