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ECONOMIA E GESTÃO.

Famílias bem-informadas podem melhorar o desempenho escolar?

31 ago 2021

Pesquisador responsável: Angelo Cruz do Nascimento Varella

Título do artigo: ARE THE EFFECTS OF INFORMATIONAL INTERVENTIONS DRIVEN BY SALIENCE?

Autores do artigo: Eric Bettinger, Ricardo Madeira  e Guilherme Lichand

Localização da intervenção: São Paulo, Brasil

Tamanho da amostra: 19.253 estudantes da nona série do Ensino Médio, em 287 escolas do Estado de São Paulo.

Setor: Educação

Tipo de Intervenção: Experimento de larga escala com sistemas de informação via mensagem de texto

Variável de Interesse principal: Desempenho e frequência escolares

Método de avaliação: Avaliação Experimental (RCT)

Problema de Política

O progresso da educação brasileira foi substancial nas últimas duas décadas, principalmente no que se refere ao acesso universal à educação básica. Entretanto, em relação à qualidade do ensino, ainda há muito o que melhorar. Os resultados insatisfatórios podem ser explicados por fatores como infraestrutura precária, baixo valor agregado por parte de professores e pouca participação das famílias na vida escolar. Tais aspectos possuem impacto direto tanto no desempenho e notas de alunos, quanto na frequência e participação nas aulas, o que reflete na qualidade do ensino ofertado e absorvido.

Especificamente no que tange a participação das famílias na vida escolar, pesquisas indicam que o aumento do interesse dos familiares no cotidiano dos alunos possui impacto positivo no desempenho escolar, assim como na presença em sala de aula. Profissionais e estudiosos afirmam que a participação dos responsáveis é uma das principais causas de uma educação bem-sucedida. Apesar de ainda não se saber ao certo qual a melhor forma de incentivar esse engajamento, ou o porquê de tal fenômeno, estima-se que a comunicação eficaz entre as instituições de ensino e os familiares seja uma excelente forma de incentivar esse comportamento benéfico.

Contexto de Avaliação

Em contraste ao animador sucesso da estratégia brasileira de acesso universal à educação básica, que em 2015 contou com mais de 98% dos jovens com idade entre 7 a 14 anos regularmente matriculados na escola, o desempenho de estudantes no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) é preocupante. Isso porque, no mesmo ano, os alunos com 15 anos de idade que participaram do teste, obtiveram uma média em matemática 121 pontos inferior à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o que indica um atraso de dois anos nas habilidades referentes à matéria. Além disso, 48% dos alunos brasileiros haviam faltado a pelo menos um dia de aula na semana anterior ao teste, em comparação a uma média de 20% dos discentes de países da OCDE.

Tal desempenho pode ser explicado pela pouca participação familiar na educação infantil. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 25% dos parentes não sabem se seus dependentes faltam à escola e apenas metade se informa sobre seus trabalhos escolares e deveres de casa. Além disso, são poucas as escolas brasileiras que possuem sistemas de informação em tempo real sobre seus estudantes, de modo que a falta de comunicação entre essas instituições e as famílias é generalizada.

Em São Paulo, local no qual o experimento ocorreu, a desigualdade social representa um desafio significativo. Além de ser o estado brasileiro mais rico e populoso do país, São Paulo também conta com a maior rede nacional de ensino, com mais de 5,3 milhões de estudantes de ensino básico e médio em 2015, de acordo com o Censo Escolar do Ministério da Educação. Enquanto as famílias mais ricas preferem instituições privadas de ensino com alta qualidade, alunos de classes socioeconômicas mais baixas utilizam majoritariamente o ensino público. Na amostra da pesquisa, mais da metade dos lares possuíam renda mensal familiar de até três salários-mínimos e cerca de 60% dos responsáveis não haviam completado o ensino médio.

Detalhes da Política

Em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, os pesquisadores conduziram um experimento de larga escala, com o objetivo de mensurar o efeito de diferentes estratégias de comunicação com as famílias e responsáveis de alunos da nona série em seus desempenhos e frequências escolares. O intuito é averiguar se distintos mecanismos de informação são capazes de influenciar as crenças, as aspirações e os comportamentos de familiares e alunos.

Para isso, os pesquisadores dividiram os estudantes em cinco grupos, de modo que as respectivas famílias receberam mensagens de texto semanais com diferentes tipos de informações:

  1. Individuais – informações específicas sobre a frequência, atraso e conclusão de tarefas de seus dependentes;
  2. Relativas – informações específicas sobre a frequência, atraso e conclusão de tarefas de seus dependentes em relação aos demais alunos da turma;
  3. Saliência – informações gerais sobre a importância da presença na sala de aula e do comprometimento com a educação;
  4. Engajamento – informações específicas sobre atividades extracurriculares relacionadas aos seus dependentes;
  5. Grupo de Controle – não receberam nenhum tipo de informação.

O experimento durou 6 meses, de junho a dezembro de 2016 e contemplou 287 escolas, 934 classes e 19.253 estudantes. As informações eram fornecidas pelos professores de matemática dos alunos, via mensagens de texto semanais, e a frequência das mensagens variava de acordo com as necessidades da pesquisa. Os resultados foram complementados por questionários.

Detalhes da Metodologia

Cada grupo do experimento possui objetivos distintos, de modo que os pesquisadores realizaram diversos testes ao longo do processo. O intuito das informações individuais é averiguar se o conhecimento acerca do desempenho de seu dependente é suficiente para interessar o familiar, alterando seu comportamento. De modo similar, as informações relativas objetivam averiguar se o efeito de comparação com os colegas de turma do aluno é relevante para o envolvimento da família.

Já as informações de engajamento testam a capacidade das mensagens em alterar o comportamento dos familiares, a partir de estímulos independentes da ação de professores. Já o objetivo das informações de saliência consiste em mensurar o efeito que mensagens genéricas e de baixo custo possuem em captar a atenção da família e gerar mudanças benéficas de comportamento por parte dos responsáveis, de forma eficiente. Por sua vez, os grupos de controle servem como base de comparação.

Resultados

A partir da realização da pesquisa, foi possível averiguar que a comunicação semanal com as famílias, por meio de mensagens de texto, teve impacto significante no desempenho e na frequência dos alunos. Grupos que receberam informações gerais sobre a importância do acompanhamento de estudantes (saliência) obtiveram os melhores resultados observados.

Em relação à frequência, grupos que receberam informações individuais, relativas e de saliência tiveram aumento de 2,1% pontos percentuais, o que representa cinco dias a mais de aula por ano. Resultados para as médias dos testes de matemática dos alunos desses grupos também aumentaram em 0,1 desvio padrão, assim como as chances de aprovação no ano letivo aumentaram em 3,2 pontos percentuais. Ao analisar apenas os grupos que receberam informações semanais, aqueles que foram contemplados apenas com informações genéricas (saliência), obtiveram resultados consideravelmente maiores, na ordem de 89% a 126% a mais do que em comparação aos grupos com informações específicas e relativas.

Lições de Política Pública

A comunicação constante entre instituições de ensino e as famílias é uma excelente forma de engajar os responsáveis na rotina de seus dependentes, melhorando seus desempenhos e frequências escolares. Ações capazes de incentivar o interesse e a atenção desses indivíduos no cotidiano de alunos possuem o potencial de gerar benefícios com poucos investimentos e custos mínimos, o que representa uma estratégia eficaz de fácil implementação.

As crenças e expectativas familiares em relação aos alunos mostram-se como ferramentas úteis na busca pela melhoria do ensino nacional, fazendo com que parentes e responsáveis participem e melhorem as condições de estudos dos jovens, o que caracteriza uma relevante oportunidade para políticas públicas educacionais.

Referência
BETTINGER, Eric et al. Are the effects of informational interventions driven by salience?. University of Zurich, Department of Economics, Working Paper, n. 350, 2021.