IDP

Ferramentas de acessibilidade

VLibras

Consulte aqui o cadastro da Instituição no Sistema e-MEC


A DEMOCRACIA TEM EFEITO SOBRE O CRESCIMENTO ECONÔMICO?

02 jun 2023

Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo

Autores: Daron Acemoglu, Simon Johnson, James A. Robinson e Pierre Yared

Localização da Intervenção: Todos os países

Tamanho da Amostra: --

Setor: Economia Política

Variável de Interesse Principal: Valor defasado do log da renda per capita

Tipo de Intervenção: Democracia

Metodologia: Variáveis Instrumentais

Resumo

            A literatura prévia a este estudo havia demonstrado uma relação positiva entre a renda e a democracia, porém sem levar em conta a questão da causalidade. Em razão disto, os autores revisitaram essa relação, analisando a questão da causalidade. Para isso, os autores utilizaram dados de medidas de democracia e autocracia, montando um painel de dados anual e de cinco, dez e vinte anos. Foram feitas estimativas OLS, de diferenças em diferenças e para variáveis instrumentais. Os resultados demonstraram que não há evidências de um efeito causal da renda na democracia.

  1. Problema de Política

 Os estudos vinham demonstrando uma relação positiva entre a renda e democracia na década de 1990. Em que a maioria dos países não era democrática antes do processo de crescimento moderno, assim, o processo de democratização ocorreu junto com o crescimento. Como Barro (1999) afirma: “aumentos em várias medidas do padrão de vida preveem um aumento gradual na democracia. Em contraste, democracias que surgem se um desenvolvimento econômico prévio... tendem a não durar”[1].

Os autores afirmam que os estudos anteriores não estabeleciam a causalidade. Por isso, ao revisitarem a relação entre renda per capita e democracia analisam a questão da causalidade reversa e do potencial viés de variável omitida, visto que algum outro fator pode determinar tanto a natureza do regime político quanto o potencial de crescimento econômico. Em que a causalidade reversa seria causada pelo fato de a democracia gerar renda e não ao contrário.

  1. Contexto de Implementação e de Avaliação

            A literatura argumenta que as diferenças nas estratégias de colonização europeias foi um dos principais determinantes dos caminhos divergentes de desenvolvimento das sociedades coloniais (Acemoglu, Johnson e Robinson, 2001, 2002; Engerman e Sokoloff, 1997). O que sugere que, na amostra estudada, o momento crítico para a maioria das sociedades corresponde à sua experiência sob a colonização europeia.

            A principal medida de democracia utilizada pelos autores é o Freedom House Political Rights Index. Nesse índice o país recebe uma maior pontuação conforme os direitos políticos se aproximam dos ideais sugeridos por uma lista de verificação de perguntas, as quais incluem a existência de eleições livres e justas, se os eleitos governam, se existem outros grupos políticos, se a oposição desempenha um papel importante e tem poder real e se os grupos minoritários participam do governo.

            Também foram utilizados os dados de todos os países independentes a partir de 1800 do Polity IV e a composição Polity Index, que é a diferença entre os índices de democracia e autocracia (Marshall e Jaggers, 2004). Assim, foi montado um painel de cinco, dez, vinte anos, além de um painel anual de dados.

  • Detalhes da Política/Programa

             Os autores utilizaram duas estratégias para investigar o efeito causal da renda na democracia.

A primeira era controlando os fatores específicos do país que afetam tanto a renda quanto a democracia, incluindo os efeitos fixos do país. A principal fonte de um potencial viés em uma regressão da democracia sobre a renda per capita são fatores históricos específicos de cada país que influenciam o desenvolvimento político e econômico. Se essas características omitidas forem invariantes no tempo, a inclusão de efeitos fixos irá remover essa fonte de viés.

Uma segunda estratégia dos autores foi utilizar o método de variáveis instrumentais para estimar o impacto da renda na democracia. Para isso, os autores utilizaram dois instrumentos: (i) taxas de poupança anteriores; e (ii) mudanças nas rendas dos parceiros comerciais.

  1. Método de Avaliação

            O modelo econométrico desenvolvido pelos autores para este estudo, tem como variável dependente o escore de democracia do país i no período t. Além disso, foram adicionadas variáveis de valores defasados, para capturar a persistência da democracia e a principal variável de interesse era o valor defasado do log da renda per capita. Dessa forma, também foi adicionado um parâmetro para medir o efeito causal da renda per capita sobre a democracia, um conjunto de variáveis binárias para os países e um conjunto de efeitos de tempo para capturar choques comuns para as democracias.

            A partir desse modelo, os autores rodaram regressões para OLS, para o Método de Diferenças em Diferenças e para o Método de Variáveis Instrumentais.

            O primeiro instrumento é a taxa de poupança. Segundo os autores, é natural que a taxa de poupança influencie a renda no futuro e que é plausível esperar que mudanças na taxa de poupança, em períodos de 5 a 10 anos, não tenham efeito direto sobre a cultura da democracia, estrutura das instituições políticas ou a natureza do conflito político dentro da sociedade. No entanto, há vários canais pelos quais a taxa de poupança pode ser correlacionada com o termo de erro do modelo econométrico, como, por exemplo, o fato dela poder ser influenciada pelo regime político atual ou também por poder estar correlacionada com mudanças na distribuição de renda ou na composição de ativos – o que poderia ter efeito direto sobre os equilíbrios políticos.

            Já o segundo instrumento explora vínculos comerciais entre países. Em que a transmissão dos ciclos econômicos de um país para o outro através do comércio, implica que se pode pensar em um modelo estatístico para a renda de um país que inclua um parâmetro z que mede o efeito da renda mundial ponderada pelo comércio sobre a renda de cada país. Para isso, os autores utilizam como instrumento uma soma ponderada da renda mundial para cada país.

  1. Principais Resultados

            Os resultados para regressões OLS utilizando a amostra de cinco anos sugerem que a democracia defasa é altamente significativa e indica que há um grau considerável de persistência na democracia. O log da renda per capita também se mostrou significativo e, segundo os autores, isso ilustra a relação positiva entre renda e democracia. E, embora estatisticamente significativo, o efeito renda é quantitativamente pequeno.         Porém, a relação positiva entre renda per capita e várias medidas de democracia desapareceu ao introduzir os efeitos fixos. Logo, não há relação entre as mudanças na renda per capita e mudanças na democracia. Ou seja, a renda per capita não é um determinante importante na democracia.

            Já pelo método de variáveis instrumentais, os resultados mostraram uma forte relação entre a renda e a taxa de poupança no primeiro estágio. Os autores encontraram um resultado que demonstraram que um índice de democracia mundial, construído pelos mesmos através das ações comerciais, não tem efeito. Portanto, as duas estratégias IV apresentadas pelos autores demonstraram resultados consistentes que indicam que não uma evidência para um efeito causal forte da renda na democracia.

            Os autores concluem, após a apresentação dos resultados que corroboram os achados que, embora os resultados não forneceram evidências de um efeito causal da renda na democracia, tal efeito pode estar presente, porém atuando em frequências muito mais baixas ou esse efeito causal pode ser condicionado a algumas outras características. É salientado também que os resultados encontrados não implicam que a democracia não tenha efeito sobre o crescimento econômicos, visto que os efeitos fixos nas regressões e a presença de trajetórias de desenvolvimento divergentes criam uma tendência, mas há outros fatores influenciando o caminho da democracia nos países.

  1. Lições de Política Pública

Ao responder o questionamento de “por que os países ricos são democráticos hoje?”, os autores afirmam que, embora não haja uma relação entre as mudanças na renda e democracia nos últimos 100 anos, há uma associação positiva nos últimos 500 anos. A maioria das sociedades não eram democráticas há 500 anos e tinham níveis de renda semelhante, no qual a relação transversal positiva reflete o fato de que aqueles que se tornaram mais democráticos ao longo desse período são também aqueles que cresceram mais rapidamente. Onde a hipótese dos autores é que a relação transversal positiva, no período de 500 anos, entre mudanças na renda e democracia são causadas pelo fato de que os países embarcaram em caminhos de desenvolvimento divergentes.

Referências

Barro, R. J.1999. “Determinants of Democracy”. Journal of Politic Economy, 107(6): S158-83.

Marshall, M. G.; Jaggers, K. “Political Regime Characteristics and Transitions, 1800-2002”. College Park, MD: Polity IV Project, University of Maryland


[1] Tradução própria. Citação original: “Increases in various measures of the standard of living forecast a gradual rise in democracy. In contrast, democracies that arise without prior economic development… tend not to last” (Barro, 1999).