Pesquisadora responsável: Viviane Pires Ribeiro
Título do Paper: Creativity for workplace well-being
Autores: Erik G. Helzer e Sharon H. Kim
Localização da Intervenção: Global
Tamanho da Amostra: Não consta
Grande tema: Outros
Variável de Interesse principal: Criatividade
Tipo de Intervenção: Estudo do papel da criatividade no bem-estar no local de trabalho
Metodologia: Modelo conceitual
A literatura de criatividade organizacional tende a se concentrar em resultados criativos, como novas ideias ou úteis soluções para problemas desafiadores, ou seja, maneiras eficazes de maximizar a criatividade para o benefício da organização. No entanto, Helzer e Kim (2019) considera uma outra função da criatividade no local de trabalho, nomeadamente, como um recurso que pode promover o bem-estar face à flexibilidade de resposta ao estresse. A afirmação teórica central que é desenvolvida no estudo é que o envolvimento criativo com os estressores diários pode promover a saúde psicológica e o bem-estar ao facilitar uma resposta flexível ao estresse.
Contexto da Avaliação
A criatividade, ou a produção de ideias que são novas e úteis, fez a transição da palavra para a competência necessária em muitas das organizações mais competitivas da atualidade. Não é mais uma questão de investir na criatividade dos funcionários, mas sim de quanto. O tema da criatividade no trabalho também chamou a atenção de muitos pesquisadores acadêmicos. Normalmente, a pesquisa sobre criatividade em organizações tem se concentrado amplamente no estudo de fatores situacionais que promovem ou distraem do pensamento criativo. Este forte interesse em compreender como facilitar (ou evitar deprimir) resultados criativos reflete o papel significativo que a criatividade desempenha no sucesso organizacional, permitindo que indivíduos e equipes naveguem em circunstâncias desafiadoras.
Até o momento, no entanto, ainda falta um entendimento claro de como o processo de avaliação se desenrola. Normalmente, a pesquisa sobre avaliações de estressores organizacionais simplesmente tenta capturar o resultado final da avaliação – isto é, o significado final atribuído a qualquer estressor específico e como esse significado se relaciona com o enfrentamento a jusante. Em contraste, o processo a montante, que envolve a construção dinâmica de significado de estressores ambíguos, é muito menos compreendido. Assim, Helzer e Kim (2019) contribui com tal área de pesquisa ao desenvolver um modelo conceitual, adequado a contextos organizacionais, para a compreensão da avaliação.
Os autores resolveram se concentrar no potencial da criatividade para moldar a resposta ao estresse no local de trabalho por dois motivos. Em primeiro lugar, o ritmo atual e as pressões da vida profissional contemporânea constituem consistentemente uma das maiores fontes de estresse, tornando-se uma variável oportuna e importante de interesse para pesquisadores e profissionais. O impacto de doenças físicas e mentais nos funcionários e nas pessoas ligadas a eles (por exemplo, famílias, colegas de trabalho, etc.) é uma consequência que não deve ser negligenciada. Em segundo lugar, ambientes estressantes podem ser prejudiciais à criatividade. Embora algumas pesquisas tenham examinado as consequências positivas do estresse, foi demonstrado por outras pesquisas que o estresse impõe limitações na cognição e na resolução de problemas ao estreitar a atenção, restringindo o processamento de informações. Em suma, o estresse pode prejudicar o raciocínio claro, o que, por sua vez, tornará as tarefas criativas difíceis de serem concluídas.
Detalhes da Intervenção
Assim como a criatividade é utilizada para resolver problemas e inovar no domínio do desempenho no local de trabalho, Helzer e Kim (2019) propõem que a criatividade pode ser usada para resolver o problema de adaptação e resposta aos estressores do local de trabalho. A visão dos autores é que a criatividade, se implantada de forma eficaz, pode permitir uma resposta flexível a circunstâncias inesperadas ou indesejadas, de modo que as pessoas possam gerar espontaneamente interpretações alternativas, opções e respostas a estressores que podem não ser aparentes para elas em estados menos criativos de mente. Essa visão se afasta de um foco tradicional sobre se o estresse é "bom" ou "ruim" para o pensamento criativo e questiona, em vez disso, como a criatividade pode alterar o impacto dos estressores na capacidade dos trabalhadores de resolver problemas para melhorar a saúde. Vista dessa forma, a criatividade é uma fonte potencial de força e resiliência diante do estresse, em vez de apenas um resultado relacionado ao desempenho proporcionado por ambientes de trabalho ideais.
Para desenvolver tal proposta, Helzer e Kim (2019) recorrem à pesquisa e à teoria abrangendo uma gama de perspectivas acadêmicas, incluindo comportamento organizacional, saúde e psicologia clínica e personalidade e psicologia social. Os autores adotam essa abordagem integrativa na esperança de fazer avançar a pesquisa e pensar sobre a criatividade além de seus limites tradicionais e fora das caixas disciplinares usuais que podem limitar a compreensão de toda a gama de resultados que a criatividade pode promover.
Detalhes da Metodologia
Ao conectar a pesquisa existente em gestão e organizações com descobertas complementares em psicologia clínica e da saúde, Helzer e Kim (2019) exploram uma visão alternativa relevante para a importância da criatividade na vida organizacional. Em apoio a essa visão, os autores apresentam um modelo de processo (e dados de apoio) que explica como a criatividade pode permitir uma resposta flexível ao estresse, de modo que, quando em um estado criativo, as pessoas possam gerar espontaneamente interpretações, opções e respostas alternativas para estressores que podem não ser aparentes para eles em um estado menos criativo.
Resultado
O estudo realizado por Helzer e Kim (2019) progrediu da seguinte forma. Primeiro, os autores descrevem o que é estresse e como ele afeta o bem-estar. Revisam um modelo de avaliação da resposta ao estresse que predominou na literatura sobre estresse e enfrentamento e foi aplicado em vários estudos organizacionais de bem-estar no local de trabalho. Destacam como a avaliação, ou o significado que alguém atribui a fontes potenciais de estresse na vida, molda a resposta psicológica de alguém ao estresse. Desenvolvem ainda um modelo de processo para capturar a sequência cognitiva por meio da qual os estressores em potencial na vida ou no trabalho resultam em sofrimento psicológico, bem como um caminho alternativo, no qual os estressores em potencial podem ser reavaliados para diminuir seu impacto psicológico.
A seguir, os autores revisaram a literatura sobre criatividade para especificar o que é criatividade e os amplos mecanismos que foram mostrados para promovê-la. Levando em consideração as perspectivas de traço e estado sobre a criatividade, que descrevem a manifestação da criatividade em diferentes escalas de tempo. Em seguida, voltam ao ponto crucial de seu argumento. Mostrando como a criatividade pode desempenhar um papel importante no processo de reavaliação, traçando paralelos entre a reavaliação e a flexibilidade cognitiva, conforme estudada na literatura sobre criatividade. Especificamente, os autores argumentam que a criatividade pode ser um recurso cognitivo que permite que as pessoas se envolvam com potenciais estressores de forma mais flexível; ou seja, para gerar avaliações alternativas do significado e das consequências imaginadas do estressor.
Por fim, os autores discutem os caminhos para pesquisas futuras. Em primeiro lugar, consideram os moderadores, bem como o papel das organizações na promoção da criatividade para o bem-estar, tanto por meio dos canais diretos como indiretos. Em seguida, examinam como a atenção plena pode desempenhar um papel importante ao permitir que as pessoas se envolvam criativamente com os estressores sob as mesmas condições que normalmente podem limitar o pensamento criativo. Finalmente, especulam sobre como a criatividade envolvente para o bem-estar pode contribuir para a saúde a longo prazo e o bem-estar dos trabalhadores.
Lições de Política Pública
A preocupação com o bem-estar no local de trabalho percorreu um longo caminho desde as primeiras tentativas de manter a segurança física (ou seja, evitar lesões e morte) até as iniciativas mais recentes do empregador que abordam o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e o gerenciamento geral do estresse. À medida que pesquisadores e profissionais começam a contemplar abordagens futuras para o bem-estar dos funcionários, Helzer e Kim (2019) oferecem o modelo de processo como uma possível via para exploração posterior. Especificamente, o modelo avança em uma explicação teórica de reavaliação cognitiva que articula um papel para a criatividade na promoção do envolvimento flexível com potenciais estressores para melhorar o bem-estar. De forma mais geral, o estudo defende a reconceituação de um recurso para “trabalho” (ou seja, criatividade) para melhorar um resultado de “vida” (bem-estar).
Ao iniciar uma discussão sobre o papel da criatividade no bem-estar no local de trabalho, os autores esperam fazer as seguintes contribuições. Em primeiro lugar, encorajar os pesquisadores e profissionais a expandir sua definição operacional de criatividade para abranger aplicações e resultados que são considerados fora da função tradicional que acredita que a criatividade serve no trabalho. Certamente, o valor da criatividade para produzir ideias e soluções em nome do desempenho organizacional não deve ser minimizado; no entanto, os autores argumentam que esses benefícios podem ser aproveitados para abordar outras questões importantes para os trabalhadores, como gerenciamento de estresse. Relacionado a este ponto, o estudo enfatiza a interconexão entre bem-estar e trabalho. Frequentemente, o bem-estar é considerado um tópico especial ou separado na pesquisa relacionada ao trabalho; no entanto, eles argumentam que o bem-estar está mais intimamente ligado a tópicos como criatividade do que a pesquisa existente pode sugerir.
Referências
HELZER, Erik G.; KIM, Sharon H. Creativity for workplace well-being. Academy of Management Perspectives, v. 33, n. 2, p. 134-147, 2019.