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Quais são as tendências e lacunas da burocracia representativa?

21 nov 2022

Título do Paper: Trends and gaps: A meta-review of representative bureaucracy

Pesquisadora responsável: Viviane Pires Ribeiro

Autores: Sebawit G. Bishu e Alexis R. Kennedy

Localização da Intervenção: Estados Unidos

Tamanho da Amostra: 96 artigos

Grande tema: Política Econômica e Governança

Variável de Interesse principal: Burocracia representativa

Tipo de Intervenção: Meta-revisão da burocracia representativa

Metodologia: Revisão da literatura

Tendo em vista que o arcabouço teórico da burocracia representativa explora a ligação entre as características sociais e demográficas dos burocratas e sua probabilidade de realizar ações que beneficiem os cidadãos com os quais compartilham identidades, Bishu e Kennedy (2020) analisam 96 artigos sobre burocracia representativa para explorar como a estrutura teórica é descrita, aplicada e acompanha o desenvolvimento contextual da burocracia representativa ao longo do tempo. Assim, os autores concluem que a burocracia representativa foi aplicada em áreas geográficas, metodológicas e políticas limitadas. Ou seja, a ausência de estudos que enfocam identidades interseccionais, diferentes contextos geográficos e políticos e métodos mais qualitativos e mistos impedem a compreensão do vínculo entre representação passiva e ativa.

Contexto da Avaliação

O arcabouço teórico da burocracia representativa tem sido uma das maneiras pelas quais os estudiosos da ciência política e da administração pública abordam a questão de quão bem os funcionários do governo atendem ao público. A teoria da burocracia representativa postula que burocracias que compartilham características demográficas com o público são mais propensas a tomar decisões que beneficiem aqueles a quem servem. Em um estado democrático, isso ajuda a legitimar as ações dos burocratas do governo.

Por meio dessa teoria é possível reconhecer que, em determinadas circunstâncias, existe um vínculo entre a representação e as decisões burocráticas que afetam as minorias e as mulheres. Os estudos da burocracia representativa examinam as circunstâncias em que a representação produz, ou não produz, resultados positivos para grupos tradicionalmente sub-representados. Embora vários estudos apliquem a teoria da burocracia representativa para examinar os efeitos da representação nos resultados que beneficiam grupos minoritários, a literatura existente carece de uma análise aprofundada da aplicação da teoria, perdendo assim a oportunidade de examinar a força e a limitação de sua aplicação mais ampla.

Detalhes da Intervenção

Bishu e Kennedy (2020) realizam uma análise de 96 artigos de periódicos revisados ​​por pares com foco na burocracia representativa. Dado que atualmente a necessidade de diversidade e inclusão de burocracias é um discurso crítico, os autores visam atingir três objetivos. Primeiramente, eles busacam documentar aplicações conceituais do arcabouço teórico da burocracia representativa, identificando o desenvolvimento histórico da burocracia juntamente com sua evolução conceitual. Este objetivo visa cumprir dois propósitos. Em primeiro lugar, pretende traçar o desenvolvimento conceitual da teoria ao longo do tempo. Além disso, visa entender as tendências nos tipos de questões abordadas e perguntas feitas quando a teoria é aplicada. Em segundo lugar, os autores buscam descobrir aplicações contextuais e analíticas do quadro teórico para destacar onde a burocracia representativa foi amplamente aplicada, onde foi minimamente aplicada e onde está ausente. Terceiro, fornecem uma avaliação de como a burocracia representativa foi testada. Isso ajuda a destacar as diferentes dimensões dentro das quais o referencial teórico tem sido usado, bem como a identificar seus pontos fortes, lacunas e limitações.

Para coletar artigos focados na burocracia representativa, os autores consultaram e examinaram a lista de referência de cada um dos artigos coletados. A lista total inclui 227 artigos, oito capítulos de livros, 33 livros e quatro dissertações. Por meio da revisão, foram eliminados artigos que não focavam diretamente na burocracia representativa e que eram de outras áreas fora da administração pública. O foco principal do estudo foi a análise de artigos empíricos, além de artigos teóricos que lançam uma nova luz sobre a definição e aplicação do referencial teórico. Além disso, para a análise, foram incluídos apenas artigos publicados em periódicos revisados ​​por pares, excluindo assim capítulos de livros, livros, resenhas e respostas de livros e dissertações. O banco de dados final incluiu 96 artigos de periódicos revisados ​​por pares.

Detalhes da Metodologia

Uma análise de conteúdo em duas etapas foi realizada por Bishu e Kennedy (2020). Na primeira etapa, os autores em conjunto selecionaram os 96 artigos a serem incluídos na revisão. Na segunda etapa, identificaram as áreas temáticas que orientaram o desenvolvimento do instrumento de codificação. Foram gerados instrumentos de codificação para descrever como é aplicado o referencial teórico da burocracia representativa. Na segunda etapa, utilizaram de forma independente o instrumento de codificação para codificar cada um dos 96 artigos. Depois de codificar todos os 96 artigos, compararam os resultados da codificação. Quando o resultado da codificação diferiu, os autores chegaram a um consenso sobre as decisões de codificação.

O procedimento de codificação utilizado foi o seguinte: (a) criar categorias nas quais os temas são codificados; (b) definir categorias com base na compreensão da literatura dos autores; e (c) ler artigos e codificar temas relevantes colocando-os em categorias estabelecidas. A codificação foi feita para permitir tanto a análise quantitativa (através da contagem de temas específicos usando uma planilha Excel) quanto a análise qualitativa (através de agrupamentos de temas específicos usando o software NVivo).

Resultados

O estudo realizado por Bishu e Kennedy (2020) mostra que a maioria dos estudos que usam a estrutura teórica é aplicada dentro de contextos políticos e geográficos limitados. Limitar o contexto político e geográfico em que a burocracia representativa é testada coloca uma série de desafios ao desenvolvimento do quadro teórico. O primeiro desafio diz respeito a entender se a burocracia representativa produz resultados semelhantes em diferentes áreas de política. A aplicação do quadro teórico em diferentes áreas de política pode assumir diferentes formas como resultado de diferentes resultados. Da mesma forma, pouco se sabe se os resultados da burocracia representativa fora do contexto dos EUA são semelhantes aos encontrados dentro de suas fronteiras. Terceiro, um desafio igualmente importante é a operacionalização significativa da representação em vários contextos geográficos. A revisão da literatura existente sugere que pouco se sabe sobre como as disparidades no acesso a serviços devido ao local onde as pessoas vivem são afetadas por diferenças de gênero, raça/etnia, classe, região ou identidades sociais. Portanto, há uma necessidade de expandir a aplicação da burocracia representativa para além do contexto geográfico dos EUA e das áreas de políticas de educação e aplicação da lei. Isso ajudará a testar a estrutura teórica em novas áreas, informar sobre sua generalização e identificar sua utilidade e possíveis limitações conceituais.

Outra forma de avaliar o uso da burocracia representativa é examinar o método utilizado para analisar os dados em estudos anteriores. A revisão da literatura existente revela que o referencial teórico tem sido aplicado em contextos metodológicos limitados. Enquanto a aplicação de métodos quantitativos ajuda os pesquisadores a descobrir tendências e associações, os métodos qualitativos ajudam a descobrir como e por que os processos de representação geram resultados. Por outro lado, a aplicação de abordagens de métodos mistos pode chegar a questões de associação e por que ou como os processos produzem resultados específicos. A ausência de aplicação metodológica diversificada sugere que questões que só podem ser respondidas com métodos qualitativos ou mistos ficam sem resposta, limitando o desenvolvimento e a utilidade do referencial teórico.

Lições de Política Pública

Com base na revisão de 96 artigos sobre burocracia representativa, Bishu e Kennedy (2020) relatam que há amplo espaço para expandir e desenvolver o quadro teórico. A futura aplicação da burocracia representativa deve estender a definição e operacionalização da representação para além das dicotomias de identidades de gênero e raça. Os autores encorajam os pesquisadores a olhar para a representação em termos de identidades interseccionais e em formas de identidades demográficas diferentes de gênero e raça que estão faltando na literatura existente. O estudo recomenda expandir a aplicação da estrutura teórica para além da localização geográfica dos EUA, em áreas políticas menos exploradas e aplicar diversos métodos analíticos para aumentar a generalização da teoria da burocracia representativa e entender melhor por que ela produz determinados resultados. Ademais, a revisão sugere que as aplicações práticas da estrutura teórica devem ser mais estudadas para não apenas trabalhar para recrutar uma força de trabalho mais diversificada, mas também treinar a força de trabalho existente para ser mais inclusiva de diversas populações.

Além de recrutar e promover ativamente membros de populações minoritárias e mulheres na burocracia, as organizações também devem liderar e treinar sua força de trabalho atual sobre equidade social e como ser aliados. Ignorar brancos, homens brancos e homens que compõem uma grande parte da força de trabalho do governo aumenta a divisão entre indivíduos brancos e não-brancos e homens e mulheres, e reforça a alteridade em vez da inclusão. Portanto, pesquisas futuras sobre burocracia representativa devem considerar como mudar a força de trabalho incluindo mais pessoas que representam populações marginalizadas, bem como treinar aqueles que já estão no governo para serem aliados de grupos desprivilegiados.

Referências

BISHU, Sebawit G.; KENNEDY, Alexis R. Trends and gaps: A meta-review of representative bureaucracy. Review of Public Personnel Administration, v. 40, n. 4, p. 559-588, 2020.