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ECONOMIA E GESTÃO.

QUAL O IMPACTO DA EDUCAÇÃO EM FINANÇAS NO COMPORTAMENTO DOS INDIVÍDUOS?

16 fev 2024

Pesquisador responsável: Bruno Benevit

Autores: Bryan C McCannon e Jeffrey Peterson

Título original: Born for Finance? Experimental Evidence of the Impact of Finance Education

Localização da Intervenção: Estados Unidos

Tamanho da Amostra: 146 estudantes

Setor: Educação

Variável de Interesse Principal: Comportamento pró-social

Tipo de Intervenção: Educação em finanças

Metodologia: OLS, Probit

Resumo

Diversos estudos procuram identificar os efeitos da educação em finanças no comportamento dos alunos. No entanto, a distinção entre possíveis efeitos de causalidade e de seleção dos alunos que optam por esse tipo de educação apresenta um desafio para tal inferência. Nesse sentido, este artigo realizou um experimento de decisão de investimento para investigar o impacto da educação em finanças na conduta pró-social dos alunos em investimentos, diferenciando o efeito da intervenção dos efeitos de auto-seleção dos estudantes de finanças. Utilizando diversos métodos econométricos, os autores identificaram que os estudantes que optam por estudar finanças possuem uma predisposição de não reciprocidade nos investimentos, enquanto que a educação financeira promove o desenvolvimento de comportamentos pró-sociais, confiança, e escolhas sociais que geram riqueza.

  1. Problema de Política

Na medida em que a educação em finanças fornece novas informações, abordando tópicos como a criação de riqueza e as consequências do risco, o contato com tal conteúdo pode influenciar de forma significativa o comportamento dos indivíduos de forma no âmbito particular. Assim, a conduta dos estudantes desse tipo de curso em relação às preferências  e valores sociais de confiança e reciprocidade podem ser moldadas.

Simultaneamente, é natural supor que a decisão de estudar finanças envolve uma seleção endógena, de forma que os indivíduos que optam por estudar finanças têm um perfil com valores preestabelecidos específicos antes do contato com esse tipo de educação. Nesse contexto, torna-se relevante a compreensão de como comportamento desses estudantes são moldados pela educação em finanças e do perfil médio dos que auto-selecionam esse tipo de educação, bem como a diferenciação entre esses dois fatores no comportamento desses estudantes.

  1. Contexto de Implementação da Política

A pesquisa sobre a relação entre conhecimento financeiro e comportamento social é limitada. Embora diversos estudos indiquem impacto da educação em finanças nas decisões de investimento pessoal (poupança, risco e endividamento), poucos estudos analisaram os impactos nas interações sociais no âmbito privado, não profissional (McCannon e Peterson, 2015).

Referente às evidências relacionadas ao comportamento de estudantes, Meier e Frey (2004) identificam que estudantes de finanças tendem a realizar menos doações de caridade. De acordo com Allgood et al. (2012), indivíduos com especialização em finanças têm maior probabilidade de filiarem-se ao Partido Republicano, são menos propensos a realizar trabalho voluntário, e contribuem menos horas quando o fazem. Contudo, ambos os estudos não estabelecem uma relação de causalidade contundente, destacando a lacuna na literatura relacionada ao tema.

  1. Detalhes da Avaliação

Foram conduzidos experimentos com estudantes universitários de uma universidade privada no norte do estado de Nova York para analisar a relação entre conhecimento financeiro e comportamento. Os participantes recrutados faziam parte de dois grupos: estudantes de aula de educação geral e estudantes em que o curso principal (major) era finanças. Adicionalmente, visando selecionar os estudantes que não tiveram contato com disciplinas de finanças e aqueles que já tiveram contato com essas disciplinas, procurou-se selecionar tanto estudantes do primeiro ano universitário, quanto estudantes dos anos seguintes.

O primeiro experimento utilizou o Jogo da Confiança, no qual os participantes foram aleatoriamente pareados e um deles designado como "Jogador A" e o outro como "Jogador B". O Jogador A recebeu 5 dólares experimentais e escolheu quanto dar (“investir”) ao Jogador B (0, 1, 2, 3, 4, ou 5 dólares), sabendo que qualquer quantia seria triplicada para o Jogador B, que posteriormente poderia optar por retribuir ao Jogador A. Os experimentos foram realizados em sessões separadas, variando o número de rodadas de jogo, o pareamento aleatório, e a apresentação das instruções. Para evitar vieses de gênero, raça ou outros fatores, as decisões dos participantes eram tomadas sem conhecimento do parceiro de jogo e das sessões anteriores. Antes do início do experimento, os jogadores foram informados que receberiam mais dólares reais na medida em que recebessem mais dólares experimentais ao término de todas as rodadas.

Além disso, os participantes jogaram o Jogo do Ditador, onde o Jogador A decide quanto dar ao Jogador B, sem a possibilidade de retorno por parte deste, permitindo o controle das preferências altruístas e a diferenciação entre doações altruístas e investimento estratégico.

  1. Método

Para verificar a relação entre a educação em finanças e comportamentos pró-sociais, os autores adotaram um modelo OLS para estimar o montante investido pelos jogadores A aos jogadores B. Para identificar corretamente o impacto da educação em finanças, foram consideradas variáveis binárias para identificar isoladamente o efeito associado a estudantes do primeiro ano, estudantes de finanças, e estudantes de finanças do primeiro ano. Os modelos consideraram covariáveis identificadoras de origem (moradores de Nova York e dos Estados Unidos), sexo, votação, estudantes de negócios, e identificação do ditador do jogo. Adicionalmente, foram realizadas regressões de dois novos modelos considerando o montante recebido reciprocamente do Jogador B e os efeitos fixos das rodadas do jogo.

Posteriormente, o mesmo procedimento de OLS foi realizado para estimar o montante devolvido reciprocamente pelos jogadores B aos jogadores A, adotando dois modelos: com e sem efeitos fixos das rodadas do jogo. Por fim, o estudo empregou o método Probit para estimar a probabilidade dos jogadores A investirem nos jogadores B o montante de 0 e 5 dólares experimentais. Similarmente, também foi estimada a probabilidade dos jogadores B, caso tenham recebido 5 dólares do jogador A, doarem reciprocamente pelo menos o montante de 5 dólares experimentais aos jogadores A. No vetor de covariáveis, foram controlados os mesmos aspectos que nos modelos OLS.

  1. Principais Resultados

Os resultados das regressões de OLS indicaram a auto-seleção de estudantes de finanças. Para ambas as variáveis de resultado, montante investido e montante devolvido reciprocamente, o efeito isolado dos estudantes de finanças do primeiro ano indicou comportamentos menos altruístas, investindo e devolvendo reciprocamente menos dólares experimentais.

Em sentido oposto, o efeito isolado da educação em finanças implicou na elevação na propensão a investir e à devolver reciprocamente. Em ambas as variáveis de resultado, não foram encontrados efeitos significativos para estudantes de primeiro ano, reforçando a hipótese de auto-seleção de estudantes de finanças quando considerado o efeito isolado para esse grupo.

Com relação às estimativas do modelo Probit, os resultados corroboraram as evidências previamente encontradas. Os efeitos associados a ser um estudante de finanças do primeiro ano indicaram redução nos comportamentos pró-sociais, apresentando reduções significativas nas probabilidades de investir 5 dólares experimentais e devolver reciprocamente pelo menos 5 dólares experimentais, além de apresentar elevação significativa na probabilidade de investir 0 dólares experimentais. Novamente, o contato com educação financeira apresentou aumento de comportamentos altruístas ao considerar-se as três variáveis de resultado.

  1. Lições de Política Pública

Este artigo verificou se a educação em finanças promove comportamentos individualistas no comportamento social de seus estudantes. Para tal, foram conduzidos experimentos com estudantes de uma universidade privada dos Estados Unidos com o intuito de observar o comportamento pró-social em uma simulação de investimento-doação recíproca entre dois jogadores.

Através de métodos econométricos, os resultados encontrados indicaram que os indivíduos que optam por  finanças como seu curso principal possuem um comportamento menos altruísta. No entanto, a educação financeira promoveu comportamentos pró-sociais, induzindo condutas geradoras de riqueza indivíduos com formação na área possuíam maior probabilidade de oferecer investimentos que geram riqueza, fazer investimentos maiores, retribuir investimentos e proporcionar retornos recíprocos mais expressivos aos investidores. Essas evidências fornecem novas informações para os reguladores relacionados às áreas de finanças e negócios e formuladores de políticas educacionais.

Referências

ALLGOOD, S. et al. Is Economics Coursework, or Majoring in Economics, Associated with Different Civic Behaviors? The Journal of Economic Education, v. 43, n. 3, p. 248–268, jul. 2012.

MCCANNON, B. C.; PETERSON, J. Born for Finance? Experimental Evidence of the Impact of Finance Education. Journal of Behavioral Finance, v. 16, n. 3, p. 199–205, 3 jul. 2015.

MEIER, S.; FREY, B. S. Do Business Students Make Good Citizens? International Journal of the Economics of Business, v. 11, n. 2, p. 141–163, jul. 2004.