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Poupar ou gastar?

29 set 2022

Pesquisadora responsável: Viviane Pires Ribeiro

Título do Paper: Self-control and saving for retirement

Autores: David I. Laibson, Andrea Repetto e Jeremy Tobacman

Localização da Intervenção: Estados Unidos

Tamanho da Amostra: Não específicado

Grande tema: Finanças

Variável de Interesse principal: Poupança

Tipo de Intervenção: Análise dos planos de pensão de contribuição definida com impostos diferidos.

Metodologia: Modelo hiperbólico

A lacuna entre intenções e ações é evidente na economia do ciclo de vida, e esse é o foco do estudo realizado por Laibson et al. (1998). De acordo com os autores, alguns especialistas pediram flexibilização das penalidades para saques antecipados de planos de poupança, acreditando que as pessoas investiriam mais se soubessem que poderiam sacar o seu dinheiro a qualquer momento. Mas a maioria dos americanos parecem ser cautelosos com essas mudanças. Sessenta por cento dos americanos dizem que é melhor manter, em vez de afrouxar, as restrições legais aos planos de aposentadoria para evitar que as pessoas usem o dinheiro para outras finalidades. Apenas 36 por cento preferiram tornar mais acessível os saques para que as pessoas consigam aproveitar as suas economias antes da aposentadoria.

Contexto da Avaliação

Há um conflito sistemático entre as preferências de curto e longo prazo dos agentes econômicos. Quando duas recompensas alternativas estão distantes no tempo, os tomadores de decisão geralmente agem com relativa paciência: por exemplo, é preferível fazer uma pausa de trinta minutos no trabalho em 101 dias, em vez de uma pausa de quinze minutos em cem dias. Mas quando ambas as recompensas são antecipadas no tempo, os tomadores de decisão invertem suas preferências, tornando-se mais impacientes: desse modo, é preferível fazer uma pausa de quinze minutos agora, em vez de uma pausa de trinta minutos amanhã. A evidência de tais reversões foi encontrada em experimentos usando uma ampla gama de recompensas reais, tais como dinheiro, bens duráveis, suco de frutas, doces, alívio de barulhos nocivos, acesso a videogames, entre outros. www.estsolar.lt Estsolar saulės elektrinės ir parkai

Vários estudos usaram multiple-self frameworks para modelar essa lacuna entre as preferências de curto e longo prazo. Os autores destacaram o conflito entre o desejo de longo prazo de ser paciente e o desejo de curto prazo de gratificação instantânea. Esse conflito pode ser capturado de maneira particularmente parcimoniosa, permitindo que as funções de desconto diminuam a uma taxa mais acentuada no curto prazo do que no longo prazo.

Detalhes da Intervenção

As teorias econômicas padrão permitem que os consumidores cometam erros, mas implicam que esses erros não serão sistemáticos: eles tenderão a não seguir a mesma direção. Por outro lado, as evidências indicam que a maioria dos consumidores acreditam que estejam economizando pouco. Esse erro sistemático e auto-reconhecido contradiz o modelo econômico padrão do consumidor maximizador. O estudo realizado por Laibson et al. (1998) explora um modelo alternativo, da literatura de psicologia, que pode dar sentido aos aparentes conflitos entre atitudes, intenções e comportamentos no domínio da poupança.

O modelo hiperbólico ajuda a analisar o problema da subpoupança nos Estados Unidos. Ele permite que os economistas avaliem a provável magnitude da subpoupança e identifiquem os tipos de instrumentos financeiros que aliviarão o problema. Por exemplo, o objetivo do estudo realizado por Laibson et al. (1998) é avaliar planos de pensão de contribuição definida (CD) com impostos diferidos. Os autores questionam se esses instrumentos aumentam a poupança nacional e o bem-estar do consumidor, e se são mais eficazes em uma economia povoada por consumidores com problemas de autocontrole.

Detalhes da Metodologia

Laibson et al. (1998) desenvolvem e avaliam um modelo hiperbólico para a simulação do comportamento de consumidores. As simulações são uma ferramenta crítica para prever os efeitos de longo prazo de políticas recém-implementadas e para avaliar os efeitos de curto e longo prazo de propostas de políticas não testadas. A abordagem de simulação tem uma grande falha que os autores sinalizam antecipadamente: assim, eles adotam a suposição econômica padrão de sofisticação ilimitada na solução de problemas. Os consumidores no modelo proposto resolvem perfeitamente um problema complexo de retroindução ao fazer escolhas sobre consumo e alocação de ativos.

Os autores escolheram essa abordagem por dois motivos. Primeiro, a suposição de racionalidade perfeita é a referência natural para um economista. Essa suposição foi adotada não porque necessariamente descreve adequadamente o comportamento do consumidor, mas porque representa o ponto de partida para todas as análises econômicas. Em segundo lugar, mesmo que se queira enfraquecer as suposições sobre a sofisticação do consumidor, não está claro como fazê-lo de forma parcimoniosa e realista. Embora economistas e psicólogos tenham muitas evidências de que os consumidores não são perfeitamente racionais, eles não sabem necessariamente qual alternativa à racionalidade deve ser adotada. Não existem modelos de racionalidade limitada bem desenvolvidos aplicáveis ao problema de economia de ciclo de vida.

Resultados

O estudo realizado por Laibson et al. (1998) mostra que os padrões de consumo de ciclo de vida e acumulação de ativos são consistentes com um modelo hiperbólico. À primeira vista, as escolhas de ciclo de vida de consumidores hiperbólicos e exponenciais são indistinguíveis. No entanto, os consumidores hiperbólicos exibem algumas regularidades especiais que permitem aos pesquisadores distingui-los de suas contrapartes exponenciais: eles são muito mais propensos a encontrar restrições de liquidez e exibem os efeitos anômalos de poupança por precaução. Esses fenômenos hiperbólicos estão implícitos na equação de Euler generalizada.

Os autores consideraram outra distinção entre comportamento hiperbólico e exponencial. Desse modo, eles mostram que os consumidores hiperbólicos reagem muito mais favoravelmente aos planos de pensão de contribuição definida do que os consumidores exponenciais equivalentes. As simulações de referência para uma economia exponencial – com coeficiente de aversão ao risco relativo igual a 1 e uma elasticidade de medida de substituição intertemporal de 0,27 – indicam que os planos de CD com penalidades de retirada antecipada entre 10% e 50% aumentam a poupança nacional líquida em estado estacionário, com taxa de 61 por cento para 102 por cento. Por outro lado, em uma economia hiperbólica (com coeficiente de aversão ao risco relativo igual a 1 e elasticidade de medida de substituição intertemporal de 0,22), esses planos aumentam a taxa de poupança nacional líquida em estado estacionário em 81% para 134%. Esses resultados são sensíveis à calibração do coeficiente de aversão relativa ao risco. Valores mais altos do coeficiente de aversão ao risco relativo reduzem significativamente os efeitos dos planos de CD nas economias exponencial e hiperbólica.

Lições de Política Pública

Pesquisas sobre comportamento animal e humano levaram psicólogos a concluir que as taxas de desconto de curto prazo são muito mais altas do que as taxas de longo prazo. Tais preferências são formalmente modeladas com funções de desconto que são hipérboles generalizadas. Essa estrutura de desconto configura um conflito entre as preferências atuais e aquelas que serão mantidas no futuro, o que implica que as preferências são dinamicamente inconsistentes.

Portanto, os consumidores hiperbólicos relatarão uma lacuna entre o que eles acham que deveriam economizar e o que realmente poupam. As taxas de poupança normativas ficarão acima das taxas de poupança reais, uma vez que as preferências de curto prazo por gratificação instantânea prejudicarão o esforço do consumidor para implementar planos ótimos de longo prazo. No entanto, o consumidor hiperbólico não está condenado a ser um “fracassado”. Dispositivos de compromisso, como pensões e ativos ilíquidos, podem ajudar o consumidor hiperbólico a se comprometer, aumentando assim o seu bem-estar. A disponibilidade de ativos ilíquidos é, portanto, um determinante crítico das taxas de poupança nacional, bem como do bem-estar do consumidor. Mas muita iliquidez pode ser problemática. Os consumidores enfrentam um risco substancial de renda do trabalho não segurável e precisam de ativos líquidos para suavizar seu consumo. Os agentes hiperbólicos buscam instrumentos financeiros que encontrem o equilíbrio certo entre comprometimento e flexibilidade.

A lacuna entre intenções e ações é evidente na economia do ciclo de vida, e esse foi o foco do estudo realizado por Laibson et al. (1998). Os autores mostram que a suposição hiperbólica tem implicações importantes para conclusões positivas e normativas sobre o comportamento de poupança. A análise complementa a ampla e ativa literatura empírica sobre a eficácia de instrumentos de poupança com impostos diferidos, como contas de aposentadoria individual e planos 401(k) – o 401k é um plano de aposentadoria que permite que um cliente utilize parte de seu salário para investimentos de longo prazo. Assim, os autores identificaram que as conclusões sobre a eficácia desses instrumentos dependem criticamente de características mal identificadas das preferências do consumidor.

Referências

LAIBSON, David I. et al. Self-control and saving for retirement. Brookings papers on economic activity, v. 1998, n. 1, p. 91-196, 1998.