Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo
Nome do artigo: Why Do World War II Veterans Earn More than Nonveterans?
Autores: Joshua Angrist e Alan B. Krueger
Localização da Intervenção: Estados Unidos
Tamanho da Amostra: 335.989 indivíduos do sexo masculino.
Setor: Mercado de Trabalho
Variável de Interesse Principal: Salários
Tipo de Intervenção: II Guerra Mundial
Metodologia: 2SLS
Resumo
Cerca de 10 milhões de homens serviram na era da II Guerra Mundial, em que o processo de recrutamento seguiu uma regra de cronologia do nascimento. A partir dos resultados de uma comparação salarial entre veteranos e não-veteranos, os autores buscam explorar explicações alternativas para o aparente sucesso no mercado de trabalho civil dos veteranos da II Guerra Mundial. A partir de estimações utilizando métodos como OLS e 2SLS, em que controlam as possíveis endogeneidades desta análise, os autores concluíram de que os veteranos da II Guerra Mundial não ganham mais do que os não-veteranos comparáveis.
O objetivo deste trabalho foi explorar explicações alternativas para o aparente sucesso no mercado de trabalho dos veteranos da II Guerra Mundial. Tal estudo ocorre baseado no fato de que uma comparação mostrou que, na média, veteranos da II Guerra Mundial ganham mais e possuem taxas de desemprego menores do que os não-veteranos da mesma idade. Já os veteranos da Guerra do Vietnã, ganham menos e tem maiores taxas de desemprego quando comparado aos não-veteranos.
Essas diferenças nas consequências do status de veterano em diferentes épocas levanta questões sobre o funcionamento do mercado de trabalho e das forças armadas. Uma das hipóteses é que a Guerra do Vietnã era uma causa impopular, em que homens que serviram durante a guerra foram discriminados quando retornaram ao mercado de trabalho civil. Enquanto a II Guerra Mundial foi largamente apoiada, em que os veteranos desse período obtiveram um tratamento diferenciado no emprego civil. Ademais, segundo os autores, sentimentos positivos sobre a II Guerra Mundial também podem ter se transformado em apoio político à subsídios relativamente generosos para educação e tratamento preferencial na contratação.
Outro fator que pode ter influenciado nessa diferenciação de tratamentos, conforme os autores explicitam no texto, foi o fato de que jovens de famílias ricas evitaram o serviço militar durante o período do Vietnã, enquanto os de baixa renda não tiveram a mesma opção (Cooper, 1977). Já na II Guerra Mundial, quase 75% dos homens de coortes elegíveis serviram as forças armadas. Assim, essas forças de seleção provavelmente induziram um viés positivo nas estimativas do prêmio veterano para veteranos da II Guerra Mundial e um viés negativo para os veteranos da Guerra do Vietnã.
Segundo os dados obtidos pelos autores, cerca de 16.354.000 homens serviram às forças armadas durante a era da II Guerra Mundial (1940-1947), em que 10 milhões desses homens foram convocados. Como o processo de recrutamento seguiu uma regra cronologia de nascimento, uma vez recrutados o número de homens necessário para satisfazer a quota exigida naquele momento, o “resto” não estavam mais em risco de recrutamento. Assim, esse processo gerou uma correlação entre a data de nascimento e a probabilidade de serviço militar.
Portanto, a análise dos autores se concentra nos registrados na segunda parte do 6º registro (nascidos após 1925). 64% dos registrados foram isentados ou rejeitados por terem sidos classificados como fisicamente ou mentalmente incapaz, enquanto os outros 34% foram “adiados” por razões profissionais – produção em tempo de guerra -.
O tempo mínimo do período de serviço nas forças armadas para os convocados era de 18 meses, com um requisito adicional para servir como reservas após o término do período de serviço. Essa exigência foi dispensada para os recrutas que concordaram em permanecer no exército regular por um adicional de 24 meses de serviço.
Houveram diferentes datas de convocações, totalizando 7 convocações nacionais nesse período, em que quase todos os cidadãos e residentes dos Estados Unidos foram obrigados a se registrar. As convocações se deram com as seguintes regras:
Este estudo teve como objetivo reexaminar o prêmio dos veteranos da II Guerra Mundial utilizando técnicas econométricas para controlar uma seleção não aleatória para as forças armadas. No qual se utilizam variáveis instrumentais correlacionadas com o status de veterano, porém não correlacionadas com outros determinantes de ganhos.
Os autores utilizaram uma amostra de 5% de uso público do censo de 1980, onde o conjunto de dados contém informações para uma amostra auto ponderada de 11 milhões de indivíduos nos EUA. Portanto, após a devida limpeza da base de dados, o estudo continha informações de 335.989 homens.
Foi estimado um OLS com uma função de ganhos de capital humano, em que a variável dependente é o log dos salários[2]. Porém, como há algum nível de endogeneidade pelo fato de o Serviço de Seleção tender a rejeitar registrados com baixa capacidade de ganhos, os autores rodaram um 2SLS, em que o primeiro estágio é utilizado para determinar o status do veterano (variável dependente)[3]. Portanto, utilizou-se uma estratégia de variáveis instrumentais que explora a relação entre a data de nascimento e o status de veterano.
As estimações dos modelos de OLS e de 2SLS apresentaram resultados bem diferentes, em que o salário de um veterano pela estimativa OLS é de -22% enquanto pela estimativa 2SLS é de -13%. Ocorre ainda um contraste entre as variáveis binárias de raça, estado civil, status de residência e se o indivíduo trabalha em uma região metropolitana.
Quando se observa as covariáveis de educação e status de deficiência, pela estimativa do 2SLS, o efeito veterano ainda é negativo. Segundo os autores, a atenuação nas estimativas do 2SLS também podem refletir o fato de que os níveis de educação estavam aumentando para as gerações sucessivas de homens nesta época. Assim como os efeitos das leis de frequência compulsória, isso também levaria os indivíduos nascidos no início do ano, com maior probabilidade de serem veteranos, a terem menos educação e, portanto, ganharem menos.
Estimativas baseadas nos três censos (1960, 1970, 1980), que seguem a mesma coorte de homens ao longo do tempo, mostram pela estimativa OLS que o salário dos veteranos reduz à medida que a coorte envelhece. Por exemplo, quando controla-se apenas por ano de nascimento, veteranos ganham 31% a mais que não veteranos em 1960, 26% a mais em 1970 e 22% a mais em 1980. Para os autores, isso ocorre porque a seleção para serviços militares ocorreu na década de 1940, e as características em que a seleção foi baseada podem ter se diluído com o tempo. Por exemplo, alguns indivíduos que foram excluídos do serviço por causa de uma deficiência física aos 18 anos, podem ter se recuperado pelo menos parcialmente da deficiência com o passar dos anos.
Outras estimativas, através do modelo 2SLS, demonstram que o salário do veterano é mais negativa no censo de 1980 do que nos censos de 1960 e 1970. A explicação para este resultado, segundo os autores, é a correlação da idade entre o trimestre de nascimento e os rendimentos. Entre 1960 e 1970, as coortes examinadas tinham entre 31-45 anos, ou seja, estaria na porção inclinada para cima do perfil transversal de rendimentos por idade. Por outro lado, em 1980, este grupo de homens atingiu 50 anos ou mais, portanto, estariam no auge ou em queda da parte inclinada desse perfil transversal de rendimento por idade. Isto é baseado na estimativa de Mincer (1974) que define que os ganhos atingem o pico aos 52 anos para quem tem ensino médio e aos 56 anos para os indivíduos graduados. Ou seja, em 1960 e 1970 esperaca-se que homens nascidos no início do ano ganhem mais do que os homens nascidos no final do ano, enquanto em 1980 era esperado o oposto.
Através das estimações, utilizando controles robustos de endogeneidades, os autores concluíram de que os veteranos da II Guerra Mundial não ganham mais do que os não-veteranos comparáveis, podendo muito bem ganhar menos. Demonstrando que o serviço militar, de fato, pode ter reduzido os ganhos dos veteranos da Segunda Guerra Mundial em relação ao que teriam sido de outra forma.
Referências
Cooper, V. L. Military Manpower and the All-Volunteer Force. Report R-1450-ARPA. Santa Monica, CA:RAND Corp., 1977.
Mincer, Jacob. Schooling, Experience and Earnings. New York: National Bureau of Economic Research, 1974.
[1] Cada elemento pode ser numerado usando pedaços de papel separados e colocado em um recipiente. Após embaralhar, cada pedaço é escolhido aleatoriamente um por um.
[2], j = (1926, 1927, 1928)
[3] , j = (1926, 1927, 1928)