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ECONOMIA E GESTÃO.

Programa de emprego para jovens no Egito

06 ago 2020

Pesquisador responsável: Adriano Valladão Pires Ribeiro

Título do artigo: OVERCOMING YOUTH UNEMPLOYMENT IN EGYPT: RANDOMIZED EVALUATIONS SHOWCASE THE PROMISE OF ACTIVE LABOR MARKET PROGRAMS

Autores do arigo: Ahmed Elsayed; Kevin Hempel; Adam Osman

Localização da Intervenção: Beni Suef, Mynia e Grande Cairo - Egito

Tamanho da Amostra: 1743 indivíduos

Grande tema: Mercado de Trabalho

Variável de Interesse principal: Emprego

Tipo de Intervenção: Estágio e treinamento no trabalho; Aconselhamento profissional

Método de Avaliação: Avaliação Experimental (RCT)

Contexto da Avaliação

A Primavera Árabe de 2010 trouxe diversos desafios para o Egito, dentre eles o desemprego. No país, o desemprego, segundo dados do Banco Mundial, saltou de 8,76% em 2010 para 11,85% em 2011, registrando um pico de 13,15% em 2013 e mantendo-se acima de 11% durante toda a década de 2010-2019. Por sua vez, o desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos manteve-se sempre acima de 29% no mesmo período, constata-se assim que o problema do desemprego é ainda maior para os jovens.

Detalhes da Intervenção

Em resposta ao desafio do desemprego, o Governo do Egito lançou em 2014 o Projeto de Emergência de Investimento no Emprego (EEIP). Este projeto, que durou até dezembro de 2017, recebeu aporte de 67,6 milhões de euros da União Europeia, foi administrado pelo Banco Mundial e implementado pelo governo por meio da Agência de Desenvolvimento de Micro, Pequenas e Médias Empresas (MSMEDA, em inglês).

O projeto teve alguns objetivos, dentre eles estão: (1) a criação de oportunidades de emprego para desempregados e empregados com baixa ou nenhuma qualificação técnica; e (2) melhorar a empregabilidade de jovens por meio de treinamentos de curta duração ou suporte para na transição para um trabalho assalariado ou por conta própria. O público alvo do programa foi jovens entre 18 e 29 anos, desempregados e inativos, moradores de áreas pobres e uma atenção especial para grupos com desvantagens no mercado de trabalho (por exemplo, pobres, mulheres jovens, baixo nível educacional, portador de necessidades, sem experiência no mercado de trabalho formal, etc).

Vale destacar ainda algumas características do desenho do programa implantado:

Parceria Público-Privada: a adoção do programa se deu com uma parceria entre o setor público (MSMEDA) e ONGs responsáveis por implementar os serviços para o beneficiário.

Adoção de Boas Práticas Globais: as ONGs participantes tinham que provar, como parte de suas propostas, que havia demanda de emprego para os serviços que elas ofereceriam.

Foco em Resultados: o resultado alcançado seria mais importante que as atividades praticadas em si, tendo, por exemplo, parte do pagamento atrelado a metas. O resultado reportado pela ONG seria validado por uma verificação independente.

Foco na geração de conhecimento: os projetos que receberam suporte serviriam de base para a implementação de intervenções futuras para o emprego de jovens no Egito.

A MSMEDA, usando então seus próprios critérios, escolheu algumas ONGs para participar de um workshop e selecionar as melhores ideias para a implementação do programa de emprego. Foram listadas 10 ONGs e as duas melhores propostas foram selecionadas para dar prosseguimento ao programa (chamadas, assim, de ONG1 e ONG2). A ONG1 focou no emprego próprio e está baseada nas cidades de Beni Suef e Minya, enquanto a ONG2 focou na obtenção de um trabalho assalariado e atuou na Grande Cairo e em Beni Suef.

Método de Avaliação

O método adotado pelas duas ONGs para avaliar os resultados da política é semelhante. Para poder avaliar, de fato, qual o impacto do programa de emprego adotado, os inscritos em cada programa foram aleatoriamente selecionados entre grupo controle e dois grupos tratamento. A aleatoriedade ao escolher os candidatos ao programa objetiva eliminar vieses de seleção e garantir que, na média, todos os grupos tenham características semelhantes, se diferenciando apenas quanto a receber um tratamento ou não. Portanto, a diferença nos resultados finais pode ser computada ao programa de emprego. Em seguida, as duas ONGs são discutidas em mais detalhes.

ONG1 – Emprego próprio

A ONG1 fez uma chamada pública para receber aplicantes aos serviços de treinamento e aconselhamento. Por receberem mais candidatos do que tinham de vagas, selecionaram 1011 pessoas que seriam mais adequadas e menos prováveis de largar o treinamento na metade. Os selecionados foram aleatoriamente distribuídos em três grupos: (1) um grupo que recebe apenas treinamento (337 pessoas); (2) um grupo que recebe treinamento e aconselhamento (335 pessoas); e (3) um grupo controle que não recebe nenhum dos serviços (339 pessoas).

O passo seguinte é garantir que a amostragem foi bem feita, isto é, que os grupos estão balanceados e assim garantir o resultado da pesquisa. Constata-se que os três grupos estão balanceados, com diferenças insignificantes entre cada um quanto a características como idade, renda familiar, proporção de mulheres, educação, entre outros. Outro ponto a ser checado para a pesquisa é se os indivíduos de fato adotaram o tratamento, isto é, se atenderam ao treinamento e participaram das sessões de aconselhamentos. Este foi o caso, destacando que o grupo controle não recebeu treinamento algum.

Portanto, tanto o equilíbrio entre os grupos quanto a aleatoriedade na divisão dos indivíduos em cada grupo permitem comparar o resultado médio de cada grupo para avaliar os impactos do programa de emprego.

ONG2 – Busca por trabalho assalariado

A intervenção da ONG2 focou principalmente no suporte ao jovem na obtenção de um trabalho assalariado. O grupo controle - que não recebeu nenhum benefício - contou com 241 indivíduos, já o grupo tratamento divide-se em dois: (i) um grupo com 250 indivíduos que receberam treinamento e (ii) um outro grupo com 241 participantes que receberam treinamento e aconselhamento individual.

Assim como na ONG1, os inscritos do programa da ONG2 foram aleatoriamente divididos em cada um dos grupos para garantir que os resultados possam ser interpretados como impacto do programa. Vale ressaltar também que a divisão entre os grupos ficou balanceada e que tanto treinamento como aconselhamento foram corretamente distribuídos para cada grupo, isto é, o grupo controle não recebeu treinamento nem aconselhamento e apenas o grupo que deveria receber aconselhamento o recebeu.

 Resultados

Seguem-se os resultados reportados pelos programas das duas ONGs quanto a permanência no emprego, riqueza e tempo semanal de trabalho.

Emprego: Do programa implementado pela ONG1, o grupo que recebeu apenas treinamento reportou que 45% estavam empregados, para os que também receberam aconselhamento a parcela era de 43%. Estes valores contrastam com a média do grupo controle, que estava em 15%.

Para a ONG2, os dois grupos tratamento reportaram que 47% dos indivíduos estava empregado, valor maior que os 35% reportado pelo grupo controle.

Renda: Para a ONG1, a renda mensal do grupo treinamento aumentou em 91 EGP (moeda do Egito) e para o grupo treinamento e aconselhamento aumentou em 63 EGP quando comparados com a média do grupo controle. Além disso, a parcela dos indivíduos sem renda diminuiu em 17% e 19% para quem teve treinamento e quem teve treinamento e aconselhamento, respectivamente, em relação ao grupo controle.

Para a ONG2, o grupo treinamento reportou um aumento de renda de 99 EGP, já o grupo treinamento e aconselhamento observou um aumento de 104 EGP quando comparado à renda média do grupo controle. A parcela sem renda no grupo controle foi de 18%, valor que diminuiu nos demais grupos, para 15% no treinamento e 11% no treinamento e aconselhamento.

Tempo de Trabalho: O grupo controle da ONG1 reportou em média um crescimento de 6 horas nas horas trabalhadas por semana, já o grupo treinamento reportou um crescimento de 7,85 hora, enquanto o grupo treinamento e aconselhamento aumentou em 8,6 horas.

Na ONG2, quando comparadas ao grupo controle, os dois tratamentos tiveram aumento nas horas trabalhadas semanalmente. O aumento do grupo treinamento foi de 2,7 horas e do treinamento e aconselhamento de 3,6 horas.

Lições de Política Pública

Como lições de política pública ficam três importantes ensinamentos desse estudo. Primeiro, programas de emprego voltados para o jovem podem trazer resultados positivos em termos de emprego e renda, como apontados acima para o Egito. Segundo, parcerias Público-Privadas são uma forma promissora de implementação de programas de emprego. Isso se deve pela mistura de objetivos claros como resultado com a flexibilidade para se implementar o tipo de intervenção adequado para o contexto do grupo alvo. Por último, seguindo uma metodologia apropriada, é possível mensurar e avaliar o impacto de políticas públicas quando bem desenhadas.

Referência IZA, Ahmed Elsayed; HEMPEL, Kevin; OSMAN, Adam. Overcoming Youth Unemployment in Egypt. 2018.