IDP

Ferramentas de acessibilidade

VLibras

Consulte aqui o cadastro da Instituição no Sistema e-MEC


TAXAS DE MORTALIDADE HÁ MAIS DE 100 ANOS ATRÁS TÊM IMPACTO NO DESEMPENHO ECONÔMICO ATUAL?

26 set 2022

Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo

Autores: Daron Acemoglu, Simon Johnson, James A. Robinson

Localização da Intervenção: Conjunto de países

Tamanho da Amostra: -

Setor: Desenvolvimento Econômico

Variável de Interesse Principal: Efeito das instituições sobre a renda per capita

Tipo de Intervenção: Taxas de mortalidade e Risco de Expropriação

Metodologia: 2SLS

Resumo

Para preencher a lacuna de estimativas do efeito das instituições sobre o desempenho econômico, foi estimado o impacto destas instituições sobre o desempenho utilizando uma fonte de variação exógena, baseada numa teoria baseada em três instalações. A hipótese do estudo é que a mortalidade de colonos afetou os assentamentos, em que os assentamentos afetaram as primeiras instituições e, com isso, as primeiras instituições persistiram e formaram a base das instituições atuais. Através de um 2SLS, ficou demonstrado uma forte correlação entre instituições e a performance econômica e que as taxas de mortalidade dos colonos há 100 anos atrás explicam mais de 25% das variações nas instituições atuais.

  1. Problema de Política

As diferenças nas instituições e nos direitos de propriedade têm recebido uma atenção considerável ao tentar responder quais são as causas fundamentais das grandes diferenças de renda per capita entre países. Em que países com melhores instituições, direitos de propriedade mais seguros e menores distorções nas políticas internacionais, investirão mais em capital físico e humano, o que possibilita a utilização destes fatores de forma mais eficiente para alcançar um maior nível de renda (North, 1981; Knack e Keefer, 1995; Rodrik, 1999).

Em algum nível, é óbvio que as instituições são importantes. No entanto, existia - na época do estudo aqui discutido – uma lacuna de estimativas confiáveis do efeito das instituições sobre o desempenho econômico. Em razão disto, os autores estimaram o impacto das instituições no desempenho econômico utilizando uma fonte de variação exógena nas instituições, em que se propôs uma teoria das diferenças institucionais entre os países colonizados por europeus[1]. Dessa forma, explorando essa teoria para derivar uma possível fonte de variação exógena.

  1. Contexto de Implementação e de Avaliação

            A teoria proposta pelos autores é baseada em três instalações:

  1. Que haviam diferentes tipos de políticas de colonização que criaram diferentes conjuntos de instituições. Em que de um lado, as potências europeias criaram “estados extrativistas” não introduziram muita proteção para a propriedade privada, nem forneceram cheques e saldos contra a expropriação do governo, focando no objetivo principal de que a extração do Estado deveria transferir o máximo dos recursos da colônia ao colonizador. E do outro lado, europeus migraram e se estabeleceram em várias colônias, tentando replicar as instituições europeias, com forte ênfase na propriedade privada e cheques contra o poder do governo.
    1. A estratégia de colonização foi influenciada pela viabilidade de assentamentos. Em lugares onde o ambiente da doença não era favorável à colonização europeia, as cartas contra a criação de “neo-Europas”, e a formação do estado extrativista era mais provável.
    1. O estado colonial e instituições persistiram mesmo depois da independência.
  1. Detalhes da Política/Programa

            A hipótese dos autores é que a mortalidade de colonos afetou os assentamentos, em que os assentamentos afetaram as primeiras instituições e, com isso, as primeiras instituições persistiram e formaram a base das instituições atuais.

            Com base nas premissas listadas na teoria proposta pelos autores, foi utilizado taxas de mortalidade esperadas pelos primeiros colonizadores europeus nas colônias como instrumento para as instituições atuais nesses países. Os europeus eram bem informados sobre essas taxas de mortalidade no tempo, embora não soubessem controlar as doenças que causaram essas altas taxas de mortalidade.

Figura 1: Relação entre a renda e a mortalidade do colonizador

            A Figura 1 traça o logaritmo do PIB per capita no ano do estudo (2001) contra o logaritmo das taxas de mortalidade do colonizador por mil para uma amostra de 75 países. É apresentado uma forte relação negativa, em que colônias onde os europeus enfrentaram taxas de mortalidade mais altas são atualmente mais pobres. Para os autores, isto reflete o efeito da mortalidade dos colonos atuando nas instituições trazidas pelos europeus.

            Com essas considerações em conjunto dos dados sobre a mortalidade da população local e densidade populacional antes da chegada dos europeus, leva os autores a acreditar que a mortalidade dos colonos é um instrumento plausível para o desenvolvimento institucional: as doenças da época afetaram os padrões de assentamentos europeus e o tipo de instituições que eles estabeleceram, mas teve pouco efeito sobre a saúde e a economia dos povos indígenas.

  1. Método de Avaliação

Os autores regrediram o desempenho atual das instituições e instrumentalização pelas taxas de mortalidade dos colonos. Foi utilizado uma variedade de variáveis para capturar as diferenças institucionais, mas como o foco do estudo eram os direitos de propriedade, foi utilizado o índice de proteção contra “risco de desapropriação” do Political Risk Services como uma proxy para instituições. No qual esta variável mede diferenças em instituições originadas de diferentes tipos de estados e políticas estaduais. O Political Risk Services relata um valor entre 0 e 10 para cada país e ano, com 0 correspondendo a menor proteção contra a expropriação. Os autores utilizaram o valor médio para cada país entre 1985 e 1995.

Foi regredido uma regressão linear, através do método de Mínimos Quadrados Ordinários (OLS), conforme esta equação:

                                                                                              

em que  yi é a renda per capita no país i, Ri é a proteção contra “risco de desapropriação”, Xi é um vetor de covariáveis, e ei é um termo de erro aleatório. O coeficiente de interesse ao longo do artigo é o efeito das instituições sobre a renda per capita.

            Além dessa equação que descreve a relação entre as instituições atuais e o logaritmo do PIB, apresentam-se as seguintes equações:

                                                                                                           

onde R é a medida das instituições atuais (proteção contra a desapropriação entre 1985 e 1995), C é a medida de início das instituições e M é a mortalidade enfrentada pelos colonos. No qual, a estratégia de identificação mais simples é a utilização de Si ou Ci como um instrumento para Ri. Porém, na medida em que os colonos são mais propensos a migrar para áreas mais ricas e as primeiras instituições refletem outras características que são importantes para a renda atual, a estratégia de identificação seria inválida (ou seja,  Ci e Si poderiam ser correlacionados com ei). Portanto, foi utilizado as taxas de mortalidade enfrentadas pelos colonos, o logMi, como instrumento para .

            Portanto, as estimativas de mínimos quadrados de dois estágios da equação (1), a proteção contra a variável de desapropriação (Ri), é tratada como endógena e modelada como:            

onde  é a taxa de mortalidade de colonos em força média de 1.000.

  1. Principais Resultados

            Os resultados mostram que as taxas de mortalidade enfrentadas pelos colonos há mais de 100 anos atrás explicam mais de 25% da variação nas instituições atuais.

            Ademais, os achados sugerem uma correlação forte entre instituições e a performance econômica. E que não se deve interpretar essa relação como causal, visto que, as economias ricas podem ter condições de pagar (ou talvez preferir) instituições melhores. Além disso, salientam que existem muitos determinantes omitidos das diferenças de renda que naturalmente são correlacionados com as instituições e, por fim, descrevem que as medidas das instituições são construídas ex-post, e os analistas podem ter tido um viés natural de ver instituições melhores em lugares mais ricos.

            Ficou também demonstrado que essa relação ocorre através dos canais hipotéticos: as (potenciais) taxas de mortalidade de colonos foram um dos principais determinantes dos assentamentos, que foram um dos principais determinantes das primeiras instituições[2]; e há uma forte correlação entre as primeiras instituições e as instituições atuais.

  1. Lições de Política Pública

O estudo enfatiza a experiência colonial como um dos muitos fatores que afetam as instituições. Em que, como as taxas de mortalidade enfrentadas pelos colonos são indiscutivelmente exógenos, elas são úteis como instrumento para isolar o efeito das instituições na performance econômica.

Para os autores, esses resultados sugerem ganhos econômicos substanciais com o aprimoramento das instituições[3]. Ademais, os resultados indicam que a redução do risco de expropriação resulta em ganhos significativos de renda per capita, mas não indica que medidas concretas levem a uma melhoria nessas instituições.

Referência

ACEMOGLU, Daron; JOHNSON, Simon; ROBINSON, James A. The colonial origins of comparative development: An empirical investigation. American economic review, v. 91, n. 5, p. 1369-1401, 2001.


[1] Os autores aqui se referem a “experiência colonial” como a influência europeia no resto do mundo.

[2] Na prática, instituições em 1900.

[3] Por exemplo, como no caso do Japão durante a Restauração Meiji ou da Coréia do Sul durante a década de 1960.