Pesquisadora responsável: Eduarda Miller Figueiredo
Título original: The Value of Flexible Work: Evidence from Uber Drivers
Autores: M. Keith Chen, Judith A. Chevalier, Peter E. Rossi e Emily Oehlsen
Localização da Intervenção: Estados Unidos
Tamanho da Amostra: 197.517 motoristas
Setor: Mercado de Trabalho
Variável de Interesse Principal: Salário
Tipo de Intervenção: Uber (trabalho flexível)
Metodologia: Probit Multivariado
Resumo
Empresas têm lançado modelos de negócios para atender à demanda por serviços usando prestadores independentes em horários não convencionais. Embora essas empresas não ofereçam muitos dos benefícios trabalhistas tradicionais, elas oferecem uma oportunidade para os trabalhadores receberem remuneração em um horário flexível. Este artigo busca analisar padrões de comportamento dos motoristas da Uber e fornecer evidências preliminares sobre os tipos de flexibilidade procurados por estes motoristas. A partir de um modelo Probit Multivariado, encontraram que os motoristas da amostra experimentam grandes mudanças no salário que não são consistentes de uma semana para outra e, por isso atribuem um grande valor ao arranjo de trabalho flexível.
Nos últimos anos, diversas empresas lançaram modelos de negócios que buscam corresponder à demanda por serviços com prestadores de serviços independentes que trabalham em horários intermitentes ou fora do padrão. Embora essas empresas não ofereçam muitos dos benefícios trabalhistas tradicionais, elas oferecem uma oportunidade para os prestadores de serviços receberem remuneração em um horário flexível.
A literatura tem examinado práticas flexíveis no local de trabalho. O Conselho de Consultores Americanos[1] (2010) relata que 81% dos empregadores permitiriam que alguns empregados mudassem periodicamente os horários de entrada e saída dentro de um intervalo de horas, 27% dos empregadores fariam o mesmo para a maioria ou todos os empregados. No entanto, apenas 41% permitiriam que alguns funcionários alterassem os horários de entrada e saída diariamente. Assim, os empregadores normalmente parecem ter preferências por determinadas horas do dia trabalhadas pelos funcionários. Ademais, a literatura também sugere que os trabalhadores com salários mais baixos têm menos flexibilidade do que os trabalhadores com salários mais elevados (Bond e Galinsky, 2010).
Em razão disso, este artigo analisado busca analisar padrões de comportamento dos motoristas da Uber e fornecer evidências preliminares sobre os tipos de flexibilidade procurados por estes fornecedores de mão-de-obra.
Uber é uma plataforma na qual os motoristas, uma vez aprovados, podem utilizar seus carros próprios – ou alugados -, para oferecer caronas quando quiserem. Não havendo requisitos de horas mínimas e poucas restrições sobre horas máximas. As tarifas pagas pelos passageiros são definidas a nível de cidade e ajustam-se dinamicamente (têm aumento) quando a procura é elevada em relação à oferta de motoristas em determinada área.
Como os motoristas podem trabalhar quando quiser, o ganho de um motorista em determinada hora é efetivamente determinado pela disposição marginal de trabalhar do motorista. Porém, os salários são incertos e a remuneração pode ser bastante baixa. Ou seja, a principal vantagem é também uma importante desvantagem: os motoristas podem trabalhar quando quiserem.
Hall e Krueger (2016) examinam evidências de pesquisa e dados administrativos da Uber. Eles documentam que os motoristas citam a flexibilidade como uma razão para trabalhar para a Uber e que para muitos é uma atividade de meio período, secundária ao emprego mais tradicional (Hall e Krueger, 2016; Campbell, 2018).
Dado que os motoristas da Uber trabalham em grande parte em tempo parcial, não é surpreendente que o seu padrão de horas trabalhadas não se assemelhe ao padrão de horas trabalhadas por aqueles com empregos convencionais. Na Figura 1 há uma comparação dos hábitos de trabalho dos motoristas com os hábitos de trabalho dos homens empregados com mais de 20 anos em 2014 (ATUS[2]).
Figura 1: Comparação da atividade do motorista do Uber com os trabalhadores da ATUS
O gráfico da Figura 1 mostra a parcela desses motoristas trabalhando em cada uma das 168 horas da semana. É evidente que o trabalho pelo ATUS ocorre principalmente entre 9h e 17h, enquanto o Uber é mais provável que os motoristas trabalhem às 18h ou 19h do que às 14h ou 15h. Enquanto os homens do ATUS têm cerca de metade da probabilidade de trabalharem no sábado à tarde, os motoristas da Uber têm maior probabilidade de trabalhar no sábado à tarde e à noite.
Os autores utilizaram dados fornecidos pela Uber, que possuem todas as horas dos motoristas da plataforma nos Estados Unidos de setembro de 2015 a abril de 2016, totalizando 197.517 motoristas, com 881.826.744 observações horárias[3]. O foco do estudo foi o serviço UberX, pois é o serviço com a maioria das viagens da Uber. Especificamente, os dados consistem de um identificador de motorista anônimo e um registro de tempo gasto ativo no sistema, tempo de condução, cidade e pagamentos.
Os autores dividiram o tempo em horas discretas como unidade de observação, 168 horas por semana. O trabalhador considerado “ativo” é aquele que estiver ativo (transportando passageiro ou indo buscar o passageiro) por pelo menos 10 minutos dentro dessa hora. O salário é calculado como salário total do motorista nessa hora, dividido pelos minutos trabalhados, vezes 60. Na plataforma Uber, espera-se que os motoristas paguem tanto pelos custos de capital do seu veículo como por todos os custos de operação do veículo. Assim, tais custos foram incorporados ao salário reserva do motorista.
Os autores utilizaram um modelo Probit Multivariado, com uma regressão latente para cada período de tempo. Além disso, o modelo de oferta de trabalho tem dois pontos importantes: (i) o ponto de censura varia de acordo com a observação, na medida em que os salários observados variam entre as observações; e (ii) o modelo salarial de reserva da oferta de trabalho impõe uma exata restrição no coeficiente que alcança a identificação – ou seja, que a restrição dos salários na variável latente do modelo é igual à -1.
A Figura 2 mostra gráfico das variações do salário esperado e do logaritmo do salário esperado. É possível visualizar que mesmo dentro da cidade, semana e dia da semana, há uma grande variação, com um desvio padrão de mais de 3 dólares por hora, o que corresponde a uma variação nos salários de, pelo menos, 10%.
Figura 2: Variação dos Salários Esperados.
A: Salário Esperado. B: Log do Salário Esperado.
Os resultados dos autores sugerem que os motoristas da Uber não têm preferências homogêneas quanto ao horário do dia e o dia da semana. As preferências para a hora do rush de segunda a sexta-feira são muito heterogêneos.
Também foi encontrado que os motoristas da amostra experimentam grandes mudanças no salário que não são consistentes de uma semana para outra e, portanto, eles podem atribuir um grande valor ao arranjo de trabalho flexível. Por exemplo, ao selecionar aleatoriamente 100 motoristas na Filadélfia que trabalharam nas noites de segunda à quinta-feira, os autores encontraram que, embora a maioria dos salários médios da cidade gire em torno de 20 dólares, há uma semana em que o salário efetivo está muito alto.
Os autores descobrem que o motorista médio ganha cerca de US$ 21,67 por hora, com um excedente de cerca de US$ 10 por hora, sugerindo um salário de reserva de US$ 11,67 por hora. O salário de reserva inclui o custo do tempo do motorista e também os custos de condução.
A capacidade de trabalhar em turnos divididos e horários não convencionais no Uber são valiosos para os motoristas. Em que a adaptação a choques salariais de reserva positivos e negativos é possível no acordo de oferta de trabalho ao estilo Uber. Um acordo de trabalho convencional raramente permite que os trabalhadores optem por trabalhar mais se inesperadamente ficarem sem dinheiro.
Ou seja, os autores documentaram uma importante análise de valor de acordos de trabalho flexíveis: a capacidade de adaptar horários de trabalho a salários de reserva que variam no tempo.
A expectativa é que a tecnologia permita o crescimento de mais modalidades de trabalho no estilo da plataforma Uber. Embora tais acordos possam ter desvantagens importantes em relação às carreiras tradicionais com seus direitos trabalhistas, a flexibilidade é uma importante fonte de valor em tais acordos.
Referências
Bond, James T., and Ellen Galinsky. 2011. “Workplace Flexibility and Low-Wage Employees.” https://familiesandwork.org/downloads/WorkFlexandLowWageEmployees.pdf .
Campbell, Harry. 2018. “The Rideshare Guy 2018 Reader Survey.” https://docs.google.com/document/d/1g8pz00OnCb2mFj_97548nJAj4HfluExUEgVb45HwDrE/edit .
Council of Economic Advisors. 2010. “Work-Life Balance and the Economics of Workplace Flexibility.” https://digitalcommons.ilr.cornell.edu/key_workplace/714 .
Hall, Jonathan V., and Alan B. Krueger. 2016. “An Analysis of the Labor Market for Uber Driver-Partners in the United States.” Working Paper no. 22843 (November), NBER, Cambridge, MA.
[1] Council of Economic Advisors (2010).
[2] American Time Use Survey.
[3] Tais números foram encontrados a partir de uma série de limpeza da base de dados original.