Pesquisador responsável: Bruno Benevit.
Título original: The Effect of Age at School Entry on Educational Attainment: An Application of Instrumental Variables with Moments from Two Samples.
Autores: Joshua D. Angrist and Alan B. Krueger.
Localização da Intervenção: Estados Unidos.
Tamanho da Amostra: 112.000 crianças.
Setor: Economia da Educação.
Variável de Interesse Principal: Escolaridade.
Tipo de Intervenção: Idade de ingresso na escola.
Metodologia: IV
Resumo
A educação desempenha um papel fundamental em diversos determinantes sociais das pessoas ao longo de suas vidas. Dada a sua importância, a idade de ingresso no sistema de ensino pode ser um fator relevante para explicar a escolaridade atingida na vida adulta dos indivíduos. Políticas de frequência escolar obrigatória podem afetar tal determinante. Nesse sentido, este estudo considerou dados do Censo dos Estados Unidos de 1960 e 1980 para analisar como a lei de frequência escolar obrigatória do país impactou a escolaridade das coortes afetadas. Através de modelos de variáveis instrumentais formulados pelos autores, os resultados sugerem que as leis de frequência obrigatória induzem a permanência de aproximadamente 10% dos estudantes na escola.
A educação formal é fundamental não só para os indivíduos, como para toda a sociedade. Dada a sua importância, a idade de ingresso na escola é um fator significativo que pode influenciar o desempenho educacional dos estudantes, tendo repercussões de longo prazo para os mesmos. Assim, políticas de frequência escolar obrigatória têm um grande potencial de influenciar nesse comportamento.
No contexto dos Estados Unidos, os autores deste estudo apresentaram um modelo que supõe que as crianças entram na escola no outono do ano em que completam seis anos e sejam obrigadas por lei a permanecer na escola até completarem dezesseis anos (ANGRIST; KRUEGER, 1992). Nessa situação, a data de nascimento de uma criança pode afetar diretamente a quantidade de tempo que ela passará na escola antes de atingir a idade mínima para abandonar os estudos. Estudantes nascidos no início do ano, que completam dezesseis anos mais cedo, tendem a passar menos tempo na escola em comparação com aqueles nascidos no final do ano, resultando em diferentes níveis de educação atingidos. Este fenômeno cria um experimento natural que permitiu aos pesquisadores investigar como a idade de entrada na escola impacta a trajetória educacional dos indivíduos.
Estudos têm mostrado que muitos estudantes abandonam a escola assim que atingem a idade legal mínima, sugerindo que as leis de frequência escolar obrigatória desempenham um papel fundamental em manter esses alunos na escola por mais tempo.
Segundo Angrist e Krueger (1991), dados dos censos de 1960, 1970 e 1980 revelaram que o abandono escolar aumenta significativamente em torno do aniversário de dezesseis anos em estados onde essa é a idade mínima permitida para deixar a escola. Em contraste, estados com requisitos mais rígidos, que estendem a idade mínima para dezessete ou dezoito anos, apresentam taxas de abandono escolar mais baixas. Essas evidências indicam que a idade de ingresso na escola e as políticas de frequência obrigatória estão interligadas, influenciando não apenas quando os alunos começam seus estudos, como também por quanto tempo permanecem na escola, afetando assim seus níveis gerais de escolaridade e potencial futuro.
Para estimar a relação entre a idade de ingresso na escola e a educação obtida, foram utilizados dados de dois censos dos Estados Unidos. A amostra que contém a idade de entrada na escola foi extraída do Censo de 1960, enquanto a amostra que contém os anos de educação foi retirada do Censo de 1980. Ambos os conjuntos de dados foram restritos a homens nascidos entre 1946 e 1952. Focou-se na coorte de homens nascidos entre 1946 e 1952, pois estes estavam no ensino fundamental durante o Censo de 1960.
Para determinar a idade de ingresso na escola, foram comparados os padrões de idade de entrada em dois grupos de estados com diferentes datas de corte para admissão na primeira série. Estados que admitiam crianças que completavam 6 anos até 30 de setembro ou 1º de outubro foram comparados com estados que permitiam a entrada de crianças que completavam 6 anos até 31 de dezembro ou 1º de janeiro. Essas variações ajudaram a analisar a influência das leis estaduais sobre a idade de ingresso na escola.
A criança mais jovem na amostra de 1960 tinha 7 anos, idade acima da mínima legal para frequentar a escola na maioria dos estados. A idade de ingresso na primeira série foi calculada com base na idade e na série escolar do aluno, assumindo que nenhuma criança foi retida ou avançada após entrar na escola. A abordagem utilizada leva em consideração a idade, medida em trimestres no Dia do Censo (1º de abril de 1960), e a série em que o aluno estava matriculado. Os anos de escolaridade completos foram obtidos do Censo de 1980, embora este censo reporte apenas os anos completos, e não os trimestres de escolaridade.
O estudo empregou o método de variáveis instrumentais (IV) para estimar a relação entre a idade de entrada na escola e os anos de escolaridade completados. A amostra considerada incluiu homens nascidos entre 1946 e 1952, com a idade de entrada na primeira série estimada a partir de informações do Censo de 1960 e os anos de escolaridade obtidos do Censo de 1980. Assim, este método baseou-se na suposição de que as crianças não foram retidas ou avançadas de série após entrarem na escola, permitindo calcular a idade de entrada a partir da idade e do grau escolar reportados no censo.
O uso de variáveis instrumentais, neste caso, permite estimar a relação entre a idade de entrada na escola e os anos de escolaridade completados, controlando possíveis correlações entre a idade de entrada e outros fatores não observados que podem influenciar os resultados educacionais. Essa abordagem oferece uma maneira robusta de investigar o impacto da idade de entrada na escolaridade, mesmo na ausência de dados perfeitos sobre a idade exata de entrada na escola.
Para validar essas estimativas, foram comparados os padrões de idade de entrada em estados com diferentes datas de corte para admissão na primeira série. Estados com datas de corte no terceiro trimestre foram comparados com estados com datas de corte no quarto trimestre, analisando como essas políticas de corte afetam a idade de entrada das crianças. A comparação dos padrões de idade de entrada entre esses dois grupos de estados fornece uma verificação adicional da precisão das estimativas de idade de entrada de forma heterogênea, permitindo a estimação de efeitos associados a diferentes idades de ingresso.
Os resultados do estudo sobre a idade de ingresso escolar indicaram a existência de uma relação negativa entre a idade de entrada na escola e os anos de escolaridade completados. Especificamente, as estimativas revelaram que, de maneira geral, crianças que entram na escola em uma idade mais avançada tendem a completar menos anos de educação. As análises foram feitas utilizando diferentes especificações de tendências de coorte na educação, e a maioria das especificações resultou em coeficientes significativos, reforçando essa relação.
A análise também mostrou que essa relação se mantém robusta mesmo quando controlada por diferentes variações de modelos e ajustes para tendências de coorte. Além disso, as estimativas obtidas permaneceram significativas ao considerar interações entre ano e trimestre de nascimento com o local de nascimento, e os testes de ajuste do modelo sugerem que a suposição de sazonalidade no nascimento como um instrumento válido para a idade de entrada escolar é plausível. Tais resultados dão suporte ao modelo proposto pelos autores que relaciona a idade de ingresso escolar com os anos de educação completados, sugerindo que políticas de idade mínima de entrada escolar podem ter impactos significativos na trajetória educacional dos estudantes.
Neste artigo, os autores investigaram o impacto da idade de ingresso escolar sobre os anos de escolaridade completados. Os resultados apresentados indicaram que indivíduos que ingressam na escola em idades mais avançadas tendem a alcançar um nível de escolaridade menor. Esse efeito persiste mesmo após controlar as tendências de coorte e outras variáveis demográficas. Adicionalmente, os autores encontraram evidências de que aproximadamente 10% dos homens nascidos entre 1946 e 1952 foram impactados pelas leis de escolaridade obrigatória, permanecendo na escola por um período adicional em decorrência dessas políticas públicas.
As evidências apresentadas neste artigo auxiliam na compreensão dos fatores que influenciam o desempenho educacional, fornecendo subsídios para formuladores de políticas públicas. Os autores destacam que, dado o impacto da idade de ingresso escolar, a revisão das políticas de idade mínima para ingresso pode otimizar os resultados educacionais. Além disso, a adaptação dessas políticas pode ajudar na implementação de medidas que alinhem melhor as exigências educacionais com o desenvolvimento infantil, contribuindo para a melhoria geral do sistema educacional.
Referências
ANGRIST, J. D.; KRUEGER, A. B. Does Compulsory School Attendance Affect Schooling and Earnings? The Quarterly Journal of Economics, v. 106, n. 4, p. 979–1014, 1991.
ANGRIST, J. D.; KRUEGER, A. B. The Effect of Age at School Entry on Educational Attainment: An Application of Instrumental Variables with Moments from Two Samples. Journal of the American Statistical Association, v. 87, n. 418, p. 328–336, jun. 1992.